21 abril 2011

O Benfica / Porto e as sondagens

Ontem, antes do Benfica Porto, fiz uma sondagem “à boca das urnas”, perguntando a dois familiares adeptos do FCP (e incluindo-me no estudo) qual a previsão para o desfecho do jogo. Fomos unânimes: o Porto ganhava, mas não conseguia a passagem à final. Esta conjectura baseava-se em factos lógicos e racionais do tipo: o Benfica é um grande clube, ganhou 2-0 no Dragão e não vai perder a oportunidade de conquistar o 2º troféu caseiro mais importante. Não o confessámos, mas interiormente a crença no excelente momento de forma do FCP fazia-nos acreditar, ter uma última esperança, que uma reviravolta seria possível.
O FCP, para grande regozijo dos adeptos, ultrapassou as expectativas, eliminou o rival no seu reduto e a realidade desta vez colocou-se do lado da inteligência emocional, da paixão pelo clube, da crença e da esperança.

Coincidência das coincidências, no campo político vive-se uma situação semelhante: toda a análise da condição do país dita a derrota do Partido Socialista, partido que suporta o Governo; todo o historial dos últimos seis anos - casos com o Primeiro-Ministro, crise, intervenção externa, desgaste do Governo – remete o PS para uma penalização confrangedora nas eleições de 5 de Junho, evidentemente às mãos do maior partido da oposição, o PSD.Entra, pois, em campo o PSD com a missão de concretizar nas urnas a vantagem que tem e obter uma clara vitória eleitoral (considerando que uma vitória não significa ter apenas mais votos, mas deixar o PS a mais de 10 pontos percentuais de distância e abaixo dos 30% dos votos).

Só que…os estudos de opinião têm abalado (profundamente) aquilo que deveria ser o desenlace lógico. E de aproximação em aproximação o PS cola-se ao concorrente e na mais recente sondagem, por diferença mínima (podemos dizer que golos fora contam a dobrar), aparece à frente do PSD (PS:36,1% - PSD: 35,3%):

E pergunta-se, será possível que para além do próprio José Sócrates ainda haja alguém que queira votar PS?

Talvez o PSD baseie toda a sua estratégia na resposta mais plausível à pergunta acima formulada e se esqueça que os eleitores possam colocar(-se) outra questão: serão confiáveis estes novos governantes (do PSD) que se apresentam no horizonte?

Pelo menos até agora, a resposta é: não.

O PSD numa inépcia política tem desbaratado a vantagem que lhe foi concedida pelas circunstâncias e pelo adversário nos muitos erros que cometeu. O PSD está convencido que lhe basta entrar em campo, gerir a vantagem e o tempo para sair vitorioso nas urnas, descurando tudo o que de emocional, de crença e de esperança também está contido na avaliação política do eleitorado e em seis meses demonstrou fazer o mesmo de que acusa o PS: dizer hoje uma coisa e amanhã o seu contrário, arrogância (Miguel Relvas é caso emblemático, mais do que Passos Coelho), taticismo e oportunismo político, defesa dos interesses partidários acima de todas as coisas.

A disputa política não é um jogo de futebol porque mexe com a vida das pessoas (oh, se mexe) pelo que o paralelismo deva ser apenas encarado como meio de demonstração de que o respeito pelo adversário não é mais do que outro ponto de vista do respeito e consciência que temos por nós próprios.

20 abril 2011

Feira do Livro de Lisboa

Vou lá estar no dia 7 de Maio, das 15:00 às 17:00, em sessão de autógrafos. E se não for para autógrafos é para a conversa.

Semana dos Livreiros 2011

A APEL - Associação Portuguesa de Editores e Livreiros irá, pelo terceiro ano consecutivo, celebrar a "Semana dos Livreiros" de 21 a 27 de Abril. Esta iniciativa oferece, uma vez mais, um conjunto de iniciativas culturais que promovem a leitura e assinalam o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor, a 23 de Abril.

Ao longo da "Semana dos Livreiros", existirão várias promoções em livros nas livrarias lisboetas aderentes, assim como sessões de autógrafos, lançamentos e apresentações.

"A forma como a «Semana dos Livreiros» tem sido bem acolhida, junto de livreiros e público, leva-nos a apostar mais um ano nesta iniciativa, que esperamos que venha a tornar-se uma tradição. Nunca é demais comemorar o livro e promover iniciativas que apostam na divulgação cultural, nos autores e nas suas obras", refere Paulo Teixeira Pinto, Presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros.

A "Semana do Livreiro" deste ano contará com a participação da Bertrand Chiado e Bertrand Roma, Europa-América, Babel, FNAC Chiado, El Corte Inglés, Livraria Barata, Oficina do Livro 11 – Rossio, Oficina do Livro 23 – Rossio, Livraria CE Bucholz e Livraria CE Chiado.

in site da APEL

18 abril 2011

Cavaco Silva nunca existiu

As redes sociais na internet não são um meio de comunicação de massas, é ligação que se circunscreve a um círculo restrito de “amigos” (adicionar como amigo, diz o Facebook; fulano aceitou o teu pedido de “amizade”). Ao utilizar esta via para espalhar a sua mensagem, Cavaco Silva, o Presidente da República, sabe que apenas comunica directamente com os “amigos” e sendo todos os media seus “amigos” sabe que a sua palavra será retransmitida e difundida.
Talvez seja assim, mas parece-me que a verdadeira razão é outra: Cavaco Silva, Presidente da República, nunca existiu, é uma não-existência.

Cavaco Silva não faz uma leitura conservadora ou demasiado à letra da Constituição no que se refere aos poderes presidenciais, faz a leitura do “eu bem queria, mas não posso”, “ai se eu pudesse, bem sei o que faria”. Resta-lhe falar. Mas uma não-existência não fala, falam por ela. A insistência dos comentadores políticos na necessidade de Cavaco Silva aparecer, que fale, que se dirija aos portugueses – e ele mantendo-se na penumbra da virtualidade das tecnologias de comunicação - torna-o ainda mais esperado.O Facebook vai, pois, além do bolo-rei que salvificamente o impedia de falar, o Facebook permite-lhe falar sem aparecer, pode, então, qualquer profeta falar em seu nome. O Facebook transforma-o num D. Sebastião, num Messias que todos esperam e anseiam, bastando-lhe que exista no imaginário individual e colectivo.

(Se seguirmos o paralelismo através da visão judaico-cristã, mais uma vez se confirma a história do Messias: das três vezes que Cavaco Silva, Presidente, tomou forma humana – autonomia dos Açores, caso Fernando Lima, discurso de tomada de posse do 2º mandato – em que “ousou” falar, foi crucificado).

A figura de ícone que aparece no mural do Facebook é, pois, a de um não-ser e a um não-ser nada mais há exigir que não seja manter a esperança viva de que um dia virá. Uma não-existência não necessita de se comprometer em anunciar a salvação, não precisa de se envolver nas medidas para a salvação. Ele é a salvação.

O Facebook salvou Cavaco Silva: à sua falta de substância concedeu-lhe a essência de espírito.