24 janeiro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- A reforma do Prof. Cavaco Silva não lhe dá para as despesas: Já tudo foi dito sobre o assunto, incluindo um esclarecimento do próprio, mas registe-se a particularidade de a declaração suicida não ter sido dita através do Facebook. É a prova de que o Prof. Cavaco Silva não é apenas virtual e que quando se materializa é do pior que há.

- O pacote laboral: custa a entender a posição da UGT ao concordar com os novos princípios que irão presidir à regulamentação do mercado de trabalho. E custa a entender porque o seu secretário-geral, que se desdobrou em entrevistas e conferências de imprensa, ainda não a conseguiu explicar (porventura, o defeito será de incapacidade de compreensão grande parte dos portugueses). Ao cabo destes dias, o Engº João Proença já terá notado que as associações patronais não precisaram de tanto tempo de antena para explicar o que tinham conseguido.

- A KODAK faliu: esta empresa fazia parte de muitos case study em MBA e Cursos de Gestão. Pode pensar-se que foi a actual crise que a levou à falência. Não foi. Há muito que a empresa estava em agonia com o advento das novas tecnologias do audio-visual e nem os sucessivos CEO e conselhos de administração foram capazes de a salvar. Não foi devido à falta de flexibilidade da lei laboral norte-americana, não foi devido ao custo do trabalho, não foi devido ao número de feriados. Então que raio é que foi?

- Frase da semana: "Estava a coordenar as acções de salvamento quando, de repente, caí para um bote salva-vidas", mais ou menos isto, dito pelo comandante do navio que adornou ao largo da costa italiana. Mais ou menos o que se passa com certos políticos, estavam ali e de repente dão com eles em Primeiro-Ministro, em Presidente da Comissão europeia, em administradores de grandes empresas.

- Livro da semana Os Elefantes de Aníbal, de Hans Baumann, livro juvenil, excelente descrição da viagem de Cartago até Roma do exército de Aníbal Barca. Os europeus ficavam aterrados quando viam os imensos bicharocos. Hoje, inverteu-se a situação: tememos mais a Aníbal, do que aos pachorrentos animais que se visitam no Zoológico.

23 janeiro 2012

A VINGANÇA

Dos sentimentos, um dos que maior poder encantatório tem é o da vingança.
E o fascínio sobre quem o analisa resulta da sua singularidade nos mais variados aspectos: é dos sentimentos "negativos", por ventura, o mais tolerado; aquele que a moral judaico-cristã não anatematiza, mas sublima considerando-o (no Antigo Testamento) "quase como um direito" que assiste a Deus, ou mais ainda, fazendo parte da índole divina; a vingança é o sentimento que tem por base a ideia de justiça e tenta repor a equidade das acções, é um sentimento equilibrador, (as punições, os castigos, não passam de vinganças).
Mas onde o sentimento da vingança se distingue de todos os outros é que é dos poucos, se não o único, que não tem contraditório natural, não existe sentimento natural de sinal contrário, como em amor/ódio, inveja/generosidade, alegria/tristeza e por aí adiante. A vingança terá por oposto o sentimento de perdão. Só que o perdão não surge expontâneo, é fruto de formação e educação e precedem-no outros sentimentos como o da amizade ou o do amor. E se "ódio velho não cansa", é o sentimento de vingança que suporta o ódio. A outra particularidade da vingança é o facto de ser o único sentimento que se alimenta do tempo. Dir-se-á que amores e ódios existem que crescem com o tempo. Mas nem todos. Enquanto que todas as vinganças não consumadas têm no passar do tempo campo fértil de crescimento. E a interacção com o tempo é assaz interessante, porquanto o tempo é uma abstracção humana, de onde o sentimento "sustentar-se" em algo que "não existe".

(Escrevi o romance "Um Amor Sem Tempo" explorando as facetas da vingança de que acima falei.Para que conste, não é auto-biográfico).