22 junho 2012

Alexandra Alpha, José Cardoso Pires, Publicações Dom Quixote

Alexandra Alpha é um romance publicado em 1987, a mais de dez anos de distância do 25 de Abril, no qual José Cardoso Pires faz um retrato, em tons fortes, de uma fauna burguesa intelectual lisboeta, no período da ditadura, a partir dos anos 60, que atravessa os anos pré-revolucionários, e num traço rápido termina em 1976.
Alexandra Alpha é um dos bons romances portugueses do séc. XX que transpira todo o atrofiamento intelectual, político e ideológico em que Portugal vivia e que se atribuía à falta de liberdade, mas que o autor assaca também à incapacidade desta fauna em se libertar e libertar o País. Com dúvidas e crises existenciais as personagens principais, Alexandra, Maria, Sophia, e outros, nenhum deles pertence à classe dos explorados, frequentam o bas-fonds lisboeta, fazem sexo ocasional (o que já era uma grande libertação)e olham com olhar dolente a prisão em que estão metidos.
Em Alexandra Alpha não há trama dramática, nada de importante a contar, nada a descobrir, que não seja o quotidiano; nada mais do que historietas dispersas, ligadas e encadeadas apenas pela observação acutilantes dos tiques sociológicos passados a escrito pela narrativa portentosa do escritor. José Cardoso Pires faz-nos sorrir com situações trágicas, torna-nos melancólicos com situações risíveis; do parágrafo poético passa rápido à escrita realista e contundente; a realidade, a sua caricatura, e o fantástico convivem num estilo narrativo fluente.
A ler ou a reler (o que foi o caso).

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