13 fevereiro 2011

"As dez figuras negras", de Agatha Christie

Uma amiga minha colocou ontem no seu blogue Refúgio dos livros (http://refugio-dos-livros.blogspot.com/) uma opinião sobre "Um Crime no Expresso Oriente",de Agatha Christie e diz que se prepara para ler "As dez figuras negras", o qual, para mim, sem ter lido toda a sua obra se trata do seu melhor livro.
Ao longo da sua carreira literária, Agatha Christie explorou, com inegável êxito, uma fórmula de sucesso que se baseia:
1 - ter um personagem com dotes e apetências especiais para desvendar mistérios (mais mistérios, do que crimes)- Poirot e Miss Marple;
2 - ter, a par do investigador principal, um "acompanhante" (sempre menos dotado) que o confronta intelectualmente para que nos diálogos aquele possa expor as suas teorias;
3 - Concentrar os presumíveis culpados num universo restrito do qual não podem "escapar" acabando, por vezes, no cliché de todos reunidos numa sala onde na cena final o investigador leva a asistência (leitores e outros personagens da história a descobrirem o culpado, porquanto ele investigador já estava na posse (e leitor também deveria estar) das provas irrefutáveis da culpa.

Agatha Christie não escreveu grandes romances (policiais, não gosto do termo), mas o que fez, fez bem feito. Criou duas personagens que lhe permitiram exteriorizar toda a sua imaginação (que para escrever cerca de 85 livros, seria bastante fértil), uma, julgo eu, o seu émulo,Miss Marple, outra a sua antítese,Hercule Poirot.

No entanto, o livro que mais aprecio é "As dez figuras negras" ("The ten little niggers", título original que, já então, 1940, passou a "And then they were no more",devido a polémicas racistas, no qual a autora deixa os "criminosos" num espaço concentacionário, uma ilha, e desporovidos de "protecção", os nossos habituais investigadores. Aqui o desvendar do mistério está totalmente entregue nas mãos (mente) do leitor e para o qual não há um contra-ponto para em racicínios lógicos ir excluindo hipóteses aproxiando-se da verdade final.
Muito se tem escrito sobre a caracterização e descrição psicológica das personagens de A.Christie, quer dos "detectives", quer dos outros, na qual se baseia muitas vezes a motivação dos crimes e a resolução dos mesmos. Uma das razões pela qual considero "As dez figuras negras" o melhor livro de A. Christie é por ser aquele em que a psicologia (do caso) e das personagens me parece a mais conseguida (até por se libertar da caracterização de Poirot e Miss Marple, que julgo intencionalmente mais caricaturadas do que caracteizadas).
Com um golpe-de-asa, que não vislumro por que não aconteceu, A. Christie passou ao lado de um excelente romance, caindo ela prórpria no impasse final de "não saber" como desvendar o mitério, fazendo-o de um modo que não lhe é habitual.
No blogue da minha amiga escrevi em comentário que Agatha Christie é a Enyd Blyton (a dos livros dos 5) dos mais crescidos, o que tem como significado: sem dúvida a ler, para passar a voos mais altos).
A ASA teve a iniciativa, já há algum tempo, de reeditar as obras de Agatha Chritie, agrupando-as por Séries - Poirot, Miss Marple, Outros.

Hoje está a chover, se tiver à mão "O Assassinato de Roger Ackroyd", "Um corpo na Biblioteca", ou até a série Poirot que passa diariamente na RTP Memória, aproveite, que não é tempo desperdiçado.

Voltarei aos livros "policiais" com o meu preferido da galeria dos mais conhecidos.

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