24 dezembro 2012

O ECONOMISTA DA ONU, "PODE ALGUÉM SER QUEM NÃO É?"

Como muitas vezes acontece, a fila para adquirir bilhetes para assistir ao concerto de um violista famoso,no Licoln Centre, em Nova York, era longa e demorada. Um homem mal-vestido, ar pouco lavado, assentou a sua banca junto da fila; colocou a boina para recolha de fundos; pôs-se a tocar violino. A fila seguiu lenta com pouca atenção dos presentes à música do provável músico de metro e poucos lhe davam algumas moedas. O violinista de circunstância era, nem mais nem menos, o prodigioso músico para cujo espectáculo as pessoas estavam dispostas a gastar horas para aquisição de um ingresso.

É por demais conhecida esta faceta da predisposição do ser humano para escutar mais as roupagens do que a substância das coisas.

E tudo isto a propósito da recente burla de um presumível economista da ONU entrevistado por rádios e televisões de referência, sobre a crise portuguesa. Não parecem ter sido totalmente descabidas as declarações do senhor "economista" e pecam apenas por não serem verdadeiras as credenciais com que se apresentava e não serem fundadas em qualquer análise da ONU.

A história em si não tem nada de extraordinário, é tão somente uma "peta" engraçada que se socorre de todas as técnicas na arte do engano. Apenas três conclusões:

1 - O que o "economista" disse poderia ter sido dito por milhares de outros cidadãos anónimos que não são convidados e escutados pelos media por que não vestem outras vestes que não a de anónimos (o que não significa que não sejam conhecedores);

2 - Os comentadores, colunistas, opinadores, sempre os mesmos sobre todo e qualquer assunto, são muitas das vezes menos verdadeiros nas suas afirmações, que se supõem fundadas e fundamentadas, do que as do dito "economista" ou das que qualquer dos anónimos cidadãos produziria.

3 - A performance do "economista" é tanto mais possível, quanto mais os cidadãos cederem o "espaço público" ao "espaço da comunicação social", que vai atrás de fogos fátuos e gira em redor de vacas sagradas. A sociedade civil, mais conhecida como povo, tem um "espaço", que é seu por direito próprio, e que tem de utilizar. Quando todos formos escutados, o burlão desaparece pois não precisa de se mascarar para ser ouvido.

(Atenção, brevemente poderá aparecer nas nossas televisões, em mensagem de Ano Novo, alguém "vestido" a fazer de Presidente da República).

19 dezembro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Ministro Gaspar e as previsões: Vitor Gaspar está para as finanças como Isabel Jonet está para a caridade/solidariedade: quanto mais falam, mais se afundam. Ontem, o ministro, irritado por a oposição o confrontar continuadamente com o desacerto nos números (sempre para pior), dizia que iria ponderar abrir lugares para "fazedores" de previsões correctas, mas que ele não se candidatava ao lugar. Deveria o ministro, tão apologista do privado contra o público, saber o que acontece em empresas privadas a gestores e outros trabalhadores quando falham as previsões, que muitas vezes nem são dos próprios; ou se alguém chegar ao banco e disser que não paga a prestação da casa porque estamos em tempo de recessão e falhou nas previsões de quanto o governo lhe iria confiscar em impostos.

- Cavaco Silva e as suas reformas: O Presidente da República foi mais uma vez instado a pronunciar-se sobre as suas reformas devido aos cortes programados no OE de 2013. Cavaco Silva diz estar amuado (não por estas palavras) com os media porque ele tentou corrigir o que estes tinham dito sobre a matéria e não conseguiu. É verdade o que diz: Cavaco Silva tentou corrigir os media, o que não tentou foi corrigir o que os portugueses ouviram da boca do próprio em peça televisiva.

- Frase da semana: "Somos orgulhosamente capitalistas", Eric Schmidt, director executivo da Google,em entrevista à Bloomberg, para justificar a fuga aos impostos (pelos visto,legal) através do paraíso fiscal das Bermudas. Schmit esqueceu-se de dizer que somos orgulhosamente capitalistas, quando somos ricos. O capitalismo mais liberal não permite aos menores rendimentos fugas legais e, em caso de crise, são estes que são sempre chamados a pagar.

- Livro da semana: "O Museu da Inocência", de Orhan Pamuk.

12 dezembro 2012

O MINISTRO GASPAR E AS PREVISÕES MAIAS

Hoje, saiu em Diário da República que o Ministro Vitor Gaspar contratou para o seu gabinete um grupo de estudiosos maias peritos em previsões. As previsões maias duram séculos e só falham se houver uma grande surpresa. Através de uma folha de excell, o ministro, mostrou ainda que o sistema de numeração maia, de base vinte - em vez do corrente de base dez -, se adapta muito melhor aos desvios colossais dos déficites do governo. Além disso, os maias desconhecem a roda, pelo que serão incapazes de prever que o ministro "vá de patins".

11 dezembro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Entrevista António José Seguro: Talvez a melhor entrevista que o Secretário-Geral do PS deu desde que foi eleito para o cargo. Mesmo assim não parece que tenha agarrado o auditório e muito menos que tenha agradado aos comentadores. Em política, e especialmente em política através da televisão, o que parece, é. Seguro não consegue passar a mensagem e tem deixado que moldem a sua imagem de um lídere sem ideias, amarrado a um contrato com a troika e convivendo divisões internas no partido.

- Noventa lugares: Miguel Relvas pretende criar pelo menos noventa lugares executivos para entidades inter-municipais a auferirem cerca de 4000€ por mês. Agregadas freguesias, extinguidos os Governos Civis - que eram só 18 - por não servirem para alguma coisa, e como medida de poupança, cria-se então uma nova estrutura que por muito pomposas descrições de funções que tenha não visa mais do que manter à mesa do orçamento do Estado, dinossauros autárquicos, e outros, que por limite de mandatos estão impedidos de se candidatar. E, pelos vistos, não é preciso ir pedir autorização à troika, só para diminuir impostos é que é.
Miguel Relvas não tem vergonha e se os outros membros do governo alinharem neste propósito são uns desavergonhados.

- Frase da semana: "Acabou a crise do euro", François Hollande. Não existe nenhum dado concreto de que a crise "tenha ficado para trás"; o novo financiamento da Grécia e o resgate dos bancos espanhóis não debelam a crise. Hollande tenta afastar o espectro de um ataque dos mercados à França e para isso, voluntária ou involuntariamente, está a dar trunfos a Angela Merkl para as eleições na Alemanha em 2013.

- Livro da semana: A Pequena Casa em Allington, de Anthony Trollope

04 dezembro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- A entrevista do Primeiro-Ministro à TVI: a democracia dá-nos a ilusão de que todos podemos chegar a Primeiro-Ministro. É ilusório, mas que é a democracia o regime que menos obstáculos cria a que cada um possa chegar ao lugar, isso é certo. A democracia é também o regime que menos mascara a incompetência e ignorância dos governantes, pois obriga à exposição pública dos mesmos. Daí, ao ouvi-los falar, resulta, que o comum cidadão considere que, em democracia,qualquer um, até ignorante e/ou incompetente, possa ser Primeiro-Ministro. E há casos que o comprovam.

- Peditório do Banco Alimentar: Apesar da entrevista infeliz de Isabel Jonet, e dos absurdos pedidos de boicote ao Banco Alimentar por via de, os portugueses não deixaram de contribuir num esforço de solidariedade real. E os portugueses fizeram-no, não por concordarem com as declarações da Presidente do Banco Alimentar, mas porque estão radicalmente (consciente ou sub-conscientemente) contra elas: os portugueses sabem que há outros portugueses que estão na miséria, que a grande maioria do povo não viveu acima das suas possibilidades, que o esbulho nos rendimentos das famílias levado a cabo pelo o actual governo é que não lhes permite comer carne.

- RTP privatizada a 49%: Esta é a última moda para que o Estado se "desfaça" da RTP. Advisers, spin doctors e opinadores (entre os quais o próprio Presidente da RTP que já disse não ser possível serviço público sem dois canais), não têm ideias consensuais sobre a matéria e têm lançado petardos experimentalistas a ver o que colhe menos contestação. Estratégia concertada com o governo? Parece que sim, pois o mesmo se tem visto noutras áreas. Afigura-se que será deste modo que será discutido o Estado Social entre Fevereiro e Junho.

- Frase da semana: "Portugal não é a Grécia", vários, nacionais e internacionais. Esta não será porventura a frase da semana, mas a frase do ano. Vitor Gaspar sabe ao que vem, não aposta em reduções de juros, perdões de dívida, mas na validação (está tudo a correr congforme o previsto)do seu falhanço nas sucessivas execuções orçamentais (ai! uma surpresa).

- Livro da semana: A Sala das Perguntas, Fernando Campos

27 novembro 2012

VISÃO ACTUALIDADE DA SEMANA

- O Ministro da Economia: o dr. Álvaro Santos Pereira adoptou um discurso contrário ao da austeridade a todo custo. Seria reconfortante acreditar que o ministro caiu em si e percebeu que a luz ao fundo do túnel só aparece com a reactivação da economia real e com medidas governamentais que a incentivem, já que as empresas estão moribundas ou apáticas. Mas, o que o ministro percebeu foi que a sua penosa estada no ministério não tem fim à vista porque a remodelação tarda e a queda do governo não é para já; percebeu que num discurso contrário ao oficial ganha em dois carrinhos, ou é afastado e se a economia em 2013 falhar (como se prevê) diz que ele é que tinha razão, se se mantém dirá que que as suas teses receberam um voto de confiança e se a economia falhar a culpa não será (apenas) sua, porque, como ele e nós sabemos, o que vai vingar como política é a austeridade cega (é o OE 2013 que o diz).

