29 novembro 2011

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Greve Geral - Antes, durante e principalmente depois, declarou-se não se saber para que servia a greve geral. A greve serviu sobretudo ao governo para avaliar a pulsão social e grau de contestação às políticas implementadas e a implementar. E o governo tem razões de sobra para estar satisfeito porque quanto mais pessoas fizerem greve enquadradas pelas moderadas centrais sindicais portuguesas, mais está a salvo de uma eventual contestação social destrutiva, como a da Grécia.
Tomara o governo que, até ao fim da legislatura, as greves tivessem uma elevada adesão e os grevistas se manifestassem num clima ordeiro como no passado dia 24 de Novembro. O governo deveria decretar como obrigatória a realização de uma greve sempre que haja novas medidas de penalização dos portugueses.

- Merkel e Sarkozy - Esta foi a semana do primeiro arrufo público entre os chefes máximos da Alemanha e da França. Do condenados a viverem juntos para sempre, passaram ao vamos ver quem cai primeiro. E os europeus, numa espécie de deleite suicida, aguardam a queda das duas potências (?) para dizerem: é bem feito. E era bem feito, se não fosse tão mal feito.

- O outono árabe - Embandeirou o Ocidente em arco com as primaveras árabes no Egipto, Líbia, Tunísia, e continua a esperar com ansiedade pela Síria, Iemen e sobretudo pela Arábia Saudita. Sabe-se, no entanto, que a qualquer primavera se sucedem outras estações, cada uma com os seus encantos próprios, mas também com as suas agruras, e que as mais rigorosas são o outono e o inverno.
No Egipto, o outono está a chegar. E com este outono, como vê o Ocidente daqui para a frente a implementação da democracia neste e noutros países muçulmanos? A minha resposta é: não sabe.
O Ocidente habituou-se a exportar bens e serviços, ideologias e religiões, para zonas do mundo diferentes da sua numa tentativa de homogeneizar o Globo à sua imagem e semelhança. Chineses, indianos, angolanos, brasileiros já estão a exportar os seus bens e serviços para o Ocidente e a comprarem o seu tecido produtivo. E se eles caem na tentação de exportar as suas ideologias e religiões? Vai o Ocidente dizer que está ameaçado?

- Frase da semana: "o grau de adesão à greve na Administração Central às 11:00 é de 3,6%". O senhor Ministro Miguel Relvas deve ter-se encadeado com a sua grande capacidade de fazer sit-down (fez as declarações sentado) comedy e levou ao extremo uma rábula levada à cena por outros governos. Desta vez a preformance foi exímia.

- Livro da semana - "Figuras, Figurantes e Figurões", de Luiz Pacheco, recomendado a uns quantos personagens que por aí andam. Vocês sabem o que eu quero dizer, parafraseando o comentador futebolístico Octávio Machado.

27 novembro 2011

Two rooms with view(s), Dois espaços com vistas.

Duas exposições de pintura (de arte) no mesmo dia. Duas experiências sensoriais completamente distintas. A primeira, A Perspectiva das Coisas. A Natureza-Morta na Europa, na Gulbenkian, num ambiente recatado, luz ambiente calma com os focos a realçarem os quadros, a dizer que estamos num museu; na segunda, ARTE LISBOA, na FIL, onde as peças tomam realce contra o fundo branco das paredes, numa atmosfera asséptica, vigorosa, de (a) ferir a vista, em pavilhões de galerias de arte destinadas ao comércio.

A realização destas duas exposições tem fins completamente distintos e os artistas que pontuam em cada uma delas são de gabaritos distintos. Não são pois comparáveis. No entanto, foram duas experiências sensoriais completamente distintas que se confrontaram e complementaram devido à proximidade temporal em que foram efectuadas as visitas (para quem estiver interessado em fazer a mesma experiência só tem o dia 27 de Novembro, porque a ARTE LISBOA encerra neste dia).

As naturezas-mortas tradicionais começam por ser cópias fiéis de peças de caça, frutos, facas, flores sobre toalhas, para evoluírem com, e através do expressionismo, impressionismo, cubismo, surrealismo...até regressarmos ao princípio, do outro lado da cidade, com o hiper-realismo que é o cunho de uma corrente da Arte Contemporâneo com alguns exemplares na ARTE LISBOA. Não há (não vi) quaisquer comestíveis nas peças de Arte Contemporânea, mas estão reproduzidos os consumíveis - automóveis polidos a reflectirem prédios espelhados, mobiliário urbano, estradas -, existem peças executadas com filtros de cigarros fumados (beatas).

Em qualquer das exibições, faltou-me a muleta do conhecimento e dei mais uma vez conta de que a arte tem de ser ensinada e explicada, para nos deixarmos do eu não percebo, gosto, ou não gosto, que nos escuda numa ignorância preguiçosa e que nos impede de fruirmos a arte.

Quando se visita um museu numa capital europeia, encontram-se grupos de miúdos deitados pelo chão a copiarem quadros e a tirarem apontamentos, a cochicharem ou a falarem num tom de voz que dá conta de que andam pardais à solta (o que não considero condenável). No tempo em que visitei qualquer das exposições não vi ninguém a ensinar arte às crianças. Não havia crianças.

Em Portugal, o dinheiro do Orçamento de Estado para a Cultura, e nomeadamente para a Arte, é sempre visto (porventura com razão) sementeira deitada à terra sem retorno. Esta visão está muito implantada porque a produção artística não desenvolve consumidores que a paguem sem recurso a subsídios. Pudera, não existe formação, desde as mais tenras idades, de consumidores.