25 julho 2011

Será correcto dizer "acalmar os mercados"?

Umberto Eco, o mais famoso semiologista da actualidade, poder-nos-ia dar uma ajuda na compreensão da crise financeira mundial, já que a semiologia é a ciência que se debruça sobre o modo de produção, funcionamento e recepção dos sinais de comunicação entre indivíduos e colectividades. Poder-nos-ia (e sobretudo aos governantes) ajudar a analisar a expressão tão em voga de acalmar os mercados.

As medidas financeiras e nomeadamente as de austeridade destinam-se antes a acalmar diversos países, instituições políticas e todos nós, na expectativa de inquietar os mercados. É verdade, não há engano, inquietar os mercados. Porque se existem organismos que neste momento atravessam um período de calma são precisamente os mercados, pois estão a ganhar biliões. Alguém, alguma vez se sentiu nervoso quando está a ganhar rios de dinheiro? Poderá não estar calmo, mas não é de medo que se queixará, é de euforia.
Em períodos de acalmia (que significa pouca variação nas cotações) um mercado comporta-se como um tigre à espera de saltar sobre a presa: imóvel, silencioso, calmo.

Os países da "esfera ocidental", estão a tomar as mais irracionais das medidas para conterem a euforia dos mercados, assemelhando-se ao sacrifício feito ao Minotauro que na Antiga Grécia (ele há coincidências!)todos os anos devorava catorze jovens (sete da cada género) que lhe eram entregues por uma tribo. O monstro era insaciável e estava descansado porque a tal tribo não mudava de paradigma (até um dia). Os gregos para o acalmar, todos os anos cometiam o mesmo erro.

Deveria, pois, ser abandonada a expressão acalmar os mercados, porque conforme ensina a semiologia os vícios de linguagem podem induzir a raciocínios errados.

E deveríamos, todos e cada um de nós, tomar consciência de que os únicos a terem já a certeza que depois desta crise financeira, um dia haverá uma outra, são os mercados. Então, com as nossas aflições eles voltarão à calma (eufórica).

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