18 fevereiro 2012

Grécia, 1977

(Templo de Júpiter, Cabo Súnion)

Passei dois meses na Grécia a fazer um estágio na empresa de electricidade grega,em 1977, três anos depois do fim da ditadura do Estado Novo, em Portugal, três anos depois do fim do regime ditatorial dos coronéis, na Grécia.
Quando os gregos sabiam da minha nacionalidade, português, estabelecia-se uma comunhão, havia uma simpatia redobrada, havia um sentimento de pertença ao mesmo grupo dos recém libertados. Assisti ao primeiro grande concerto de Mikis Theodorakis em Atenas depois da queda da ditadura. Talvez não fosse o primeiro, ou eu não compreendesse grego suficientemente, ou, porventura, eu quisesse muito acreditar que iria estar presente num momento singular. O ambiente era o de um concerto do Zeca Afonso. Lá, como cá, não era a música que contava, eram os símbolos da resistência.
E aprendi a dizer a palavra de ordem, soa assim laos enomenos poté enekimenos (o povo unido jamais será vencido).

Tenho esperança de um dia voltar à Grécia, com o mesmo espírito, o mesmo ambiente. Talvez me saúdem com entusiasmo por eu ser português. Gostaria de me voltar a sentar ao pôr-do-sol, no Cabo Súnion (onde fiz o estágio), a contemplar o templo e a beber ena portugal - uma laranjada (foram os portugueses que levaram as laranjas para Grécia).

14 fevereiro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Manifestação da CGTP - exceptuando algumas, poucas, manifestações, esta forma de protesto nunca reflecte a dimensão do descontentamento na sua plenitude. As manifestações, como a greve geral, servem essencialmente para demonstrar a capacidade de mobilização das organizações, para assim ganharem capacidade negocial. Independentemente da contabilização de participantes, importa reflectir que na mesma semana as sondagens mantinham o PSD em primeiro lugar e que o PS não capitaliza o descontentamento.

- Segndo pacote de resgate da Grécia - impressionante a cegueira e a insensibilidade dos lideres europeus, não face ao futuro da Grécia, mas face ao futuro da Europa. A rendição só não é incondicional, porque a condição é a Alemanha salvar-se.

- Primarias republicanas nos Estados-Unidos - As eleições norte-americanas não são seguidas com a devida atenção em Portugal (provavelmente, em toda Europa), especialmente no que diz respeito as primárias, que se destinam a escolher o candidato de cada um dos partidos (os democratas tem este ano o candidato natural, Barack Obama). Os debates e as declarações dos candidatos republicanos são dignos do melhor programa de humor non-sense. Às vezes (muitas vezes) um daqueles senhores chega a Presidente e manda no Mundo. A seguir no Daily Show de Jon Stewart.

- Frase da semana - Tenho esperança que chuva. A senhora ministra da Agricultura, etc., etc.sintetiza a filosofia do governo: esperança que a economia recupere; esperança que os doentes não adoeçam; esperança que os portugueses emigrem; esperança que o petróleo não suba; esperança que...

- Livro da semana - Este País Não É Para Velhos, de Cormac McCarthy, (a ler, é muito melhor o livro do que o filme).

13 fevereiro 2012

O MARIQUINHAS PÉ-DE-SALSA

Mariquinhas pé-de-salsa era a nomeação mais utilizada nos meus tempos da primária (idos de 50) para achincalhar o medroso que recusava portar-se como um homem e que do queixume fazia a sua tábua de salvação em situações de aperto. Mas aos mariquinhas pé-de-salsa não se lhe exigiam actos de heroísmo e de abnegação, quando muito o cumprimento dos serviços mínimos, normalmente em matérias de virilidade e de força. No código de honra da canalha (aqui entendida como miudagem) daquele tempo era impensável apodar de mariquinhas pé-de-salsa aquele que se queixava de algum acto atentatório que lhe fosse imposto; não se usava a terminologia em vão, sob pena de retaliação feroz do visado.
O mariquinhas pé-de-salsa tinha um primo em primeiro grau: o vidrinho-de-cheiro, que largava lágrima ou choro desalmado à primeira contrariedade, que chorava quando o aborreciam, que amuava quando o criticavam. Em termos de hierarquia, o vidrinho-de-cheiro estava abaixo do mariquinhas pé-de-salsa.

Ser apelidado de piegas não aquece, nem arrefece; não se sabe se é sucedâneo do mariquinhas pé-de-salsa ou vidrinho-de-cheiro; não é insulto; tão pouco será de perder grande tempo com o assunto. O problema é que quem chamou piegas não quis apelar ao amor-próprio e auto-estima, mas dizer: não me chateiem, comam e calem; pior, não quis dizer, não se queixem com os sacrifícios já impostos, pretendeu significar que todas as imposições futuras devem ser aceites e consentidas com um cerrar de dentes, se não mesmo com um sorriso nos lábios.

Ah, é bom lembrar outra característica do mariquinhas pé-de-salsa: desenvolvia um secreto desejo de vingança, que muitas vezes era concretizado. Esperemos para ver como se comporta o piegas.