04 maio 2012

A Visita do Brutamontes, Jennifer Egan, Quetzal

A Visita do Brutamontes aparece-nos com duas cartas de recomendação: o prémio Pulitzer para Ficção (2011) e o National Book Critics Circle Award. Motivos mais do que suficientes para fazerem crescer água na boca e ao mesmo tempo desconfiar. O romance de Jennifer Egan, preenchido por uma galeria de personagens mais ou menos freaks, revisita o mundo do showbiz, da comunicação e do mediatismo, e desenrola-se no passado, presente e futuro, entre 1970 e 2020. Os ingredientes da obra são a conexão de tragédia, farsa, comédia que é comum a todos os personagens e que desemboca yara todos eles, mais tarde ou mais cedo, na visita do brutamontes. Como diz a crítica, uma novela de queda e presumível, (mas improvável, acrescento eu), redenção.
A estrutura narrativa, solidamente edificada na moda do romance norte-americano, desenvolve-se por saltos temporais, de personagens e de situações, deixando, que a ligação entre eles seja feita pelo leitor, encurralando-o, por vezes, em becos sem saída, que só a visita do brutamontes deslindará. O excessivo detalhe e pormenorização retiram alguma força ao impacte que a autora eventualmente queira provocar no leitor. Que o romance é uma provocação aos que habitam o mundo das indústrias cinematográfica e discográfica e a toda uma sociedade que apresenta esse mundo como a forma mais rápida e fácil de enriquecer.
A leitura do romance remete-nos para um déja vu, no sentido literal do termo, desta sociedade norte-americana: não é mais do que um Californication passado a escrito, com menos cenas de cama e de sexo.

01 maio 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Eleições presidenciais em França I - Hollande, candidato socialista, pode querer ser apenas presidente de França e para isso basta-lhe ter mais do que 50% dos votos. Hollande tem a oportunidade de ficar para a história da reconstrução europeia, para isso terá de rever a "política de alianças" dentro da Comunidade Europeia. Quererá ou será capaz de o fazer?

- Eleições presidenciais em França II - Com a expressiva votação na candidata de extrema-direita, quase 20%, Hollande e Sarkozy querem seduzir este eleitorado para a segunda volta. Com que promessas? com que propostas? O problema não é haver raposas, que são bichos da natureza, o problema está em, por vontade própria, metê-las dentro do galinheiro.

- Ausência das comemorações do 25 de Abril - A ausência da Associação 25 de Abril, de Mário Soares e de Manuel Alegre, das comemorações oficiais do 25 de Abril têm contornos e pesos distintos. Em comum têm o facto da não comparência, no mesmo local, e no mesmo acto, em que estava o governo. Não concordo com a opção mas que ela teve efeitos de discussão sobre o significado da data, teve; e que deu azo a que o PM, mais uma vez, desse mostras da sua (falta) de categoria política, isso deu.

- 1 de Maio - com o desemprego em quase 15% é irónico o dia ter o nome do Dia do Trabalhador.

- Frase da semana - Os subsídios de Natal e de Férias serão repostos a 25% ao ano, a partir de 2015, completando-se em 2018. Será lapso sr. Ministro das Finanças E a segir a 2018 vem 2019. Como dizia Karl Valentin no título da sua peça, E não se pode extreminá-los?

- Livro da semana - Moby Dick, de Herman Melville (um dos melhores romances de sempre). A obsessão do capitão Ahab pelo cachalote branco emparelha com a obsessão do actual governo pelas políticas de desmantelamento do Estado Social. O capitão tem desculpa, que a sua obsessão é quase demencial; o governo tem culpa agravada, pois é consciente.