23 abril 2012

Meridiano de Sangue, Cormack McCarthy

Cormack McCarthy denominou, ele próprio, um conjunto de três livros de Trilogia de Fronteira porque passados na região fronteiriça entre os Estados-Unidos e o México. Estranha forma de começar este texto quando já de seguida se diz que na mencionada trilogia Meridiano de Sangue não se inclui. Só que em toda a sua obra, McCarthy dá a sensação de em espírito nunca abandonar essa região de fronteira: a física e a mental. Meridiano de Sangue não foge à regra: um bando de homens "brancos" (entre aspas, porque também, integra um negro e índios)percorre a zona fronteira entre os EUA e o México com um rumo vago, com um destino incerto e um objectivo que nunca é verdadeiramente definido, a não ser o da sobrevivência. Mesmo assim a vida não é tida em conta, nem em grande consideração. A dos outros e a própria.
Cormack McCarthy relata o deambular do bando de Glantone, do Kid e do Juiz, por uma terra sem lei que não seja a força, o terror, a ausência de humanidade. E esta é a fronteira mental, o moral, que Cormack McCarthy traça para nós vermos de que lado pomos o pé. Mas os seres humanos não são os protagonistas desta viagem alucinada. O romance é uma longa descrição de uma terra inóspita e violenta, feita de deserto e sangue, desfiladeiros alcantilados e suor, frio de enregelar e ossadas, sol abrasivo e escalpes, animais necrófagos e seres humanos que lhes providenciam alimento. No meio da paisagem, como outros animais evoluem bandos de desperados, milícias, índios, populações sem defesas contra os elementos naturais e os homens sem valores. A terra O bando é apenas mais um elemento da natureza que serve para nos guiar através de uma escrita violenta que reflecte à perfeição a violência e a rudeza dos lugares, do ar, da noite, do dia, dos homens.

Meridiano de Sangue, com subtítulo O Crepúsculo do Velho Oeste (o crepúsculo é também uma fronteira) porventura o melhor romance de Cormack McCarthy.

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