14 abril 2011

"A Fábula", William Faulkner, Casa das Letras

O que é o romance? O contar de uma história? História verdadeira? Ficcionada? É o relato de um acontecimento sem história? A simples descrição de locais, de pessoas, de estados de alma?
Em "A fábula", William Faulkner, fornece-nos tudo o que é o romance: existe uma história - o fuzilamento de soldados franceses amotinados na frente de batalha na 1ª Guerra Mundial - que remete para outra história - a Paixão de Cristo -, mas grande parte do livro "nada" tem a ver com a história, é uma descrição de factos, sentimentos, pensamentos descritos com tal pormenor em longos parágrafos de escrita corrida - que se alonga, prolonga, volta atrás, muda de local, em que um minuto dura mais do que um minuto, um dia dura muito mais do que 24 horas - que a certa altura temos a sensação de serem puramente acessórios "desnecessários" à história da qual nos alheamos e à qual regressamos quando o autor a recupera.
É um livro extenso que não se pode ler a espaços, meia página agora, uma logo, outra ao deitar. Tem de se ler com tempo porque o martelar constante das repetições ao longo do texto são o segredo para descobrirmos (sentirmos) que todas as "desnecesidades" para a narração são afinal tudo o que contribui para que a história acontecesse como aconteceu.

13 abril 2011

"A Cruz de Santo André", de Camilo José Cela, DN

"A Cruz de Santo André" foi galardoado em 1994 com o Prémio Planeta. O escritor Camilo José Cela foi acusado de plágio por Carmen Formoso tendo um tribunal dado como provada a acusação,mas o processo continua a correr por recurso interposto pelo editor, pois o autor faleceu em 2002.

Independentemente da veracidade ou não do plágio, que a ter existido é reprovável, o que é facto que "A Cruz de Santo André" é um romance com uma estrutura narrativa peculiar - três monólogos de três mulheres - que corre a velocidade vertiginosa e em que as narradoras contam e criticam de modo arrasador as vidas próprias e as dos outros passando rapidamente da perspectiva cómica e irreverente para a tragédia

Se romances existem em que o leitor se sente envolvido e vive dentro do ambiente do romance enquanto lê, em "A Cruz de Santo André" somos ouvintes (convém que atentos) ao desfiar das histórias das três personagens sendo muitas vezes levados a intuir a efabulação dos acontecimentos devido ao absurdo dos mesmos.

Leitura recomendada deste autor, sobretudo "A Colmeia".

Camilo José Cela foi galardoado com o Nobel e outros prémios de relevo.

12 abril 2011

Pensamentos do escritor

Na passada 5ª – feira foi ao lançamento do livro “Deixem Falar as Pedras”, de David Machado. A apresentação da obra esteve a cargo de Mário de Carvalho. Lembro-me que um dia disse: já escrevi uns doze livros, posso considerar-me escritor.

Tenho a certeza de que Mário de Carvalho não avalia a sua (e de outros) denominação de escritor baseado na quantidade. O que queria dizer é que já tinha escrito uns doze livros com qualidade literária.

Mas quem determina a qualidade? O próprio? A crítica? Os prémios? Os leitores? O número de exemplares vendidos? Tudo isto em conjunto?

Ao titular estes post como “Pensamentos de escritor” (eu que ainda só publiquei dois livros) estarei a ser demasiado presunçoso?

Uma coisa é certa: enquanto escrevo sinto-me na pele de um “escritor”, a dúvida surge nos intervalos.