08 março 2011

"Mil Sóis Resplandecentes", Khaled Hosseini, Presença

Khaled Hosseini, oriundo do Afeganistão, mas vivendo, desde 1970, nos EUA onde a família se refugiou é conhecido pelo êxito do seu primeiro romance "O Menino de Cabul", já adaptado ao cinema.
O segundo romance de Hosseini, "Mil Sóis Resplandecentes", editado pela Presença em 2008, relata a história de duas mulheres no Afeganistão durante um período que abarca um tempo que vai da intervenção soviética à tomada do poder pelos talibã.
É um livro escorreito (alguns furos abaixo d' "O Menino de Cabul), com uma construção narrativa simples, mas perfeita, conseguindo transmitir as condições de falta de dignidade com que são encaradas e tratadas as mulheres no Afeganistão.
O poder deste livro não está na sua qualidade literária (é um bom livro), mas no modo como, a partir de Mariam e Laila, descreve e faz pensar em todas as mulheres do mundo que ainda são discriminadas e violentadas.
No Dia Mundial da Mulher parece-me que é de recordar os "Mil Sóis Resplandecentes".

07 março 2011

"Deixem falar as pedras", de David Machado, II

"Deixem falar as pedras", de David Machado, D. Quixote


Esta é a capa do novo romance de David Machado (meu filho), cujo pré-lançamento foi feito nas Correntes d'escritas, na Póvoa do Varzim. E divulgo-a porque ele já o fez no seu blogue, David Machado.
Por motivos óbvios não me irei pronunciar sobre o livro (do qual só li o primeiro terço, pois estou a saboreá-lo), apenas faço votos para que a meritocracia funcione.

06 março 2011

"Como o Soldado Conserta o Gramofone", Sasa Stanisic, Quetzal

"Como o Soldado Conserta o Gramofone", de Sasa Stanisic, (faltam uns acentos circunflexos invertidos e acento agudo no nome do autor) originário da Bósnia foi publicado em 2008 pela Quetzal e é sem dúvida um romance a ler, pese embora, uma certa descontinuidade qualitativa (de qualidade da escrita)e da uniformidade narrativa, esta última talvez resultado de uma falha de trabalho entre o editor e o autor. Stanisic teve uma ideia fantástica para contar o drama de uma cidade na última guerra dos balcãs e parece ter tido a avidez de nada deixar de fora como se este fosse (ou viesse a ser o seu único romance). Enquanto um escultor, de pedra, por exemplo, se livra com prazer de todo o material que não necessita para fazer nascer a sua obra, um escritor sofre ao cortar, ao limar, ao excluir parágrafos, por vezes capítulos inteiros, que escreveu.
O que fascina neste Soldado com o seu Gramofone é o modo fantasioso como o autor descreve "o fim-do-mundo", do seu mundo, do mundo da sua família, do mundo dos seus conterrâneos,sendo inclusivamente "obrigado" a descrevê-lo à distância, pois fá-lo a partir da Alemanha onde foi obrigado a refugiar-se com os pais.
Diz a contracapa do livro:
Uma escrita com ecos de cinema de Emir Kusturica
. Não são apenas ecos, é um paralelismo artístico em que as paralelas são muito próximas e se encontram "antes do infinito" (olvidemos a incorrecção matemática). O que é impressionante em Sasa Stanisic é a capacidade de se "rir/aceitar" um acontecimento com as dimensões trágicas da guerra e dos genocídios dos balcãs descrevendo-o, mais uma vez como diz a contracapa, de uma forma poética, trágica e cómica.
"Como o Soldado Conserta o Gramofone" faz-me pensar em que bons romances surgirão na sequência dos actuais acontecimentos e convulsões do Norte de África (escritos por escritores árabes), mas faz-me ainda mais pensar que o mundo ocidental, nomeadamente a Europa, ainda não conseguiu interiorizar a crise económica e social (e já agora política) em que vive e ainda não conseguiu produzir (em obras literárias, que não sejam puramente filosóficas ou ensaios) e vive na ilusão de que tudo não passa de alguns conturbações próprias do sistema ou e de alguns problemas inter-pessoais derivados do estilo de vida actual.
A ilusão propiciada pela prosperidade e pelos setenta anos de paz na Europa (exceptuando a tal Guerra dos Balcãs, mas em que os bombardeamentos pareciam estar à mesma distância do Iraque e do Afeganistão) e que pode degenerar, não num beco, mas numa saída trágica julgo que levarão a que muita da literatura subsequente seja altamente depressiva, bastante mais dura, mais dramática do que o "Como o Soldado Conserta o Gramofone" porque não teremos todos, individualmente e como povos, a capacidade dos artistas balcânicos. Faça terapêutica preventiva e leia este livro.