- Greve Geral - Antes, durante e principalmente depois, declarou-se não se saber para que servia a greve geral. A greve serviu sobretudo ao governo para avaliar a pulsão social e grau de contestação às políticas implementadas e a implementar. E o governo tem razões de sobra para estar satisfeito porque quanto mais pessoas fizerem greve enquadradas pelas moderadas centrais sindicais portuguesas, mais está a salvo de uma eventual contestação social destrutiva, como a da Grécia.
Tomara o governo que, até ao fim da legislatura, as greves tivessem uma elevada adesão e os grevistas se manifestassem num clima ordeiro como no passado dia 24 de Novembro. O governo deveria decretar como obrigatória a realização de uma greve sempre que haja novas medidas de penalização dos portugueses.
- Merkel e Sarkozy - Esta foi a semana do primeiro arrufo público entre os chefes máximos da Alemanha e da França. Do condenados a viverem juntos para sempre, passaram ao vamos ver quem cai primeiro. E os europeus, numa espécie de deleite suicida, aguardam a queda das duas potências (?) para dizerem: é bem feito. E era bem feito, se não fosse tão mal feito.
- O outono árabe - Embandeirou o Ocidente em arco com as primaveras árabes no Egipto, Líbia, Tunísia, e continua a esperar com ansiedade pela Síria, Iemen e sobretudo pela Arábia Saudita. Sabe-se, no entanto, que a qualquer primavera se sucedem outras estações, cada uma com os seus encantos próprios, mas também com as suas agruras, e que as mais rigorosas são o outono e o inverno.
No Egipto, o outono está a chegar. E com este outono, como vê o Ocidente daqui para a frente a implementação da democracia neste e noutros países muçulmanos? A minha resposta é: não sabe.
O Ocidente habituou-se a exportar bens e serviços, ideologias e religiões, para zonas do mundo diferentes da sua numa tentativa de homogeneizar o Globo à sua imagem e semelhança. Chineses, indianos, angolanos, brasileiros já estão a exportar os seus bens e serviços para o Ocidente e a comprarem o seu tecido produtivo. E se eles caem na tentação de exportar as suas ideologias e religiões? Vai o Ocidente dizer que está ameaçado?
- Frase da semana: "o grau de adesão à greve na Administração Central às 11:00 é de 3,6%". O senhor Ministro Miguel Relvas deve ter-se encadeado com a sua grande capacidade de fazer sit-down (fez as declarações sentado) comedy e levou ao extremo uma rábula levada à cena por outros governos. Desta vez a preformance foi exímia.
- Livro da semana - "Figuras, Figurantes e Figurões", de Luiz Pacheco, recomendado a uns quantos personagens que por aí andam. Vocês sabem o que eu quero dizer, parafraseando o comentador futebolístico Octávio Machado.
29 novembro 2011
27 novembro 2011
Two rooms with view(s), Dois espaços com vistas.
Duas exposições de pintura (de arte) no mesmo dia. Duas experiências sensoriais completamente distintas. A primeira, A Perspectiva das Coisas. A Natureza-Morta na Europa, na Gulbenkian, num ambiente recatado, luz ambiente calma com os focos a realçarem os quadros, a dizer que estamos num museu; na segunda, ARTE LISBOA, na FIL, onde as peças tomam realce contra o fundo branco das paredes, numa atmosfera asséptica, vigorosa, de (a) ferir a vista, em pavilhões de galerias de arte destinadas ao comércio.
A realização destas duas exposições tem fins completamente distintos e os artistas que pontuam em cada uma delas são de gabaritos distintos. Não são pois comparáveis. No entanto, foram duas experiências sensoriais completamente distintas que se confrontaram e complementaram devido à proximidade temporal em que foram efectuadas as visitas (para quem estiver interessado em fazer a mesma experiência só tem o dia 27 de Novembro, porque a ARTE LISBOA encerra neste dia).
