Alexandra Alpha é um dos bons romances portugueses do séc. XX que transpira todo o atrofiamento intelectual, político e ideológico em que Portugal vivia e que se atribuía à falta de liberdade, mas que o autor assaca também à incapacidade desta fauna em se libertar e libertar o País. Com dúvidas e crises existenciais as personagens principais, Alexandra, Maria, Sophia, e outros, nenhum deles pertence à classe dos explorados, frequentam o bas-fonds lisboeta, fazem sexo ocasional (o que já era uma grande libertação)e olham com olhar dolente a prisão em que estão metidos.
Em Alexandra Alpha não há trama dramática, nada de importante a contar, nada a descobrir, que não seja o quotidiano; nada mais do que historietas dispersas, ligadas e encadeadas apenas pela observação acutilantes dos tiques sociológicos passados a escrito pela narrativa portentosa do escritor. José Cardoso Pires faz-nos sorrir com situações trágicas, torna-nos melancólicos com situações risíveis; do parágrafo poético passa rápido à escrita realista e contundente; a realidade, a sua caricatura, e o fantástico convivem num estilo narrativo fluente.
A ler ou a reler (o que foi o caso).