- A chantagem dos e com os mercados: Há semanas atrás a troika ameaçava não libertar a nova tranche para a Grécia se o Orçamento de Estado não fosse aprovado; o Primeiro-Ministro grego ameaçava que se tal não acontecesse não havia mais dinheiro nos cofres.
O orçamento que penaliza gravemente os gregos foi aprovado; a Europa continua em reuniões para decidir sobre a tranche; o dinheiro ainda não acabou nos cofres gregos.Os mercados reagem inalterados às notícias gregas, ora vão para cima ora vão para baixo.
Isto tem um nome: CHANTAGEM.

- Eleições na Catalunha: os neo-separatistas do CiU (neo porque são separatistas à boleia da crise), de centro-direita, não obtiveram maioria absoluta e perderam lugares no Parlamento, numas eleições oportunistas e populistas de Artur Mas. A Catalunha, o País Basco e o resto da Espanha estão condenados a entender-se: a industrialização da Espanha foi toda concentrada, ao longo de décadas, naquelas duas províncias porque as mais próximas de França e dos caminhos terrestres para a Europa; mas o principal importador das duas províncias é o resto da Espanha. Se as duas províncias se tornam independentes, a Espanha fica sem unidades industriais e a Catalunha e o País Basco de menos boas relações com o principal importador. Não deixa de prevalecer a vontade dos povos, mas estes têm de decidir informados e em consciência, nunca em emotividade conforme o apelo de Mas.

- Frase da semana: Estado social...dividir o mal pelas aldeias. Nos pormenores o PM revela-se. A concepção de Estado Social de Passos Coelho não passa de um estado assitencialista, mais propriamente de um estado IPSS, para tratar dos pobrezinhos. O Estado Social destina-se a distribuir o BEM pelas aldeias, em que se procede a uma redistribuição da riqueza através da cuidados primários (e secundários se o dinheiro chegar) que são pagos por todos, onde quem mais tem mais paga. Passos Coelho é denotadamente contra o Estado Social, faria bem em defender coerente e consistentemente a sua dama e deixar de se pronunciar angélico e compungido sobre aquilo que recusa.

- Livro da semana: A Piada Infinita, David Foster Wallace

21 novembro 2012

O burro e a vaca do presépio

Ainda não li o último livro de Bento XVI, mas os comentários às verdades aí reveladas já correm mundo e são feitos pelos media e por muita gente que também não o leu. E tenhamos a certeza que, na espuma dos dias, não vai restar mais do que isto. Resumindo o facto, o Papa, com explicações, quase como provas, vem reafirmar a virgindade de Maria, mãe de Jesus, a ausência da vaca e do burro no presépio e que aquilo que conduziu os Reis Magos, e que já foi cometa e meteorito, é uma supernova. A Igreja Católica teme que os crentes tremam na sua fé, ponham em causa a veracidade e autenticidade da sua igreja e que, face às descobertas científicas, arqueológicas, documentais,a deserção para outras crenças e crendices mais apelativas, ou para ou agnosticismno e ateísmo, seja imparável. Dá a sensação que tem uma má-consciência sobre os fundamentos da razão da sua existência e que algumas inverdades dogmáticas sejam confundidas com algumas práticas menos éticas, morais e religiosas em que a Igreja tem incorrido. A Igreja teria muito a ganhar se seguisse os ensinamentos bíblicos: a César, o que é de César. Portanto, ao reino da fé, o que é da fé; ao domínio da ciência, o que é do domínio da ciência. Não é de modo incompatível a uma pessoa, com conhecimentos da ciência, explicar (até agora) a origem do Universo com a Teoria do Big Bang e que na hora da reza dê graças a Deus pela criação do Mundo.

20 novembro 2012

VISAO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Greve Geral 14N: Por muito que custe, a greve tem hoje em dia um efeito prático muito restrito. As greves têm efeitos quando prejudicam directamente patrões do sector privado, ou quando prolongadas afectam profundamente os cidadãos. Sendo os grevistas maioritariamente provenientes do sector público, onde não há nenhum dirigente que se sinta na obrigação de resolver os conflitos laborais, e com paralisações de um dia, como o caso do dia 14, as consequências de uma greve esbatem-se e tendem a perder o significado. Fica o protesto e a contestação ao governo - justificada e legítima - e sobretudo a união dos movimentos sindicais da Europa, nomeadamente os dos países do sul.

- Carga policial: Uma actuação policial firme impunha-se depois de desordeiros provocarem distúrbios em frente da Assembleia da República no fim da manifestação da CGTP. No entanto, o tempo que a Polícia de Intervenção aguentou uma chuva de pedras não foi um sinal de sensatez, mas sim do seu contrário, permitindo, impassíveis, que o património público fosse destruído. Se pretendiam que os desordeiros caíssem numa cilada, falharam. Pelos vistos, só "os" apanharam longe do local e sem certezas de que seriam os tais. As justificações dadas para a dispersão dos manifestantes (não estou a falar em desproporção, estou a referir-me a estratégia utilizada) e as detenções efectuadas, fazem lembrar a revolução dos pregos de Ângelo Correia (quem não tiver possibilidades de saber o que foi, diga, que eu depois conto).

- 6ª avaliação da troika: O "exame" periódico da troika foi genericamente o que se esperava: estão os indicadores fora do estabelecido, mas está tudo a correr como previsto e, conforme a perspicácia da srª Merkl na semana anterior, a fatia de empréstimo vai ser libertada. De relevar que não deixa de ser espectacular o modo "desemocionado", como o ministro Vitor Gaspar anuncia o sucesso/desastre do plano de ajustamento misturado o aumento de desemprego, e no mesmo tom de voz, na mesma cadência pausada, passa do estamos no bom caminho para o prolongamento demais anos da austeridade. Talvez não seja o ministro que esteja desfasado da realidade, talvez seja mesmo ele que não é real.

- Frase da semana: "A greve, embora seja", "apesar de ser", um direito constitucional...". Mais uma vez o discurso condescendente, disfarçadamente inócuo, com um direito dos trabalhadores, mostra a ideologia escondida, os emboras e apesares mais não significam "este ano é assim, mas quando refundarmos o estado a greve passa a ser proibida". A greve não é um direito qualquer, é um marco, é um símbolo, de que é legítimo e possível contrapor a um poder outro poder. A greve (mesmo com a ineficácia referida no início da crónica) deve ser interiorizada numa sociedade como um direito inalianável que não tem como seu contrário o direito a não fazer greve como nos querem fazer crer.

- Livro da semana: Liberdade, Jonhatan Frazer.

13 novembro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- O filme de Marcelo para mostrar aos alemães: Uma ideia que não é descabida, mas peca em duas questões básicas: Marcelo Rebelo de Sousa pensou que bastaria a sua chancela para que as portas do Brandenburgo se abrissem para que o povo alemão tivesse oportunidade de tomar conhecimento dos portugueses; depois, a execução parece (se calhar, é mesmo) de um amadorismo atroz, de um voluntarismo pífio, de um desenrasca mal-amanhado, de comparações com a Alemanha que por vezes raiam o mau-gosto, passando, assim, a mensagem contrária do que se pretende.

- A Convenção do BE: O BE tem alguma atractividade na sociedade portuguesa e é um facto que já não pode ser considerado um epifenómeno. No entanto, o BE que contrariou o proverbial divisionismo da esquerda, volta aos tiques antigos das vanguardas revolucionárias verdadeiros defensores dos ideais socialistas. Se bem que o momento fosse de exaltação (e promoção), ao BE não ficaria mal um assomo de realismo e reconhecimento do seu peso no plano partidário e social.

- A visita da Chanceler alemã a Portugal: As últimas declarações de Angela Merkl sobre os anos de austeridade, a visita relâmpago de "fiscalização" aos países em dificuldades, têm um efeito prático mais visível dentro da Alemanha do que no plano externo. Merkl continua a governar a Europa para os alemães e para ganhar eleições na Alemanha: lidera as intenções de voto, em coligação, e tem elevados índices de popularidade pessoal. Angela Merkl não é responsável pela crise financeira portuguesa, pode não ser, mas que tem dado grande ajuda para o atrasar de soluções, isso tem.

- Frase da semana: O facto relevante desta semana que findou - que antecedeu a visita da chanceler alemã, uma greve geral europeia, o início do sexto exame da troika, a Convenção do BE com ataque cerrado e piscar de olho ao PS, o momento (escassos segundos) em que o Presidente da República rompe o silêncio para falar do OE 2013, inauguração de hotel de luxo -, é a ausência de um discurso forte e polarizador do lídere da oposição. O Dr. António José Seguro tem apresentado alternativas,tem repetido um discurso responsável sobre a estratégia do PS para o país, mas mais para não ser esquecido do que para ser lembrado.

- Livro da semana: "Os Segredos do Mar Vermelho", de Henry de Monfreid. Um extraordinário livro de aventuras verídicas vividas pelo autor no Leste de África.

