pro(e)scrito
01 março 2013
A CAMINHO DOS EUA
Primeiro livro a caminho dos EUA encomendado a partir de www.carlosmachadobooks.wix.com/bookontheway.
Clique sobre as capas dos livros na coluna da esquerda e veja os descontos. Aproveite, os portes vão aumentar a partir de 1 de Abril.
26 fevereiro 2013
VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA
- As previsões de Gaspar: Quando tanto se apregoa a meritocracia, é de arrepiar que um Ministro das Finanças e um Primeiro-Ministro mais se mantenham colados aos lugares quanto maiores são os falhanços das suas acções. Antes de se lhes exigir a vergonha que os leve a demissão, exige-se a humildade que os conduza à mudança de actuação.
- Grândola Vila Morena: As vaias e protestos contra os membros do governo são orquestrados? São. E onde está o mal? Apenas se ultrapassarem os limites da legalidade. E mesmo esses, é caso para serem discutidos. Se o golpe do 1º de Dezembro de 1640 não tem triunfado, possivelmente hoje estaríamos a aprender, em castelhano, que um "bando de criminosos e arruaceiros se tinha rebelado contra o rei".
- "...da Câmara" ou "...de Câmara": Marcelo Rebelo de Sousa explicou que o erro detectado na lei dos mandatos autárquicos, "de" ou "da", dá igual. Se MRB tem ou não razão não importa. O que interessa nesta história toda é a praxis corrente: põe-se a circular uma (hipotética) verdade jurídica, quase não sendo preciso transitar em julgado para se ditar a sentença, e depois se os tribunais decidem em contrário (aos interesses que puseram a "verdade a circular") é porque, aqui-d'el rei, a justiça não funciona.
- Eleições em Itália: Em Iália os eleitores protestaram nas urnas: votando em Grillo, comediante de profissão, e relegando Monti para último lugar com menos de 10% dos votos.
- Livro da semana: "O Número dos Vivos", de Hélia Correia.
- Grândola Vila Morena: As vaias e protestos contra os membros do governo são orquestrados? São. E onde está o mal? Apenas se ultrapassarem os limites da legalidade. E mesmo esses, é caso para serem discutidos. Se o golpe do 1º de Dezembro de 1640 não tem triunfado, possivelmente hoje estaríamos a aprender, em castelhano, que um "bando de criminosos e arruaceiros se tinha rebelado contra o rei".
- "...da Câmara" ou "...de Câmara": Marcelo Rebelo de Sousa explicou que o erro detectado na lei dos mandatos autárquicos, "de" ou "da", dá igual. Se MRB tem ou não razão não importa. O que interessa nesta história toda é a praxis corrente: põe-se a circular uma (hipotética) verdade jurídica, quase não sendo preciso transitar em julgado para se ditar a sentença, e depois se os tribunais decidem em contrário (aos interesses que puseram a "verdade a circular") é porque, aqui-d'el rei, a justiça não funciona.
- Eleições em Itália: Em Iália os eleitores protestaram nas urnas: votando em Grillo, comediante de profissão, e relegando Monti para último lugar com menos de 10% dos votos.
- Livro da semana: "O Número dos Vivos", de Hélia Correia.
19 fevereiro 2013
VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA
- Tomar no cu: dito pelo secretário de estado da Cultura, Francisco José Viegas. Não há engano, é secretário que se quis dizer, porque o valor da frase está no facto de FJV saber que tal desabafo só teria impacto que teve por, acarinhado por Passos Coelho, ter desempenhado o cargo. FJV excedeu-se, foi mesmo boçal, mas traduziu tudo aquilo que a esmagadora maioria dos portugueses sente; mostrou uma dura realidade: a falta de respeito pelas instituições, pelas leis, pela autoridade e o apelo a uma desobediência civil. Tudo isto aliado ao desemprego, a uma economia moribunda, ao confisco fiscal, chama-se desagregação do Estado. Inadvertidamente, ou talvez não, FJV trouxe à toa a gravidade da situação que vivemos.
