17 maio 2012

CRÓNICAS DE PARIS I

Os professores são quem nos ensina e transmite informação; os mestres são aqueles que nos transportam para o seu mundo de conhecimentos e emoções. Tive Mario Dionisio como mestre de francês no ensino liceal. Muita dor de barriga quando me questionava ou a cada prova que me submetia. Dele aprendi o francês - intranscendente até na pronúncia - e dele recebi o encantamento e a paixão por Paris e pela cultura francófona. As cólicas de prestação de provas deram frutos mais tarde na vida profissional, já que me tornara fluente em francês em qualquer dos campos a assinalar num CV - conversação, escrita e leitura - e levaram-me a aceitar colocação em Marrocos onde pratiquei a língua durante mais dois anos.
Regressado de recente viagem a Paris dei-me agora conta de que não sei dizer deux.
Deux bières,
e a madame, o que vai tomar?
perguntavam;
deux cafés,
e quando vinha na bandeja a chávena singular,
para a madame ou para o monsieur?
Recorrentemente tive formular novo pedido de deux acompanhado de gesto de dois dedos erguidos, indicador e médio (confesso que a certa altura me apeteceu mostrar outros dedos); e suprema vergonha, quando me questionavam em jeito de confirmação, two?. Até que ao comprar bilhete de comboio para Bruxelas apareci à minha mulher ufano com dois títulos de transporte. Feita a conferência de linhas, carruagem e lugares, ZÁS: bilhetes para uma pessoa, ida e volta. A minha mulher desabafou: a partir de agora vou sempre contigo, não que não tenha confiança em ti, mas se nos virem juntos pode ser que percebam que são dois.
Não me recordo de qualquer repreensão do mestre àcerca da má pronunciação de deux, ou será que em três anos da disciplina de francês, nunca passei pelo, agora, fatídico numeral?

Sem comentários:

Enviar um comentário