09 novembro 2012

Não boicotem o Banco Alimentar

Quando o ouvi a discursiva Isabel Jonet na mesa-redonda televisiva, proferi um desabafo, que disparate!, e fui deitar-me descansado. Eis senão quando, na manhã seguinte e dias sucedâneos, as declarações da Presidente do Banco Alimentar (é por isso que ela é convidada para os debates) passam a facto nacional da maior relevância. Isabel Jonet enganou-se redondamente, do ponto de vista económico (excelente o post de Pedro Lains no seu blogue), social, moral e até político, naquilo que disse. Mas reproduziu não só o que ela pensa, mas o que muitos portugueses, devido a falta ou deturpação de informação, pensam. O que é criticável, é que Isabel Jonet não sendo uma cidadã qualquer, não deve enganar-se, e levar ao engano muitos dos que a escutam; deve prepara-se melhor, obter boa informação e cuidar o discurso para não raiar a insensibilidade social (que é algo de que Isabel Jonet não pode ser acusada).

E mesmo que a dita alocução se identifique, ou a colem, com uma ideologia de direita retrógrada (não sei quais são os ideais políticos de Isabel Jonet), nem de longe, nem de perto, tem as consequências daquilo que é diariamente proferido por muitos decisores deste país e por opinadores que não nos largam a porta.

Considero que a discordância e a crítica são legítimas e justificadas, mas acho completamente descabidos os apelos de boicote ao Banco Alimentar e os abaixo-assinados a pedir a demissão de Isabel Jonet de Presidente.

06 novembro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- A carta: O PSD ou o governo, enviou uma carta ao PS. E ontem já se ouviu que se o PS não alinha será responsável pelo descalabro caso não seja refundado o Estado Social de acordo com o que o PSD quer. A chamada fuga para a frente, deixando o PS para trás. O PSD não pretende salvar o país, pretende salvar-se: se o PS concorda, será co-responsável no desastre; se não concorda, pode o PSD provocar eleições, o PS ganha, e fica com o ónus de ir pedir batatinhas ao PSD que dirá seraficamente: não quiseram, agora não queremos nós.

- O deputado rebelde do PP Madeira: O voto contra o OE13 da parte do deputado da Madeira não tem base em qualquer objecção de consciência relativa ao duro aumento de impostos que o OE comporta. Visa exclusiva e popularmente capitalizar as circunstâncias de uma reviravolta na condução do PSD Madeira. Quando Jardim abandonar a liderança do PSD no arquipélago (o PP pensou que era para já) o PP poder-se-á tornar na região o partido charneira que é no Continente.

- Eleições presidenciais nos EUA: Nesta madrugada previsivelmente conhecer-se-á o novo presidente dos EUA. A luta pela vitória está renhida e os europeus (os povos) olham com alguma ansiedade e esperança para o desfecho final. Não sabem de que modo um dos principais condutores do Mundo os pode afectar, mas têm a sensação de que com Obama o Mundo será mais habitável.

- Frase da semana: "Mais cinco anos de austeridade", a sr.ª Merkel proferiu esta frase mais para dentro do que para fora. A Chanceler está a dizer aos alemães votem em mim que eu não vou permitir que o resto da Europa ande a viver à custa do dinheiro que a Alemanha lhes disponibiliza. Para fora, está a dizer que já está a mandar nos orçamentos de cada país da CE.

- Livro da semana: Recomenda-se a leitura da Constituição e do memorando com a troika. Não são muitas páginas e assim saberíamos do que estamos a falar e de como nos pretendem enganar.

01 novembro 2012

O COMPLEXO DE PORTNOY, Philipe Roth, D.Quixote

Muito possivelmente os judeus são o único povo do mundo que goza consigo próprio para se enaltecer, para além de assim retirarem a iniciativa da gozação aos detractores e inimigos. E são bastantes os exemplos daqueles que usam desta faceta "judaica" com críticas inteligentes, directas e certeiras.

O Complexo de Portnoy, que adiciona a crítica aos judeus, a crítica aos genitores - sendo a ordem das parcelas arbitrária -, não é um romance na acepção comum do termo, mas antes um delirante percurso "monologado" através da sexualidade "pervertida" de um judeu desde a infância até à idade adulta, com a sempre presente figura castradora da mãe. Um desfiar romanceado da história de vida íntima de Alexander Portnoy, vida frustrada e frustrante, com episódios picantes, com a incerteza permanente entre o certo e o errado, errado que pratica com maior frequência do que o certo.

Philipe Roth usa e abusa (mas bem abusado) de uma linguagem muito directa, muito explícita (mais parece impossível) das partes e actos sexuais, quer para se referir à função, quer para praguejar. É por isso que, no dizer do próprio autor, a história é contada na cadeira de um psiquiatra, o único modo de tornar a descrição possível e real.

Se alguém procura ler sobre sexo explícito, esqueça definitivamente as sombras de qualquer gray e leia esta obra de Philip Roth publicada em 1969.

30 outubro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Corte nas pensões mais baixas: diz-se que o corte apresentado era uma das hipóteses em cima da mesa para discussão com os parceiros sociais. Quando um governo coloca à discussão tal medida, está tudo dito: não se detém perante nada nem ninguém. Apenas diante da srª Merkel, da troika, da China, de Angola, das PPP, e outros que tais.

- Francisco Louçã: Durante os últimos anos é inegável que Francisco Louçã se distinguiu entre os deputados que passaram por diversas legislaturas. Distinguiu-se pelo conhecimento, pela preparação das matérias, pela inteligência da argumentação, pela denúncia de factos comprometedores para o bloco central de interesses. É bom, mas não chega. Francisco Louçã falhou redondamente na estratégia de influenciar o curso da História ao tomar o PS como inimigo principal. Influenciou o curso da História entregando de bandeja o poder ao PSD/CDS e grande capital.

- Eleições presidenciais nos EUA: não se esperava que o Presidente, Barack Obama, que queria devolver a esperança aos americanos, estivesse tão periclitante no desiderato de ser reeleito. A psicologia do medo está instalada no mundo ocidental, ninguém quer esperar dez anos por amanhãs radiosos e resplandecentes. Por isso, a mudança brusca de líderes na vã tentativa que algo mude...para melhor.

- Frase da semana: Os portugueses pagam pouco para o que exigem do Estado, ministro de Estado e das Finanças. Tenta o ministro inverter o paradigma, pois o que se verifica é que o Estado cuidou mal (não aplica e potencia) do que os portugueses pagavam e não se vislumbra que esteja a aplicar melhor (sem contar com o serviço da dívida).

- Livro da semana: Submissão , de Amy Waldman, uma história muito interessante em volta da atribuição de um memorial para lembrar as vítimas das Torres Gémeas em Nova York. Para aguçar o apetite, só digo que o escolhido é muçulmano.

20 outubro 2012

PP - Partido dos Pedintes

Paulo Portas fez um interregno nas suas aparições públicas oficiais, quer como ministro, quer como presidente do partido (exceptuando as eleições dos Açores). Durante esse tempo tentou saída airosa do governo sem ter o ónus de queda do mesmo e de crise política. Paulo Portas sabe que está entre a espada e a espada:

1 - Se abandona a coligação e o PSD ganha eleições, este não o convidará para nova parceria;

2 - Se ganha o PS, sabe que não será convidado porque o PS não "poderá" fazer coligações com um dos obreiros parceiros da austeridade ao preço do custe o que custar.

Paulo Portas não considerou que sentido de Estado criar uma crise política - em ocasião em que Portugal estava pior do que hoje segundo palavras do próprio - ao votar contra o PEC IV. Hoje considera sentido de Estado votar contra a própria consciência e as declarações há muito propaladas contra aumento da carga fiscal.

Paulo Portas ponderou abandonar o governo e o partido, para que o PP renascesse e como partido novo teria possibilidade de negociar nova entrada no governo. Ao viabilizar o OE13, que lançará milhões de portugueses na pobreza Paulo Portas já encetou a renovação do partido: o PP deixou de ser o partido dos contribuintes, para ser, mais consentâ neo com a sua sigla, PP - Partido dos Pedintes.

17 outubro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Conferência de imprensa de Vitor Gaspar sobre o OE13: O "ministro" de Estado e das Finanças colocou definitivamente Cavaco Silva do lado onde ele nunca se sentiu à vontade,do lado do povo. Ao criticar o Presidente da República desmentindo-o na interpretação das palavras do FMI, que assume o engano na receita da austeridade, Gaspar anunciou que de derrota em derrota, ele, técnico conceituado, se manterá "orgulhosamente só".

- Os carros do Grupo Parlamentar do PS: O GP do PS mostrou que existem sempre alternativas: a troca de carros-topo-de-gama por carros-topo-de-gama mais baratos. E sempre os portugueses a pagarem porque a democracia tem custos. Mal vai a sociedade em que a dignidade de um cargo tem de viajar de Mercedes ou de Audi (passe a publicidade).

- Cavaco Silva e o Facebook: Cavaco Silva é uma não existência. Não tem voz, não tem rosto, pois nem se tem a certeza de que aquela figura que vemos numa feira, numa conferência, na entrega de um prémio, seja efectivamente Cavaco Silva. O ser usa então o facebook embuído da certeza de que a mensagem veículada através de redes é a evolução do modo como Deus comunicava com Moisés, pelas inscrições a fogo numa pedra.