As naturezas-mortas tradicionais começam por ser cópias fiéis de peças de caça, frutos, facas, flores sobre toalhas, para evoluírem com, e através do expressionismo, impressionismo, cubismo, surrealismo...até regressarmos ao princípio, do outro lado da cidade, com o hiper-realismo que é o cunho de uma corrente da Arte Contemporâneo com alguns exemplares na ARTE LISBOA. Não há (não vi) quaisquer comestíveis nas peças de Arte Contemporânea, mas estão reproduzidos os consumíveis - automóveis polidos a reflectirem prédios espelhados, mobiliário urbano, estradas -, existem peças executadas com filtros de cigarros fumados (beatas).
Em qualquer das exibições, faltou-me a muleta do conhecimento e dei mais uma vez conta de que a arte tem de ser ensinada e explicada, para nos deixarmos do eu não percebo, gosto, ou não gosto, que nos escuda numa ignorância preguiçosa e que nos impede de fruirmos a arte.
Quando se visita um museu numa capital europeia, encontram-se grupos de miúdos deitados pelo chão a copiarem quadros e a tirarem apontamentos, a cochicharem ou a falarem num tom de voz que dá conta de que andam pardais à solta (o que não considero condenável). No tempo em que visitei qualquer das exposições não vi ninguém a ensinar arte às crianças. Não havia crianças.
Em Portugal, o dinheiro do Orçamento de Estado para a Cultura, e nomeadamente para a Arte, é sempre visto (porventura com razão) sementeira deitada à terra sem retorno. Esta visão está muito implantada porque a produção artística não desenvolve consumidores que a paguem sem recurso a subsídios. Pudera, não existe formação, desde as mais tenras idades, de consumidores.
A realização destas duas exposições tem fins completamente distintos e os artistas que pontuam em cada uma delas são de gabaritos distintos. Não são pois comparáveis. No entanto, foram duas experiências sensoriais completamente distintas que se confrontaram e complementaram devido à proximidade temporal em que foram efectuadas as visitas (para quem estiver interessado em fazer a mesma experiência só tem o dia 27 de Novembro, porque a ARTE LISBOA encerra neste dia).
As naturezas-mortas tradicionais começam por ser cópias fiéis de peças de caça, frutos, facas, flores sobre toalhas, para evoluírem com, e através do expressionismo, impressionismo, cubismo, surrealismo...até regressarmos ao princípio, do outro lado da cidade, com o hiper-realismo que é o cunho de uma corrente da Arte Contemporâneo com alguns exemplares na ARTE LISBOA. Não há (não vi) quaisquer comestíveis nas peças de Arte Contemporânea, mas estão reproduzidos os consumíveis - automóveis polidos a reflectirem prédios espelhados, mobiliário urbano, estradas -, existem peças executadas com filtros de cigarros fumados (beatas).
Em qualquer das exibições, faltou-me a muleta do conhecimento e dei mais uma vez conta de que a arte tem de ser ensinada e explicada, para nos deixarmos do eu não percebo, gosto, ou não gosto, que nos escuda numa ignorância preguiçosa e que nos impede de fruirmos a arte.
Quando se visita um museu numa capital europeia, encontram-se grupos de miúdos deitados pelo chão a copiarem quadros e a tirarem apontamentos, a cochicharem ou a falarem num tom de voz que dá conta de que andam pardais à solta (o que não considero condenável). No tempo em que visitei qualquer das exposições não vi ninguém a ensinar arte às crianças. Não havia crianças.
Em Portugal, o dinheiro do Orçamento de Estado para a Cultura, e nomeadamente para a Arte, é sempre visto (porventura com razão) sementeira deitada à terra sem retorno. Esta visão está muito implantada porque a produção artística não desenvolve consumidores que a paguem sem recurso a subsídios. Pudera, não existe formação, desde as mais tenras idades, de consumidores.
Subscrever:
Mensagens (Atom)