14 abril 2011

"A Fábula", William Faulkner, Casa das Letras

O que é o romance? O contar de uma história? História verdadeira? Ficcionada? É o relato de um acontecimento sem história? A simples descrição de locais, de pessoas, de estados de alma?
Em "A fábula", William Faulkner, fornece-nos tudo o que é o romance: existe uma história - o fuzilamento de soldados franceses amotinados na frente de batalha na 1ª Guerra Mundial - que remete para outra história - a Paixão de Cristo -, mas grande parte do livro "nada" tem a ver com a história, é uma descrição de factos, sentimentos, pensamentos descritos com tal pormenor em longos parágrafos de escrita corrida - que se alonga, prolonga, volta atrás, muda de local, em que um minuto dura mais do que um minuto, um dia dura muito mais do que 24 horas - que a certa altura temos a sensação de serem puramente acessórios "desnecessários" à história da qual nos alheamos e à qual regressamos quando o autor a recupera.
É um livro extenso que não se pode ler a espaços, meia página agora, uma logo, outra ao deitar. Tem de se ler com tempo porque o martelar constante das repetições ao longo do texto são o segredo para descobrirmos (sentirmos) que todas as "desnecesidades" para a narração são afinal tudo o que contribui para que a história acontecesse como aconteceu.

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