- Frase da semana: "Quero retribuir ao país o que investiu na minha educação", disse Vitor Gaspar. O cinismo, na acepção dos antigos gregos, é de prática difícil. Não pretende desdenhar, desprezar ou achincalhar o alvo. Vitor Gaspar utilizou o cinismo para gozar com os portugueses. Sem cinismo, com desprezo, os portugueses perdoam-lhe a dívida e recusam mais retribuições

- Livro da semana: O Outono do Patriarca, de Gabriel García Márquez

09 outubro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- António José Seguro propõe redução do número de deputados: Antes do mais é preciso dizer que o número de representantes do povo não é de 230 porque sim. Tem por trás um modelo matemático que determina a equidade representativa da expressão dos votos traduzida em número de deputados. O modelo estatístico pode ser outro e não este, mas qualquer alteração do número de efectivos no Parlamento não parece que venha ajudar à resolução da crise económico-financeira.
Existem mais assessores no governo sem serem plebiscitados do que deputados.

- Aumento brutal de impostos: O ministro prometeu hoje trabalhar “com afinco” para substituir o aumento de impostos por medidas de redução de despesa em 2013 (in Jornal de negócios). Estamos na presença do bom aluno que só aprende (?) depois de repetir o mesmo exercício dezenas de vezes - apaga, e volta a fazer. Então o trabalho, com o tal afinco, de corte nas gorduras do Estado não deveria ser feito desde o primeiro dia de governação? O governo brinca despudoradamente com a vida dos portugueses.

- Congresso das Alternativas Democráticas: Iniciativa louvável não tanto pelas soluções (ou falta delas) apresentadas, mas pelo atitude de cidadania que constitui a discussão de ideias plurais. O aparecimento de um Syriza à portuguesa paira sobre os promotores destas actividades, o que é perfeitamente legítimo, mas talvez desnecessário.

- Coligação PSD-CDS: Pela primeira vez (pode ser que tenha havido outras, mas não me lembro) o taticismo de Paulo Portas falhou rotundamente: foi desancado por Honório Novo e vexado pela "bióika" Passos/Relvas. Numa coligação frágil o partido minoritário é sempre o partido mais forte. Paulo Portas perdeu essa oportunidade.

- Frase da semana: "O seu salário é pago pela troika", mais uma frase que exemplificativa dos conceitos de soberania e de democracia que os actuais protagonistas do PSD perfilham.

- Livro da semana: Ferrugem Americana, de Philipp Meyer. Obra sobre a perda do sonho americano. Pode ser que alguém, algum dia, escreva sobre a falência do sonho português.

02 outubro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Remodelação governamental: Ninguém está interessado em que o governo caia neste momento. Ninguém dos costumeiros actores políticos: o PS não está interessado em que a crise lhe aterre nos braços; o PR não está interessado em ter de resolver a crise política; o próprio governo não está interessado porque ainda não terminou a sua agenda liberal.
Resta o caminho da remodelação. No actual estado de coisas quem se atreve a ocupar cargos governativos para seguir a mesma política? (Falo de gente capaz, não de uns tresloucados que para aí andam).

- Corre Portugal o risco de transformar noutra Grécia?: Os arautos da desgraça não se cansam de nos ameaçar com a helenização de Portugal. Da desgraça porque só nos apontam dois caminhos: sacrificarmo-nos como os gregos, ou sacrificarmo-nos como escravos. Seria bom que os arautos assestassem baterias, por exemplo, a exigir que o Banco Central Europeu pusesse de imediato em marcha o que anunciou com grande circunstância a 6 de Setembro: a compra de obrigações dos países europeus. Esta é uma alternativa, e não foi apresentada por partidos da oposição ou centrais sindicais.

- A falácia das medidas de substituição da alteração da TSU: As medidas de austeridade que se aproximam não visam captar qualquer receita que as alterações à TSU angariariam. Com a dita alteração o Estado arrecadaria a pindérica quantia de 500 milhões de euros (passivo do Benfica). Para cumprimento das metas dos déficites faltam muitos mais milhões. Logo se não tem havido movimento anti-TSU seriam as novas medidas de austeridade a adicionar à TSU.

- Catalunha: Portugal deve em parte a reconquista de independência em 1640 à Catalunha. Filipe IV teve de optar entre acorrer à rebelião independentista da Catalunha ou à de Portugal (a da Andaluzia também estava na calha). Esta questão não é oportuna, dizem, devido à crise do euro e das dívidas soberanas; mas ela surge mais acutilante precisamente devido à crise do euro e das dívidas soberanas.

- Frase da semana: "houve um tempo de impunidade, que acabou", declarações da ministra da Justiça sobre as buscas às residências de ex-governantes socialistas. A ministra julga, condena, apenas porque foram executadas buscas domiciliárias e pior de tudo porque a cor partidária é diferente da sua. Paula Teixeira da Cruz não faz mais do que dar voz ao princípio do fim da democracia em Portugal. E pensa-se impune.

- Livro da semana: Submissão, de Amy Waldman .

27 setembro 2012

Citar os Lusíadas pode ser perigoso

O Dr. Passos Coelho citou Luís de Camões, apoiando-se nos versos de Os Lusíadas, para garantir a nobreza e elevação das suas palavras (suas, de Passos Coelho). Longe de mim pensar que o Primeiro-Ministro não leu Os Lusíadas, pois é um livro que existe, mas mostrou que não conhece a Luís de Camões, desconhece a sua vida e índole, o que terá levado a não se rodear das necessárias cautelas para o apresentar como exemplo para os portugueses. Pode mesmo ser perigoso e nefasto, se não, vejamos:
Segundo consta, o dito Luís de Camões nunca foi dado a grandes esforços e trabalhos. Quando estudava(?) em Coimbra tornou-se no paradigma de outros tantos estudantes, séculos depois, que pouco ou nada roçaram o gibão ou as calças pelos bancos da universidade. Terá, possivelmente, numa de tráfico de influências,obtido o beneplácito e fechar de olhos de muitos professores, já que o tio Bento era Chanceler da Universidade.
Depois, alheando-se das formigas, tornou-se numa cigarra do Paço entre outras muitas cigarras, passando os dias, mesmo os de Inverno, a rimar doces seduções às meninas da nobreza e do povo; emigrou (talvez, segundo a cartilha de Passos Coelho, a única coisa que fez bem feita) dedicando-se a muita leitura de clássicos, ao mesmo tempo que dava mostras de lhe faltar aquela centelha do empreendedorismo inseriu-se naquele grupo pouco recomendável dos intelectuais e toca de escrever a obra onde o Primeiro-Ministro bebeu agora a inspiração; regressado a Portugal (o que um português verdadeiramente patriota nunca faria) por todos os meios tentou, e conseguiu, junto de D. Sebastião um subsídio do Reino, à custa de tantas loas cantar do Rei. Já no fim da vida, na miséria, queixava-se de não ter o Rendimento Social de Inserção, não deixando, contudo, de viver acima das suas possibilidades, pois não prescindia do seu criado Jao.

Estou em crer que é chegada a altura de alguém soprar ao Dr. Passos Coelho, não os versos de Camões, mas os de outro poeta português (outro que queria subsídios):

Governo não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

16 setembro 2012

FUGA DE INFORMAÇÃO DO GOVERNO

Para não pôr em causa a coesão do governo, Passos Coelho determinou que se algum membro do mesmo tiver inteligência não deve mostrá-la em solidariedade com o resto do executivo.

14 setembro 2012

PASSOS COELHO UNIU OS PORTUGUESES

O Primeiro-Ministro, com o anúncio da austeridade-ideológica de dia 7, em substituição da austeridade-por-necessidade, e com o entrevista de atabalhoamento económico e político dada ontem à RTP1, conseguiu o inimaginável: unir os portugueses contra "eles". Nunca no pós-25 de Abril foi tão notória a linha separadora entre nós, o povo português, e "eles", os governantes dos interesses, dos amiguismos, das negociatas. Dir-se-á que todos os governos cederam a interesses de diverso cariz e concederam ou pagaram os seus favores. Nenhum como este, levava já preparada para a cadeira do poder uma cartilha tão bem estudada e delineada de assalto ao pote.
Somos definitivamente nós contra "eles". Todo o povo, porque muitos dos portugueses que constituem a base social de apoio dos partidos do governo, vivem acima das suas possibilidades, mas abaixo das suas necessidades, muitos deixaram de ter dinheiro para a saúde, para transportes, para comer, para a escola dos filhos.
O Primeiro-Ministro que dizia ser ele o porta-voz das más notícias, limitou-se a anunciar uma só, deixando o resto ao ministro Gaspar; o Primeiro-Ministro fez uma escolha ideológica entre o trabalho e o capital ao escolher para anunciar a medida da TSU, aquela que despudoradamente transfere dinheiro dos trabalhadores para as empresas.
Passos Coelho pode apresentar à troika um amplo consenso nacional: nós todos, o povo, contra "eles", o governo.

11 setembro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Comunicação do Primeiro-Ministro ao País: Hoje a crónica tem um único ponto, e em forma de manifesto.
É absolutamente imprescindível que todos, e cada um, tomem consciência que a comunicação do Primeiro-Ministro ao País , na passada sexta-feira, é um ponto de viragem. Não se limitou à apresentação do primeiro-ministo-sexta-feira de mais umas medidas de austeridade que o cidadão e pai-sábado lamenta. É preciso que todos, e cada um, tomem consciência de que o governo, pela boca do seu arauto das más notícias, o que fez foi passar todo o ónus da tentativa da saída crise para o trabalho, para as pessoas, para as famílias, aliviando o capital, as empresas, e mantendo muitas das despesas inúteis da máquina do Estado inalteradas.
E a comunicação aos portugueses é um ponto de viragem porque:
ou, a rebelião que se tem sentido nas redes sociais e nos media, proveniente de todos os sectores da sociedade, toma corpo, toma forma, tem efeitos práticos, e governo e troika arrepiam caminho passando a olhar para as pessoas do modo que elas merecem,
ou, se mais uma vez todos, e cada um, se acomodam, e então, aí sim, nada deterá estes governantes. É o regabofe como este povo nunca viu.

