25 abril 2012

25 de Abril

Ouvi ontem um jovem e presunçoso deputado da Nação (eu digo o nome: Filipe Menezes, filho)afirmar que o 25 de Abril não é uma data ideológica.
Quero crer que o jovem e presunçoso deputado da Nação já foi pelo menos ao dicionário ver o que significa ideologia; que já terá passado os olhos por algum manual (talvez daqueles tipo Informática para Tótós) onde se faça a distinção entre democracia e totalitarismo. Tê-lo feito para atacar os comunistas, mas esqueceu-se que no 25 de Abril se derrubou um regime totalitário que durou 48 anos; e que nessa data se opôs de forma determinada a ideologia da liberdade à ideologia da opressão.
Possivelmente o jovem e presunçoso deputado da Nação, quererá dizer que hoje não é a liberdade que está em causa, que a liberdade é um dado adquirido e que existe em estado puro na natureza. Talvez tenha de ler mais uns quantos livros para entender que liberdade não se confina à expressão de pensamento e ausência de polícia política. Mas,se não quiser ler, bastará escutar o Sérgio Godinho,«ai, só há liberdade a sério, quando houver a paz, o pão, a habitação, a saúde, a educação». E para obter tudo isto há que fazer escolhas ideológicas.
O 25 de Abril é a data mais marcadamente ideológica que se celebra em Portugal, aquela que lembrará sempre que é preciso melhorar a democracia, o sistema político, a qualidade dos políticos, porque haverá sempre espaço para MAIS LIBERDADE PARA O POVO.

24 abril 2012

Faz hoje anos, 38 anos depois.

Pertencia eu à equipa de rugby do Técnico. Participámos às 8 da noite num jogo de treino com a selecção nacional que no dia seguinte deveria partir para a Polónia onde iria ter um jogo oficial. Depois do jogo, eu e mais uns santos (queria escrever quantos, mas o corretor colocou santos, vou deixar assim) fomos até à Imperial do Campo Pequeno comer um bitoque completo: bife, batatas, salsichas, fiambre e queijo. De seguida partimos a correr as capelinhas da noite, tendo terminado na Trindade pela uma da manhã. De regresso a casa, sem vislumbrar facto anómalo, deitei-me no convencimento que no dia seguinte me apresentaria na entrada do Instituto Superior Técnico para deixar o cartão de controlo das entradas (por acaso o tal controlo só foi erradicado no dia 26 de Abril, a instâncias do Prof. Brotas).

Logo à noite completam-se 38 anos sobre a noite em que comi o meu último bitoque em ditadura. Estranhamente vai-me parecendo que a carne se está a tornar tão rija* como antigamente.

*Metáfora, o bife da Imperial do Campo Pequeno não era rijo.

23 abril 2012

Meridiano de Sangue, Cormack McCarthy

Cormack McCarthy denominou, ele próprio, um conjunto de três livros de Trilogia de Fronteira porque passados na região fronteiriça entre os Estados-Unidos e o México. Estranha forma de começar este texto quando já de seguida se diz que na mencionada trilogia Meridiano de Sangue não se inclui. Só que em toda a sua obra, McCarthy dá a sensação de em espírito nunca abandonar essa região de fronteira: a física e a mental. Meridiano de Sangue não foge à regra: um bando de homens "brancos" (entre aspas, porque também, integra um negro e índios)percorre a zona fronteira entre os EUA e o México com um rumo vago, com um destino incerto e um objectivo que nunca é verdadeiramente definido, a não ser o da sobrevivência. Mesmo assim a vida não é tida em conta, nem em grande consideração. A dos outros e a própria.
Cormack McCarthy relata o deambular do bando de Glantone, do Kid e do Juiz, por uma terra sem lei que não seja a força, o terror, a ausência de humanidade. E esta é a fronteira mental, o moral, que Cormack McCarthy traça para nós vermos de que lado pomos o pé. Mas os seres humanos não são os protagonistas desta viagem alucinada. O romance é uma longa descrição de uma terra inóspita e violenta, feita de deserto e sangue, desfiladeiros alcantilados e suor, frio de enregelar e ossadas, sol abrasivo e escalpes, animais necrófagos e seres humanos que lhes providenciam alimento. No meio da paisagem, como outros animais evoluem bandos de desperados, milícias, índios, populações sem defesas contra os elementos naturais e os homens sem valores. A terra O bando é apenas mais um elemento da natureza que serve para nos guiar através de uma escrita violenta que reflecte à perfeição a violência e a rudeza dos lugares, do ar, da noite, do dia, dos homens.

Meridiano de Sangue, com subtítulo O Crepúsculo do Velho Oeste (o crepúsculo é também uma fronteira) porventura o melhor romance de Cormack McCarthy.