- Fecho das agências bancárias: são centenas de agências que fecham em Portugal, lançando no desemprego também centenas, ou talvez milhares de trabalhadores. Provavelmente nunca fizeram verdadeiramente falta, provavelmente os bancos viveram acima das suas possibilidades e agora têm de ser ajudados a emagrecer, a reestruturar-se. E os portugueses, que são tratados por este governo como carne para canhão, percebem que são eles que estão a ajudar os bancos e os banqueiros.
- Pedir factura: a Autoridade Tributária coloca à disposição uma página no seu sítio de internet na qual o cidadão pode introduzir os dados das facturas de restauração, cabeleireiros, oficinas, para colher mais tarde com comodidade o benefício fiscal colossal de 250 €. O fisco, fica a saber, quase de imediato, exactamente onde almocei, onde jantei, onde reparei o automóvel ou se fui a um cabeleireiro alternativo. O Big Brother deixou de ser uma metáfora para ser uma realidade. Se não está em causa o dever fiscal de passar factura e o dever cívico de a pedir, está em causa o policiamento que é feito - e o que se pode vir a fazer - sobre os cidadãos, tudo apelativamente justificado com o cuidado que o fisco tem com o bem-estar dos cidadãos. Será que alguém já possuidor do Cartão de Cidadão experimentou algum beneficio que não fosse o diminuir o enchumaço na carteira?
- Livro da semana: "Os Imortais de Agápia", de C. Virgil Gheorghiu. Já aqui foi recomendado, mas convém voltar a fazê-lo. A descrição das relações laborais e de servidão e muito especialmente as relações do homem com a sua ferramenta de trabalho, ou seja, com o trabalho ele próprio. Para meditar, que retirar a um homem a possibilidade de trabalhar é retirar-lhe parte do seu ser.
- Fecho das agências bancárias: são centenas de agências que fecham em Portugal, lançando no desemprego também centenas, ou talvez milhares de trabalhadores. Provavelmente nunca fizeram verdadeiramente falta, provavelmente os bancos viveram acima das suas possibilidades e agora têm de ser ajudados a emagrecer, a reestruturar-se. E os portugueses, que são tratados por este governo como carne para canhão, percebem que são eles que estão a ajudar os bancos e os banqueiros.
- Pedir factura: a Autoridade Tributária coloca à disposição uma página no seu sítio de internet na qual o cidadão pode introduzir os dados das facturas de restauração, cabeleireiros, oficinas, para colher mais tarde com comodidade o benefício fiscal colossal de 250 €. O fisco, fica a saber, quase de imediato, exactamente onde almocei, onde jantei, onde reparei o automóvel ou se fui a um cabeleireiro alternativo. O Big Brother deixou de ser uma metáfora para ser uma realidade. Se não está em causa o dever fiscal de passar factura e o dever cívico de a pedir, está em causa o policiamento que é feito - e o que se pode vir a fazer - sobre os cidadãos, tudo apelativamente justificado com o cuidado que o fisco tem com o bem-estar dos cidadãos. Será que alguém já possuidor do Cartão de Cidadão experimentou algum beneficio que não fosse o diminuir o enchumaço na carteira?
- Livro da semana: "Os Imortais de Agápia", de C. Virgil Gheorghiu. Já aqui foi recomendado, mas convém voltar a fazê-lo. A descrição das relações laborais e de servidão e muito especialmente as relações do homem com a sua ferramenta de trabalho, ou seja, com o trabalho ele próprio. Para meditar, que retirar a um homem a possibilidade de trabalhar é retirar-lhe parte do seu ser.
18 fevereiro 2013
Submissão, Amy Waldman
Amy Waldman, jornalista do New York Times, estreou-se na ficção, em 2011, com o romance "Submissão". Convém realçar de início que é primeiro romance de uma jornalista experiente, pois se o tema abordado e as questões que se colocam ao longo da narrativa poderiam ter sido escritos por qualquer autor atento, a acuidade e certeza de bisturi com que são tratados denotam grande parte fruto de automatismos da profissão de repórter na busca do pormenor, da contradição que levam à "verdade" do que se relata.