- Livro da semana: A Fome, de Knut Hamsun.

10 setembro 2012

O Sentido do Fim, Julian Barnes, Quetzal

"O Sentido do Fim", em narrativa pretensamente desprendida de Julian Barnes tem algo de intimista e confessional. Uma conversa que se podia ter à mesa de café com um amigo a quem não seria necessário pedir segredo, pois os factos relatados de tão banais não mereceriam o reparo de reservados.
O romance (?) desenvolve-se a dois tempos: um, em que Tony Webster, em idade jovem, colegial, ansiando por sexo, literatura e discussões filosóficas, se encontra com Adrian Finn, novo companheiro de escola, e o apresenta à sua namorada Verónica; outro, em idade madura, em que já percorreu os passos normais de um casamento, de um divórcio,de ter uma filha, de uma carreira. A relação entre Adrien e Verónica (per)seguirá Tony Webster ao longo da vida, mas sem lhe causar engulhos até ao momento em que é confrontado com um estranho testamento e uma página arrancada do diário de Adrien que se suicidara.
"O Sentido do Fim", é um percurso através da memória, do envelhecimento, e do quanto o convencimento em verdades absolutas do nosso passado nos podem atraiçoar. A ordem dos factores não é arbitrária: o envelhecimento só acontece à medida que a memória vai colocando os factos nos lugares que cada um de nós lhe destina, já que a memória não é mais do que uma escolha do que queremos e como queremos recordar.
O romance, laureado com Man Booker Prize Award 2011, vale sobretudo pelas pequenas reflexões que o autor introduz ao longo da narrativa que nos fazem pensar que as memórias são retoques que damos no passado para construírem - ficcionarem - a nossa história de vida. Por vezes, damos conta que vivemos iludidos e que somos obrigados a uma remodelação bem maior do passado do que aquela a que já nos habituáramos.
Julian Barnes deixa muitas portas entreabertas sobre a vida das personagens e dos acontecimentos. Mas, não é assim que, em tom coloquial, falamos com os nossos amigos: lacunas, saltos no tempo, memórias dispersas? Um bom livro capaz de despertar o interesse noutros títulos do mesmo autor.

04 setembro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- RTP I: A Administração da RTP não tinha que tomar qualquer posição pública sobre opiniões de consultores mesmo que essas tivessem o aval do ministro da tutela. Com a publicação de um comunicado discordante apenas restava à administração um caminho: a porta da rua. Só que, perante estes factos, a iniciativa de abandonar o cargo não deveria ter sido da Administração, mas da Tutela. O ministro Miguel Relvas ao não fazê-lo mostrou o déficite de autoridade de que padece e que desconhece o bê-a-bá da gestão e da condução de organizações empresariais.

- RTP II: Com as razões até agora apresentadas não me dou por plenamente convencido sobre as virtualidades de uma RTP pública ou privada.O argumento de que em todo mundo é assim, para mim é curto. A única coisa que estou convicto é que o processo de alienação da RTP está inquinado de início e que dá ares a chico-espertertisse de entrega a preço de saldo de um canal de televisão a interesses ou amigos privados.

- RTP, outros e os submarinos O CDS-PP opôs-se a novo aumento de impostos - periscópio de fora; O CDS-PP entrava a Lei Eleitoral das Autarquias - proa dos submarinos a emergir; o CDS-PP rebela-se contra a opinião de um consultor-turbo para a RTP - o corpo do processo dos submarinos quase à tona como anunciado na universidade de verão do PSD. Pero que las hay, hay.

-Déficite de 2012 em 6,9%: A revisão em alta, em forte alta e não apenas numas décimas como disse o sr. PR, não é surpresa para ninguém. Muito menos para o governo. Todos os indicadores económicos e económico-sociais estão piores do que há um ano e meio. Este é o bom caminho, custe o que custar, pois os mercados, os chineses, os angolanos, os amigos, estão contentes

- Frase da semana: Nem tudo aconteceu exactamente como esperado, declaração do Primeiro-Ministro. Não sei exactamente o que esperava o sr. Primeiro-Ministro, mas que nada se passou exactamente como aquilo que por ele foi dito, disso temos a certeza. E isso está documentado.

- Livro da semana: A Ilha de Sukkwan de David Vann. Ilha inóspita e "perdida" no Alasca onde pai e filho passam doze meses em tensão. Recomendado a Passos Coelho e Paulo Portas. A situação torna-se incontrolável.

23 agosto 2012

A ESTAÇÃO PARVA, TONTA, O RAIO-QUE-A-PARTA

Em texto, de 14 de Agosto, VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA, aqui escrevi que a estação parva é bem mais séria do que parece. Se o facto de em 2013 ser necessário compensar a receita que se previa arrecadar com os cortes de subsídios da função já não nos agourava um Agosto tranquilo, hoje foi revelado que a cobrança de impostos ficou três mil milhoes abaixo do previsto pelo governo, cabendo a maior fatia da queda ao IVA. Este dinheirinho não falta em 2013, é já em 2012. A estação é parva pelo que ninguém estranhará que o Primeiro-Ministro reafirme o custe o que custar, o Álvaro ministro diga que estamos a trabalhar no coiso e vamos ver os efeitos, que o Dr. Vítor Gaspar anda as voltas com o calendário do Borda d'água em busca do ano em que se inverterá a desgraça do déficite, do desemprego, da retoma, e que o dr. Paulo Portas, muito convincente, diga que agora estamos melhor estabelecendo paralelos entre o tempo em que ia meter combustível a Espanha, em que cortava nas fundações, institutos e resolvia os problemas do déficite com, um estalar de deos, e em que recusava aumentos de impostos.
A estação é parva. E o burro? O burro, sou eu?

14 agosto 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Documentos dos submarinos: A classe política e as autoridades judiciais andam com a cotação muito baixa e pouco ou nada fazem para recuperarem o prestígio perdido. O caso dos documentos, na linguagem popular é mais um prego no caixão. Sabe-se que o Dr. Paulo Portas fez 60000 fotocópias, não terá passado pela cabeça do Ministério Público ver as ditas?; depois do Dr. Paulo Portas já ocuparam o cargo quatro ministros. Nenhum deles terá tido a curiosidade de conhecer o processo em detalhe?
É verdade, são tantos os pregos que o caixão está quase fechado.
- O país dos licenciados: Durante muitas décadas um curso superior era uma miragem para a maior parte dos portugueses, algo que só estava destinado às classes superiores e a que alguns pobres tinham acesso até para se mostrarem algumas virtualidades do regime. De repente as portas abriram-se e passamos ao numerus clausus com os candidatos a empurrarem-se nas portas de entrada; mais de repente ainda, nasceram universidades privadas onde se entra "até provando-se que se é ignorante". Hoje, os portugueses desistem do ensino superior, e 70% dos que para lá vão dizem que é para emigrarem. Na terra natal o dê-érre já deixou de ser garantia do que quer que seja: nem riqueza, nem emprego, tão-pouco estatuto.
Exigência, qualidade e rigor, são as palavras chave para um ensino (não apenas no superior) de forme profissionais cultos e conhecedores. Todos os governos as apregoam, nenhum até hoje foi capaz de as levar à prática.
- Seca em Portugal: A inexistência de uma Política da Água levar-nos-á a pagar a água ao preço a que hoje pagamos o petróleo (isto, se a houver). A ministra da Agricultura reza para que chova; a única medida para racionalizar o consumo da água é o inevitável menor esforço do aumento dos preços; as águas sanitárias continuam a ser tratadas; as captações e reservas de água são feitas para produção de energia, portanto, onde as reservas são naturalmente menos necessárias.
Não é apenas inadmissível legar dívidas e déficites às gerações futuras, também o é deixá-los sem água.
- Frase da semana: "Os resultados dos Jogos (Olímpicos) são a imagem do que somos como país", Vicente Moura, Presidente do Comité Olímpico de Portugal. Tudo o que fazemos é reflexo do que somos, havendo sempre as excepções para o melhor e o pior. O Comandante Vicente Moura talvez quisesse dizer que o "dirigismo" do COP é o reflexo da mediocridade organizacional do país, daí o saltar para a praça pública a tentar justificar-se com uma rajada de atoardas. Não teve a sorte de 2008 em que umas medalhas ao cair do pano, em Pequim, o levaram a dar o dito por não dito quanto à sua continuidade à frente do COP.
- Livro da semana: "A Insustentável Leveza do Ser", a pensar numa não-existência: o Prof. Cavaco Silva.

