20 outubro 2011

PARÁBOLA SEGUNDO O OE 2012

Dois homens encetaram o caminho de regresso a casa através de um descampado desértico. Um deles tinha um garrafão de água de cinco litros, o outro só uma nota de dez euros.
Depois de andarem um pedaço, o homem do garrafão teve sede e bebeu um trago. O outro continuou a caminhar em silêncio à espera que o primeiro partilhasse com ele a água. Nada.
- Dás-me um golo de água? - pediu finalmente.
- Não, só tenho esta, e daqui até casa não há onde beber.
O do dinheiro disse:
- Vendes-me então o garrafão?
Acordaram na venda que teve que se realizar por dez euros, pois o homem da água não tinha dinheiro para trocos.
O segundo homem na posse do garrafão bebeu com sofreguidão matando a sede.
Mais adiante deu-se a situação inversa: o primeiro homem tinha dinheiro, mas já não tinha garrafão da água e propôs que o segundo lhe vendesse o garrafão. A transacção processou-se a dez por ser o único dinheiro existente, embora a água no garrafão já fosse em menor quantidade.
Continuaram a vender o garrafão de água um ao outro pelos mesmos dez euros até que se chegou à situação de um dos homens ficar com um garrafão vazio e o outro com os dez euros.
Ao chegarem a casa o homem que tinha os dez euros pagou algumas dívidas e ficou sem nada; o homem que tinha o garrafão tentou vendê-lo ao fornecedor de água que disse que lho comprava se o homem se comprometesse, desde logo, a adquirir-lhe dez garrafões de água.

Faz lembrar qualquer coisa, não faz?

19 outubro 2011

ASSIM, SIM, SR. PRESIDENTE.

Não sou especialista na matéria, mas estou em crer que a suspensão temporária (esperemos que seja só) dos subsídios de férias e de Natal para a função pública não se constitui como um imposto, mas antes, como uma revisão unilateral do contrato de trabalho. Ou seja, enquanto o Governo na sobretaxa deste ano actua como "gestor" da Coisa Pública, quanto aos cortes anunciados para o OE 2012, age como patrão. Daí que se abstenha de estender a suspensão aos privados dos ditos subsídios, pois seria uma violação de contratos estabelecidos entre partes, para os quais o Estado não é tido nem achado.
Trata-se de um eufemismo, que legalmente faz toda a diferença, mas todos sabemos que se não se trata de um imposto, é uma imposição sobre uma parte significativa da população.
Fica de fora a suspensão para pensionistas para a qual, sinceramente, não vejo qual o seu enquadramento legal, porquanto as pensões são calculadas segundo fórmulas consignadas em lei. Aguardo explicação.

Para além, não do murro no estômago, mas da violenta carga de pancada no corpo todo da classe média portuguesa, há a assinalar e a saudar que, ao fim de quase seis anos, de Presidência do Prof. Cavaco Silva, pela primeira vez, sem ser através do Facebook, se assumiu (ao assumir as dores) como o Presidente de todos os portugueses, chamando à atenção DO GOVERNO para as injustiças fiscais, económicas e, sobretudo sociais, que a política (calaceira, segundo o Eng. Belmiro de Azevedo) adoptada está a introduzir na sociedade.

Muitos consideram relevantes as declarações do Sr. Presidente da República só por elas estarem em dessintonia (esta palavra não existe, mas aplica-se) com o Governo. Eu penso que é muito mais do que isso: é um aviso de que uma maioria na Assembleia da República não é tudo na vida democrática.

18 outubro 2011

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- OE 2012: O Orçamento de 2012, que os portugueses ainda não conhecem, mas que o senhor Primeiro-Ministro se apressou a descobrir no que diz respeito aos cortes nos vencimentos da função pública, não deveria ser apresentado na Assembleia da Republica, mas nas igrejas de qualquer religião, pois não se trata de ciência político-económica e financeira, mas de um simples exercício de fé, ou pior, da crendice. O Governo, mal preparado que estava para governar (comentadores dixit), elabora um OE que acredita venha a resultar.

- Manifestações dos indignados: dizia Wilhelem Reich que não se admirava de muitos pobres roubarem, admirava-se era dos muito mais que não roubavam. Se Reich colocou a questão nunca respondeu ao porquê da pobreza ser subserviente e muitas vezes agradecida a quem a espolia e lhe deixa apenas umas migalhas. Os indignados, se bem que tenham razões para se indignar, na sua esmagadora maioria não são ainda verdadeiramente pobres no sentido de não terem comida e um tecto.Quando o forem, que atitudes tomarão? Estarão avisados e preparados os próprios para se insurgirem nessa ocasião, ou ficarão acabrunhados de mão estendida?

- Selecção Nacional de Futebol: os portugueses esperam sempre afogar as suas mágoas nos êxitos futebolísticos. Normalmente as contas saem furadas, como no resto. A selecao nacional de futebol não lhe deu esse lenitivo ao perder a hipótese do apuramento directo para o Europeu quando lhe bastava pura e simplesmente ter retirado a bola ao adversário (parece fácil), bastava um empate a zero e lá iam uns quantos (como se fossemos todos) apitar para a rua. Podem discutir-se técnicos e jogadores, estes ou outros, melhores ou piores, mas o que é facto é que a Selecção ainda não se conseguiu consistência competitiva para o seu lugar no ranking FIFA que faz esperar dela este mundo e o outro. Deste mal padecem, no momento, outras selecções, nomeadamente as da França e a de Inglaterra. Só que esses sofrem de crise conjunctural; a nossa é estrutural. Como no resto.

- Frases da semana: "Este Orçamento é meu, mas o déficite não é meu". Ó senhor Primeiro-Ministro, então explique lá,como se todos os portugueses tivessem quatro anos, quais as razões para os esforços adicionais contemplados no OE:

- O Livro da Semana: A Oeste Nada de Novo, de Erich-Marie Remarque, porque neste canto da Oeste da Europa infelizmente não se passa nada que não se antevisse e porque tem características idênticas às do OE 2012: não é escrito por um autor "maior", não é um grande livro, mas ficou para a história.