O ponto de partida da narrativa é a submissão a concurso de projectos de arquitectura para erigir, em Nova Yorque, um memorial às vítimas das Torres Gémeas no atentado de 11 de Setembro. Facto banal que nada tem de transcendente até ao momento em que é conhecido, entre os membros do júri, o provável vencedor, Mohamed Khan, norte-americano de nascença, muçulmano por inércia. Daqui se desenrola toda a trama que aborda algumas consequências morais, éticas, políticas e sociais do acto terrorista. E Amy Waldman escolhe uma galeria de estereotipadas figuras de cidadãos americanos (muito centrada em Nova York, que são uns americanos especiais), desde os que integram movimentos de direita anti-imigrantes, islamitas paquistaneses, jornalistas, mulheres libertárias, e mulheres conservadoras, todos partindo das suas convicções originais muito firmes e que as vão colocando em confronto e em causa ao longo da história. As duas figuras que desde de início não têm certezas, e que "caminham" em sentido de contrário de todos os outros, são o arquitecto Mohamed Khan e um membro do júri "representante" das famílias das vítimas, Claire Burwell, viúva de uma das vítimas. Estas duas figuras centrais não acabam por transformarem as suas dúvidas em certezas, mas têm mais certeza quanto a uma pacificação interior das suas vidas. Talvez o que seja necessário à América.
História muito interessante e bem "armadilhada", escrita num estilo de pré-guião cinematográfico (estilo em voga nos EUA de há alguns anos a esta parte), tem o condão de prender o leitor ao longo de quase todo o livro, enfraquecendo nitidamente no seu término, parte em que Amy Waldman perde/abandona o foco de jornalista e dá a sensação de cair na tentação de moralizar sem denotadamente o querer fazer.
O ponto de partida da narrativa é a submissão a concurso de projectos de arquitectura para erigir, em Nova Yorque, um memorial às vítimas das Torres Gémeas no atentado de 11 de Setembro. Facto banal que nada tem de transcendente até ao momento em que é conhecido, entre os membros do júri, o provável vencedor, Mohamed Khan, norte-americano de nascença, muçulmano por inércia. Daqui se desenrola toda a trama que aborda algumas consequências morais, éticas, políticas e sociais do acto terrorista. E Amy Waldman escolhe uma galeria de estereotipadas figuras de cidadãos americanos (muito centrada em Nova York, que são uns americanos especiais), desde os que integram movimentos de direita anti-imigrantes, islamitas paquistaneses, jornalistas, mulheres libertárias, e mulheres conservadoras, todos partindo das suas convicções originais muito firmes e que as vão colocando em confronto e em causa ao longo da história. As duas figuras que desde de início não têm certezas, e que "caminham" em sentido de contrário de todos os outros, são o arquitecto Mohamed Khan e um membro do júri "representante" das famílias das vítimas, Claire Burwell, viúva de uma das vítimas. Estas duas figuras centrais não acabam por transformarem as suas dúvidas em certezas, mas têm mais certeza quanto a uma pacificação interior das suas vidas. Talvez o que seja necessário à América.
História muito interessante e bem "armadilhada", escrita num estilo de pré-guião cinematográfico (estilo em voga nos EUA de há alguns anos a esta parte), tem o condão de prender o leitor ao longo de quase todo o livro, enfraquecendo nitidamente no seu término, parte em que Amy Waldman perde/abandona o foco de jornalista e dá a sensação de cair na tentação de moralizar sem denotadamente o querer fazer.
10 fevereiro 2013
AVENTURAS NA NET
Os meus amigos tecnológicos afirmam tenho de aparecer em mais canais do espaço virtual; incitam-me com exemplos de grandes sucessos (não referem os fracassos). Por curiosidade, para ver como funcionam as coisas, criei um site. Vejam se vos interessa:
http://carlosmachadobooks.wix.com/bookontheway
05 fevereiro 2013
VISAO DA ACTUALIDADE DA SEMANA
- Guerra meio-fechada no PS: O estado de "guerra" pela liderança no PS durou duas semanas e não chegou verdadeiramente a declarar-se. Mas se não se abriu, também não se fechou totalmente, porque:
- António José Seguro eventualmente não terá cedido à oposição interna;
- António Costa eventualmente não terá desistido de ser candidato a Secretário-Geral;
- o Partido Socialista não é ainda eventualmente um partido preparado para governar.
E face ao último porquê, a guerra pode estalar a qualquer momento.