12 agosto 2012

CURIOSITY, a medalha de ouro dos EUA em Marte

Os jogos, as competições desportivas,sublimaram as tendências guerreiras inerentes à condição humana. Os Jogos Olímpicos da Era Moderna são o exemplo acabado e mais visível dessa sublimação quando a disputa pelas medalhas entre o bloco ocidental - principalmente EUA - e o bloco de Leste consubstanciava a contenda pelo primeiro lugar de nação mais poderosa do Mundo, sendo disso reflexo as vitórias desportivas. Os EUA foram claramente dominadores dos Jogos de Londres (se bem que as provas rainhas tenham tido outros vencedores) relegando para segundo lugar o grande gigante que é a China.
A data de "amartagem" da Curisity no planeta vermelho não terá sido propositadamente programada para período de olimpíadas,mas a coincidência do maior número de medalhas dos EUA nos Jogos de Londres com o feito tecnológico, mostra qual o bloco que ainda se mantém na vanguarda da tecnologia, portanto com vantagem para a guerra, já que os mais apetrechados tecnologicamente são invariavelmente os vencedores.
Um robô a explorar Marte e a declarção de Obama que até 2030 haverá um homem (quer ele dizer um americano) a pisar aquele planeta, não é mais do que a declaração reavivada do relançamento do programa espacial de John Kennedy numa clara vontade de ganhar, à época, a corrida do espaço ao bloco soviético...e demonstrar o poderio bélico.
Os EUA bem podem congratular-se desta medalha de ouro conquistada em Marte.
Para reflexão: os países da Uni-ao Europeia ganharam muito mais medalhas do que os EUA. Se fosse uma verdadeira União, poderíamos estar agora a pousar em Júpiter?

31 julho 2012

VISAO ACTUALIDADE DA SEMANA

- Estação parva: a silly season tem de tudo, menos de parva, e em contraponto com o resto do ano revela-se bem mais séria do que possa parecer. Para além de se evaporarem do nosso convívio diário muitos políticos e comentadores que fazem jus ao epíteto da estação, teremos a avaliação da troika e as suas soluções para a derrapagem de execução orçamental e substituição do corte de subsídios na função pública.
- Jogos Olímpicos: O Reino unido fez uma sessão de abertura mostrando o que melhor tinha realizado nos últimos 150 anos e de que muito se orgulha. Um dos quadros era sobre o seu Serviço Nacional de Saúde. Sintomático, num país tido como liberal e conservador, que um dos seus orgulhos seja a redistribuição da riqueza numa área sensível como é a da saúde.
- Eleições nos EUA: Em Portugal segue-se com pouca (ou nenhuma) atenção a corrida à Casa Branca, a não ser durante a campanha propriamente dita em que as televisões enviam uns repórteres que nada dizem nem esclarecem sobre as ideias dos candidatos. É interessante ir conhecendo as declarações do candidato republicano, Mitt Romney, pois está definitivamente interessado em destornar Bush (filho) na idiotice. George W. Bush ao pé de Mitt Romney parece um licenciado, memso que com equivalências. Mitt Romney pode ser o idota de serviço, mas ele não é mais do que a face visível de certos senhores do Mundo.
- Frase da semana: Porque trata a Alemanha a zona euro como uma filial? Jean-Claude Juncker. Para já, filial é elogio, a Alemanha trata os países da zona euro como servos da gleba. Depois, o sr. Juncker é Primeiro-Ministro (legítimo e legitimado)do Luxemburgo há 17 anos, uma das praças financeiras da Europa pouco escrutinadas. Antes do finalmenete, o sr. Juncker esteve à frente, ou colaborou em lugares de destaque, com várias instituições financeiras que trouxeram a Europa (e o mundo ocidental) a este ponto. Finalmente, para quando uma posição concertada dos países em maiores dificuldades dentro do União Europeia? É a solidariedade, estúpidos, diria o sr. Clinton se estivesse a disputar eleições.
- Livro da semana: O Complexo de Portnoy, Philipe Roth. Primeiro estranha-se, depois entranha-se.

12 julho 2012

A porcaria do Dr. Pedro Passos Coelho

Comecemos pelo verdadeiro dito em inglês,don t hit the shit to the fan - não atires merda à ventoinha. O senhor Primeiro-Ministro diz não revelar pormenores ou mesmo pormaiores do orçamento de 2013 para não atirar porcaria à ventoinha e não assustar os portugueses. Sejamos benévolos, mas pouco crentes, que quis dizer que não pretenderia meter medo aos portugueses com cenários catastrofistas que depois eventualmente não se venham a concretizar.
Tomando como bom este raciocínio, tiro a conclusão que o senhor Primeiro-Ministro não quererá mentir de novo aos portugueses, como o fez durante a campanha eleitoral quando afirmava que outros mentiam ao dizer que ele iria tirar os subsídios de férias e de Natal se viesse a formar governo; não quererá mentir de novo,como o fez quando anunciou a data de reposição dos ditos subsídios, obrigando o seu ministro das finanças a confessar que tinha cometido um lapso; etc., etc.
O Dr. Pedro Passos Coelho há muito que anda a atirar porcaria para a ventoinha, só que agora a geringonça começou a funcionar e ele não saiu da frente. Mesmo assim, gosto mais do provérbio mais português, não cuspas para o ar... É mais limpo.

10 julho 2012

VISAO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Licenciatura do Dr. Miguel Relvas: A licenciatura do Dr. Miguel Relvas pode ser permitida por lei. Mas depois do acesso ao processo e declarações de responsáveis da Lusófona parece provado o espirito colaboracionista da Universidade, que não consta seja tão benemérita com a maior parte dos alunos.
O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa diz que este caso é um "assunto" porque se faz o paralelismo com o do Eng. José Sócrates. É verdade, e não será alheio a essa verdade que a grande parte dos que verberavam contra Sócrates agora estão calados ou fazem do caso uma tímida recordação.
As redes sociais são hoje um fortíssimo meio de divulgação e contestação de determinadas práticas. O Dr. Miguel Relvas não pode olvidar esse facto e de como isso se reflecte na imagem do governo do qual ele é rosto proeminente.
- Renegociar a dívida: precisamos de mais tempo para pagar a dívida e cumprir as metas do déficite, mas devemos esperar que seja a troika a propor, disse Miguel Frasquilho (com ar compungido, sem a arrogância a que nos acostumou) num debate televisivo. Afirma-se que parece mal a um devedor demonstrar que precisa de novas condições mais facilitadas. Já alguma vez se viu algum credor de moto próprio dizer que deve conceder maiores facilidades aos devedores?
- Vaias a membros do Governo e PR: a austeridade gera descontentamento, é um facto. Mas os apupos que têm sido notícia devem-se aos lapsos (os subsídios de férias e Natal serão repostos parcialmente a partir de 2015), à falta de ética política (faltar à verdade numa Comissão Parlamentar), aos disparates nas declarações (a minha reforma não chega para viver), aos falsos moralismos (o Eng. Sócrates devia ter vergonha de como conseguiu a licenciatura). Que lhe espetem os dedos nos olhos e o tomem por parvo, é disso que o povo não gosta.
- Livrarias em Portugal : Portugal tem das mais antigas livrarias do mundo (Bertrand, Chiado), uma das mais belas do mundo (Lello, Porto) e a segunda maior do Mundo (Esperança, Funchal). O que fazemos com elas? E com todas as outras.
- Frase da semana: Se têm alternativas aos cortes que as apresentem, disse o senhor Primeiro-Ministro depois de saber que é necessário encontrar alternativa aos cortes dos subsídios da função pública. Estou de acordo, mas a frase não deveria ter sido dita com tom desafiador e com acinte, mas com um verdadeiro convite ao diálogo, ao entendimento e ao consenso.
- Livro da semana: Obras Completas , Jorge Luís Borges, qualquer volume. Ler um poema, um conto, uma peça ensaística ou de pura reflexão é ficar a meditar em frente do mar ou de verdes campos, é uma sugestão para as férias.

06 julho 2012

Cada vez percebo menos

Como trabalhador do sector privado, a decisão do Tribunal Constitucional sobre o corte dos subsídios da Função Pública não me podia ser mais desfavorável, na perspectiva de ser novamente sobretaxado. Como democrata, a decisão do TC parece-me justa e acertada no que diz respeito ao principio da igualdade. Como defensor do Estado de Direito, fico contente de o primado da justiça se ter sobreposto ao primado da economia. Como ignorante em Direito, não entendo como é que se permite que se mantenha algo que é ilegal. O ano passado fez-se um orçamento rectificativo para ajustar uma execução orçamental que já estava em curso. O TC teve medo de ser acusado de ser o responsável pelo incumprimento do déficite de 2012. Como keynesiano,não vejo como é que a austeridade pura e dura e depois de desmantelado o tecido produtivo relança a economia. Acho que os liberais também já estão com dificuldade de ver. Como pessimista, estou convencido que a espiral recessiva vem aí. A espiral, porque a recessão já cá está. Como cidadão que não tem experiência em futurologia, não sendo portanto licenciado na matéria, não vejo como é que se sai disto. Como invejoso, invejo tanta gente com tantos saberes que nos apregoa hoje uma coisa, amanhã outra, e cada vez o fundo vai mais para baixo. Sim, porque quando batemos no fundo, o fundo desce.

01 julho 2012

Portugal pós-moderno

No Portugal pós-moderno quem falha os cálculos e objectivos é bom aluno; quem mente para ganhar eleições, depois, na pós-modernidade, apresenta-se como o paladino da credibilidade do pais; antigamente, explicava-se a estatística exemplificando se uma pessoa come um frango e outra come nenhum, em média come meio frango cada uma, no pós-moderno, se uns quantos dão um rombo de nove mil milhões de euros num banco, em média todos os portugueses estão a viver acima das suas possibilidades; antigamente, uma grávida dizia que estava grávida, não estava doente, hoje o subsídio de maternidade é reduzido para ser equiparado ao subsídio de doença; outrora, havia ministros, hoje, só há álvaros; no pós-moderno, enquanto o Estado assume as dívidas de baronetes da política, as famílias que devem a prestação da casa entregam-nas aos bancos; antes havia desempregados, hoje um milhão e duzentos mil oportunistas; na pós-modernidade, deve existir o espírito empreendedor, todos devemos fabricar bonequinhos de barro, patchworks e frasquinhos de compotas para vendermos uns aos outros; no pós-moderno, um governante não erra, é surpreendido pela realidade, nem, tão-pouco mente, tem lapsos; antes, havia um Presidente da República, hoje, um reformado de magra pensão.
Ontem, havia memória das coisas, no pós-moderno, apenas uma vaga ideia.

26 junho 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Presidente da ERC: Carlos Magno, homem bom, apresentou-se no programa Quadratura do Circulo, qual Egas Moniz perante o Rei de Castela para expiar as falsidades do seu senhor D. Afonso Henriques. Sabedor das posições dos três participantes permanentes,António Costa, Lobo Xavier e Pacheco Pereira, de corda ao pescoço, disse puxai. Carlos Magno não contrapôs argumentos aos seus opositores, limitou-se a explicar como procedeu; se quisesse realçar que a sua posição não se confundia com subserviência ao governo bastaria repisar na frase do relatório, a comissão apurou factos ética e institucionalmente reprováveis da parte do ministro Miguel Relvas. Por menos, caíram Carlos Borrego e Manuel Pinho.
- Um ano de governo PSD-CDS: o governo assinalou a data com o regresso de Paulo Portas, tal como os clubes de futebol fazem com os reforços de inverno chamando jogadores emprestados a outras equipas.
- Execução orçamental: Não cumprida até à data, e com medidas de austeridade que extravasam o plano de resgate. Como pode a troika dar nota mais nas avaliações que faz? Só se for no ataque ao Estado Social, no desbaratar do erário público com privatizações apressadas, no aumento do desemprego que põe em causa a execução orçamental, na aprovação de uma lei de despedimentos facilitados. A prova oral do bom aluno deveria ser pública para se perceber o que é avaliado.
- Moção de censura do PCP: Quando um governo é suportado por uma maioria parlamentar o destino de uma moção de censura é o caixote do lixo. No entanto, não deixa de ser legítima a sua apresentação. Só que quem contesta o discurso da inevitabilidade não deveria tomar iniciativas que dão a ideia que é inevitável aguentarmos o actual governo.
- Europeu de Futebol: Portugal qualificou-se para a ronda seguinte. Independemtemente do desporto e do espectáculo, estes torneios adquirem o sabor das justas de cavalaria da Idade Media. Não é por acaso que é nos jogos que o povo canta o hino pátrio com maior fervor. Sem dúvida que a passagem à final seria um ânimo, mesmo que temporário, no deserto de boas notícias.
- Frase da semana: "Ficámos espantados com os níveis de desemprego", ministro das Finanças. Não acredito que pense tão lento quanto fala, pelo que julgo que o senhor ministro será mais dado a lapsos do que a falhas de perspicácia e de inteligência. São demasiados os erros de distracção para técnico tão competente.
- Livro da semana:O Sentido do Fim, de Julian Barnes.

22 junho 2012

Alexandra Alpha, José Cardoso Pires, Publicações Dom Quixote

Alexandra Alpha é um romance publicado em 1987, a mais de dez anos de distância do 25 de Abril, no qual José Cardoso Pires faz um retrato, em tons fortes, de uma fauna burguesa intelectual lisboeta, no período da ditadura, a partir dos anos 60, que atravessa os anos pré-revolucionários, e num traço rápido termina em 1976.
Alexandra Alpha é um dos bons romances portugueses do séc. XX que transpira todo o atrofiamento intelectual, político e ideológico em que Portugal vivia e que se atribuía à falta de liberdade, mas que o autor assaca também à incapacidade desta fauna em se libertar e libertar o País. Com dúvidas e crises existenciais as personagens principais, Alexandra, Maria, Sophia, e outros, nenhum deles pertence à classe dos explorados, frequentam o bas-fonds lisboeta, fazem sexo ocasional (o que já era uma grande libertação)e olham com olhar dolente a prisão em que estão metidos.
Em Alexandra Alpha não há trama dramática, nada de importante a contar, nada a descobrir, que não seja o quotidiano; nada mais do que historietas dispersas, ligadas e encadeadas apenas pela observação acutilantes dos tiques sociológicos passados a escrito pela narrativa portentosa do escritor. José Cardoso Pires faz-nos sorrir com situações trágicas, torna-nos melancólicos com situações risíveis; do parágrafo poético passa rápido à escrita realista e contundente; a realidade, a sua caricatura, e o fantástico convivem num estilo narrativo fluente.
A ler ou a reler (o que foi o caso).

14 junho 2012

A gastronomia do Euro 2012

Em dia que jogue a Selecção Nacional sou indefectível adepto da travessinha de caracóis. Nada de Praça Sony, Alameda da Universidade, ou Fonte Luminosa, com a turba-multa sentada no ervado e de lata de cerveja a aquecer na mão. Sou pelo pratinho de caracóis em snack-bar bairrista, já com os nóveis plasmas, e no convívio com a rapaziada.
Venham as primeiras imperiais e a primeira travessa para ver se o bicho está bom de tempero e acalmar os nervos causados por aqueles anúncios irritantes, quando sabemos que lá, lá no estádio, a claque já grita pelos nossos que evoluem no terreno fazendo passes compenetrados e esticando pernas e braços em aquecimento. Bichinho baboso e repugnante enquanto vivo, o caracol é, deyois de cozinhado, um bicho simpático, sobretudo o miudinho, de carapaça aveludada ao tacto e escorregadia derivado àquele molhinho que lhe dá o gosto.
Calor, camisola de alças, futebol, imperial e pratinho de caracóis.
Começa o jogo e o caracol é posto de lado. Comem-se os últimos à pressa porque no princípio do jogo ainda é permitido tirar os olhos do televisor que não é suposto haver logo golos, jogadas de perigo ou filhas-da-putíce dos árbitros. No decorrer do encontro leva-se continuadamente a mão à bejeca, companheira de lances duvidosos, bolas à trave, sarrafadas dos adversários.
A meio da primeira parte a bola já rondou diversas vezes a nossa baliza e nós ainda não fizemos um remate digno desse nome, comentador dixit. A nervoseira não aguenta mais, venha mais um pratinho de caracóis. Escaldam ainda nos dedos. Um olho no bicho para o desentocar, outro no televisor.
Se é golo de Portugal é a cerveja que salta sem protestos do gastrópode por ser relegado para segundo plano; se é golo do adversário o bichinho é refúgio do olhar esgravatando no recôndito da casca para evitar rever o cabeceamento fatal. Sou definitivamente pelo caracol, temos ali um amigo.

As gambas são outra coisa. São para um Alemanha / Holanda, para um Itália /França que são jogos aos quais se assiste com connaisseurs. São jogos de intelectuais, equipas que utilizam jogadores de outro mundo, com tácticas e técnicas de deixar o desconhecedor aborrecido, mas em que um connaissseur descobre a desutilização dos espaços vazios, mantendo-os vazios; do lançamento em profundidade para o defesa contrário; o connaisseur cita nomes de jogadores, desta e de outras eras, demonstrando o conhecimento de línguas. São jogos para verdadeiros amantes do futebol porque não há paixão clubista ou nacionalista em jogo. Assiste-se porque já se sabe de futebol e pretende-se saber ainda mais.
Reúnem-se os tais connaisseurs na casa de praia ou de campo e, depois de um almoço com as respectivas, no jardim junto à piscina, partem em calções e t-shirts de lagarto para a sala do televisor: um grande plasma com sensarround no qual se programa o som para Estádio.
fabuloso a bola ainda não rondou nenhuma das balizas porque as defesas se sobrepõem aos ataques, comentador dixit. Aí, a frase sacramental do dono da casa “e se fosse buscar umas gambas? Sempre dá para entreter” E aparece uma travessa com os bichos e uns guardanapos de papel.
As gambas dão para descascar e ver o jogo ao mesmo tempo. Fincam-se os olhos no televisor, põe-se o prato nos joelhos, parte-se o animal em dois, cabeça para um lado, corpo para o outro, vai-se debulhando o bicho até ficar a polpa tenrinha. E a bola roda, roda, roda, losango invertido, jogo posicional. No fim, a conclusão de espertos na matéria: "isto nunca são grandes jogos, são jogos muito tácticos".

Existem uns jogos do campeonato para os quais não se descobriu ainda o acompanhamento mastigativo adequado. Vai-se beberricando na cerveja, mas não há nada a condizer para trincar. São os jogos Rússia / Polónia, Grécia / República Checa. Aliás põe-se o avental para preparar o jantar e têm-se o televisorzinho da cozinha sintonizado no jogo, "que não interessa a ninguém".

12 junho 2012

VISAO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Campeonato da Europa 2012: A boa participação no Euro de 2000, o chegar a final de 2004 e a existência de Cristiano Ronaldo fazem os portugueses sonhar há anos com a conquista de um campeonato a nível de selecções. Mas os apuramentos sempre com o credo na boca, as exibições descoloridas, os "falhanços" sempre justificados com intrigas e jogos de bastidores, são demasiado visíveis para os portugueses acreditarem. Com a conquista do Mundial de Juniores de 1991, Cavaco Silva demonstrava a sua criação do Homem Novo Português, que ele resgatara aos anos de brasa do pós-25 de Abril e principalmente ao soarismo. Passaram-se 20 anos, veremos que Homem, da sua criação, nos vai apresentar depois do Mundial da África do Sul e deste Campeonato da Europa.