- Franquelim I: Viveu no séc. XVIII um Franklin que se celebrizou, entre outras coisas, por, em dias de tempestade, lançar papagaios para atrair raios e coriscos. Não se tratava de actividade lúdica, mas de experiência para inventar o pára-raios. E se tal elemento está inventado e melhorado, não havia necessidade de se escolher outro Franquelim para Secretário de Estado a atrair faíscas sobre o próprio e sobre o Primeiro-Ministro. O gestor não esta indiciado por nenhum crime, pode portanto ser secretario de Estado. Só que, tendo sido, em época conturbada", administrador do BPN, caso que está longe de estar totalmente desvendado, seria de bom-tom, já para não falar de ética, que se evitasse que durante um "período de nojo" houvesse algum recato em chamar a funções públicas elementos envolvidos na gestão da SLN/BPN. E Passos Coelho, Franquelim Alves e Santos Pereira estavam disso cientes. Não queiram convencer os portugueses que o inicial apagamento do currículo da passagem de Franquelim Alves pelo BPN foi inocente.
- Franquelim II: O Ministro Álvaro Santos Pereira afirmou-se como o responsável pela escolha de Franquelim Alves e designou de baixa política todas as atoardas, no dizer do ministro, que se levantaram sobre essa a nomeação do Secretário de Estado. O senhor Ministro não fará baixa política, faz fraca, medíocre política, porque tanto quanto se saiba o que foi dito não foge à verdade, e o senhor ministro, talvez a mando do senhor Primeiro-Ministro, não fez a escolha política acertada.
- Frase da semana: "O que referem sobre mim e sobre os meus companheiros, não está correcto. A não ser alguma coisa, que é o que referem alguns meios de comunicação social". Mariano Rajoy, Primeiro-Ministro espanhol, sobre o caso de recebimentos indevidos. Não é a frase da semana, é a frase do ano. A frase, que abala mercados, bolsas, dívidas soberanas de Espanha e de outros países, é lapidar, pois o PM espanhol consegue candidamente afirmar o que é e o seu contrário. Deveria constituir cábula para todos os políticos metidos em trapalhadas, embrulhadas e opacidades.
- Livro da semana: "Diálogos", de Platão. E um,entre muitos, a merecer leitura e reflexão: "A República".
- António José Seguro eventualmente não terá cedido à oposição interna;
- António Costa eventualmente não terá desistido de ser candidato a Secretário-Geral;
- o Partido Socialista não é ainda eventualmente um partido preparado para governar.
E face ao último porquê, a guerra pode estalar a qualquer momento.
- Franquelim I: Viveu no séc. XVIII um Franklin que se celebrizou, entre outras coisas, por, em dias de tempestade, lançar papagaios para atrair raios e coriscos. Não se tratava de actividade lúdica, mas de experiência para inventar o pára-raios. E se tal elemento está inventado e melhorado, não havia necessidade de se escolher outro Franquelim para Secretário de Estado a atrair faíscas sobre o próprio e sobre o Primeiro-Ministro. O gestor não esta indiciado por nenhum crime, pode portanto ser secretario de Estado. Só que, tendo sido, em época conturbada", administrador do BPN, caso que está longe de estar totalmente desvendado, seria de bom-tom, já para não falar de ética, que se evitasse que durante um "período de nojo" houvesse algum recato em chamar a funções públicas elementos envolvidos na gestão da SLN/BPN. E Passos Coelho, Franquelim Alves e Santos Pereira estavam disso cientes. Não queiram convencer os portugueses que o inicial apagamento do currículo da passagem de Franquelim Alves pelo BPN foi inocente.
- Franquelim II: O Ministro Álvaro Santos Pereira afirmou-se como o responsável pela escolha de Franquelim Alves e designou de baixa política todas as atoardas, no dizer do ministro, que se levantaram sobre essa a nomeação do Secretário de Estado. O senhor Ministro não fará baixa política, faz fraca, medíocre política, porque tanto quanto se saiba o que foi dito não foge à verdade, e o senhor ministro, talvez a mando do senhor Primeiro-Ministro, não fez a escolha política acertada.