- A estrela da Selecção Nacional de Futebol: É o Cristiano Ronaldo? Não é, é O autocarro. Nem sempre o mesmo, nem sempre da mesma nacionalidade, mas é O autocarro. Quando as televisões nos querem brindar com reportagem em directo das actividades da selecção, lá está o omnipresente autocarro. À chegada, à partida, no hotel, no estádio, no aeroporto. São de uma pobreza franciscana estes directos e pelo menos a RTP não tinha necessidade de gastar tanto dinheiro a filmar O autocarro.

- A linha de crédito para a banca de Espanha: efectivamente trata-se um resgate disfarçado. O empréstimo e necessário porque o Estado espanhol não tem dinheiro suficiente para injectar nos bancos. Outros países se seguirão porque o sistema financeiro é transaccional e já se viu que os bancos andarm todos a viver acima das suas possibilidades. A necessidade deste resgate só para ter sido surpresa para Rajoy, porque a tripa-forra bancária foi consentida e estimulada pelos governos e pela Comissão Europeia, assim como o é a política de austeridade cega insensível ao desemprego. Quem estava na oposição com ambições de governar um país não pode dizer que desconhecia.

- Frase da semana: O discurso inteiro do Presidente Cavaco Silva nas comemorações do 10 de Junho. A mais anódina, insipiente, soporífera intervenção de um Chefe de Estado de um pais em crise financeira, com 16% de desempregados. O senhor Presidente que não se desculpe a dizer que o discurso cumpria integralmente a Constituição exercendo o seu magistério de alerta.

- Livro da semana: Paciência. Não, não é o título de um livro. É que não tendo nenhum livro para recomendar, sei que os meus leitores são extremamente pacientes.

11 junho 2012

COSMOPOLIS, Don DeLillo, Relógio d Água

COSMOPOLIS chegou ao cinema, filme produzido por Paulo Branco. Talvez por isso a publicação,agora, do romance de Don DeLillo em Portugal. Publicado em 2003, é tido hoje como uma antevisão da crise económico-financeira que o Mundo atravessa. Não é. Se algumas das situações, acções ou personagens, podem ter alguma justaposição com a actualidade deve-se ao facto de as consequências de um sistema financeiro especulativo desenfreado serem mais previsíveis do que se possa pensar. Eric, corretor de sucesso, fabulosamente rico, acorda um dia com dois objectivos em mente: especular com o iéne e atravessar Nova York, na sua limusina de dez metros com chão em mármore de Carrara, para dar uma aparadela no cabelo. Eric deve o seu êxito à capacidade que tem em descortinar tendências e sinais no comportamento dos mercados que lhe permitem auferir milhões. Nota que o iéne está a atingir o seu nível máximo e investe apostando na queda da moeda japonesa. Teimosamente, ao longo do percurso até ao barbeiro, a moeda japonesa vai batendo máximos sucessivos, e ele vai investindo mais e mais dinheiro, perdendo tudo, a fortuna dele e da mulher, oriunda de família de banqueiros.
Don DeLillo não escreveu sobre a crise actual, escreveu sobre a catástrofe do capitalismo, não sobre o fim do sistema (Isto é o mercado propriamente dito. Estas pessoas são uma fantasia gerada pelo mercado, não existem fora do seu âmbito. Mesmo que queiram recusar o mercado,pôr-se de fora, não têm para onde ir. Não há lado de fora.), mas do modo como consome e devora o que apanha pelo caminho. Em tom de parábola e de antecipação sociológica, debruça-se sobre a sociedade em que tudo tem cotação e é transaccionável em zeptasegyndos, tudo faz parte dos mercados desde que tenha tradução em linhas intermináveis de números a correr em ecrans. Tudo é transaccionável e tem um preço, à excepção dos sentimentos e emoções, pela simples razão de que já não existem. Por isso os personagens de DeLillo estão virados de dentro para fora, embora discorrendo sobre alguns factos humanos, não são intimistas, parecem não ter crises existenciais, são frios e incipientes.
Os acontecimentos de COSMOPOLIS desenrolam-se durante 24 horas e na viagem de carro, talvez com o significado da velocidade temporal que a tecnologia imprimiu aos mercados financeiros; ascensão e queda de um corretor multi-milionário, os mercados o fizeram, os mercados o destruíram; o cheiro a sexo atravessa o livro e as relações sexuais extraconjugais do protagonista acontecem ao longo do dia, talvez porque exista uma relação próxima entre a excitação sexual e a excitação dos mercados.
Sem dúvida, um livro a não perder, escrito por um dos melhores escritores da actualidade.

05 junho 2012

VISAO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Paulo Portas desapareceu: A última semana foi particularmente penosa para o ministro Miguel Relvas, ou seja para o governo, pois tudo que afecte o ministro tem consequências no governo. Nesta crise de credibilidade do governo foi notada a ausência de corpo e espírito do ministro Paulo Portas. O Primeiro-Ministro ficou irremediavelmente só.
Paulo Portas, que na sondagem de hoje aparece em último lugar em índices de popularidade (talvez resultado de andar escondido), está indubitavelmente a amealhar capital para negociar com o PSD o próximo orçamento de Estado, uma maior preponderância governativa do CDS em futura remodelação ministerial, uma escolha mais democrata-cristã do próximo candidato a Presidente da República.
- O PS no Parlamento: O Dr. António José Seguro está condenado a não poder seguir a estratégia de Paulo Portas e desaparecer. Pelo contrario, é obrigado a mostrar-se. Mas, alguém que o avise para não se limitar a abstenções violentas e indignadas e a prestações como a última sobre os serviços de informação. Portugal precisa urgentemente onde se apoiar (o Presidente da República já não desempenha o papel).
- A vigilância do Estado: A segurança quer-se sobretudo preventiva. Eficazmente preventiva. E qualquer Estado necessita de ter informações sobre a segurança, ou falta dela, para providenciar paz, tranquilidade, aos seus cidadãos. Mas, todos os Estados necessitam de uma vigilância eficaz sobre os seus serviços de informação, para que não sejam desvirtuados os princípios que norteiam a criação de tais serviços: proteger os cidadãos e não tratá-los como se fossem todos focos de ameaça. Entre a falta de segurança e a devassa da vida privada e ser considerado potencial criminoso, prefiro, sem dúvida, a primeira.
- Frase da semana: baixar os salários não é uma política, é uma urgência, António Borges. O Dr. Passos Coelho, liberal assumido, mas pouco esclarecido, já percebeu que para pôr as suas ideias em prática não pode andar a apregoá-las, como o fazia na campanha eleitoral e nos primeiros dias de governo. Daí o contrariar sistematicamente os liberais mais desabridos.
- Livro da semana: COSMOPOLIS, Don DeLillo, publicado em 2003, antecipa de uma maneira espantosa e premonitória a crise financeira. Um excerto, só para deixar água na boca: Isto é o mercado propriamente dito. Estas pessoas são uma fantasia gerada pelo mercado, não existem fora do seu âmbito. Mesmo que queiram recusar o mercado,pôr-se de fora, não têm para onde ir. Não há lado de fora.

01 junho 2012

As Perturbações do Pupilo Torless

Robert Musil, escritor austríaco da primeira metade do séc. XX, é considerado um dos grandes ficcionistas do século passado. A elevação a tal patamar não será devida ao seu primeiro romance publicado em 1906, As Perturbações do Pupilo Torless.
Musil, formado em engenharia e matemática, explora nesta obra, de estrutura narrativa simples e linear, as inquietações intelectuais e emocionais do adolescente Torless, filho de boas famílias, que estuda em colégio interno. Estabelecendo um paralelismo entre o mistério dos números imaginários - de que modo essa abstracção pode ser real ou influenciar o modo como se observa a realidade - e o mundo obscuro das pulsões sentimentais e emocionais, o autor vai expondo o evoluir das dúvidas existenciais do jovem. Torless e mais dois companheiros, Beineberg e Reiting, passam uma temporada a atormentar outro aluno, Basini, humilhando-o e obrigando-o inclusivamente a práticas sexuais. Entre Torless, frequentador da prostituta Bozena, e Basini estabelece-se uma relação homossexual, ao mesmo tempo refutada e consentida pelo protagonista, o que o deixa perturbado quanto à realidade e imaginário dessa relação.
O romance, que vale mais pela temática do que pela energia e estética literária, insere-se numa corrente, o Bildungsroman, que descreve o processo de formação e preparação para a idade adulta, discutia as ciências sociais, a darem os primeiros passos, e os tormentos da mente que colocavam em confronto o Eros e o Thanatos, bem como as críticas feitas às instituições de ensino, normalmente em regime de internato que oprimem o desenvolvimento do indivíduo. Musil, contemporâneo e do mesmo país que Freud, não escapa à inclusão de acontecimento traumático na infância do jovem Torless e que irá ter repercussões tardias.
As Perturbações do Pupilo Torless, é um romance percursor, e que poderá ajudar a enquadrar a obra maior de Robert Musil, Um Homem Sem Qualidades, bem como o romance de outro autor, começado a ser escrito em 1912, A Montanha Mágica, de Thomas Mann.