- Frase da semana: "O que referem sobre mim e sobre os meus companheiros, não está correcto. A não ser alguma coisa, que é o que referem alguns meios de comunicação social". Mariano Rajoy, Primeiro-Ministro espanhol, sobre o caso de recebimentos indevidos. Não é a frase da semana, é a frase do ano. A frase, que abala mercados, bolsas, dívidas soberanas de Espanha e de outros países, é lapidar, pois o PM espanhol consegue candidamente afirmar o que é e o seu contrário. Deveria constituir cábula para todos os políticos metidos em trapalhadas, embrulhadas e opacidades.
- Livro da semana: "Diálogos", de Platão. E um,entre muitos, a merecer leitura e reflexão: "A República".
01 fevereiro 2013
DE QUE LADO ESTÁ O VENTO?
A falta de comparência a jogo de António Costa não se transforma numa vitória de António José Seguro, mas numa vitória de Pedro Passos Coelho. O Presidente da Câmara de Lisboa neste seu faz-de-conta-que-vai-mas-não-vai, deu a entender que não era a altura certa de afrontar Seguro, porque não existe a certeza de uma retumbante reviravolta em eleições legislativas, antecipadas ou não.
Passos Coelho é impreparado, é; Vítor Gaspar é ideologicamente alienado, é; Paulo Portas, é cristamente conciliador entre antigas posições do CDS-PP e novas necessidade do seu partido, é; Cavaco Silva é constitucionalmente ausente, é. Tudo isto, é, mas o PS não descola e quanto mais correr o tempo mais difícil se torna a descolagem. E precisamente o que faz com que não exista vaga de fundo no país em volta do PS é a oposição cinzentona do actual Secretário-Geral do Partido Socialista. É caricato, mas o que mantém António José Seguro na liderança do PS não é o ser um lídere da oposição forte, mas o facto de com a sua actuação queimar todos as vontades de lhe disputarem o lugar.
Contudo, António Costa pode ter jogado um trunfo, não ainda para ganhar, mas para destrunfar. É rebuscado, contudo pode ser assim: se se apresentasse como candidato-"surpresa" na reunião da passada terça-feira, seria apenas uma manifestação de desejo de poder, o que poderia cair mal nas hostes partidárias; depois de afirmar que tomará outra atitude se Seguro não unir o partido, o que ninguém sabe exactamente o que significa (colocação de pedras da oposição interna em lugares-chave?), poderá lançar o ónus sobre o actual Secretário-Geral.
Deste caso fica para estudo e para os manuais da Política e da Sociologia que numa ocasião em que a esmagadora maioria de um povo está contra um governo, em que pela primeira vez nos últimos quarenta anos "somos nós contra eles", não sobressaia uma força agregadora de toda esta vontade de mudança.
Passos Coelho é impreparado, é; Vítor Gaspar é ideologicamente alienado, é; Paulo Portas, é cristamente conciliador entre antigas posições do CDS-PP e novas necessidade do seu partido, é; Cavaco Silva é constitucionalmente ausente, é. Tudo isto, é, mas o PS não descola e quanto mais correr o tempo mais difícil se torna a descolagem. E precisamente o que faz com que não exista vaga de fundo no país em volta do PS é a oposição cinzentona do actual Secretário-Geral do Partido Socialista. É caricato, mas o que mantém António José Seguro na liderança do PS não é o ser um lídere da oposição forte, mas o facto de com a sua actuação queimar todos as vontades de lhe disputarem o lugar.
Contudo, António Costa pode ter jogado um trunfo, não ainda para ganhar, mas para destrunfar. É rebuscado, contudo pode ser assim: se se apresentasse como candidato-"surpresa" na reunião da passada terça-feira, seria apenas uma manifestação de desejo de poder, o que poderia cair mal nas hostes partidárias; depois de afirmar que tomará outra atitude se Seguro não unir o partido, o que ninguém sabe exactamente o que significa (colocação de pedras da oposição interna em lugares-chave?), poderá lançar o ónus sobre o actual Secretário-Geral.
Deste caso fica para estudo e para os manuais da Política e da Sociologia que numa ocasião em que a esmagadora maioria de um povo está contra um governo, em que pela primeira vez nos últimos quarenta anos "somos nós contra eles", não sobressaia uma força agregadora de toda esta vontade de mudança.
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