27 novembro 2011

Two rooms with view(s), Dois espaços com vistas.

Duas exposições de pintura (de arte) no mesmo dia. Duas experiências sensoriais completamente distintas. A primeira, A Perspectiva das Coisas. A Natureza-Morta na Europa, na Gulbenkian, num ambiente recatado, luz ambiente calma com os focos a realçarem os quadros, a dizer que estamos num museu; na segunda, ARTE LISBOA, na FIL, onde as peças tomam realce contra o fundo branco das paredes, numa atmosfera asséptica, vigorosa, de (a) ferir a vista, em pavilhões de galerias de arte destinadas ao comércio.

A realização destas duas exposições tem fins completamente distintos e os artistas que pontuam em cada uma delas são de gabaritos distintos. Não são pois comparáveis. No entanto, foram duas experiências sensoriais completamente distintas que se confrontaram e complementaram devido à proximidade temporal em que foram efectuadas as visitas (para quem estiver interessado em fazer a mesma experiência só tem o dia 27 de Novembro, porque a ARTE LISBOA encerra neste dia).

As naturezas-mortas tradicionais começam por ser cópias fiéis de peças de caça, frutos, facas, flores sobre toalhas, para evoluírem com, e através do expressionismo, impressionismo, cubismo, surrealismo...até regressarmos ao princípio, do outro lado da cidade, com o hiper-realismo que é o cunho de uma corrente da Arte Contemporâneo com alguns exemplares na ARTE LISBOA. Não há (não vi) quaisquer comestíveis nas peças de Arte Contemporânea, mas estão reproduzidos os consumíveis - automóveis polidos a reflectirem prédios espelhados, mobiliário urbano, estradas -, existem peças executadas com filtros de cigarros fumados (beatas).

Em qualquer das exibições, faltou-me a muleta do conhecimento e dei mais uma vez conta de que a arte tem de ser ensinada e explicada, para nos deixarmos do eu não percebo, gosto, ou não gosto, que nos escuda numa ignorância preguiçosa e que nos impede de fruirmos a arte.

Quando se visita um museu numa capital europeia, encontram-se grupos de miúdos deitados pelo chão a copiarem quadros e a tirarem apontamentos, a cochicharem ou a falarem num tom de voz que dá conta de que andam pardais à solta (o que não considero condenável). No tempo em que visitei qualquer das exposições não vi ninguém a ensinar arte às crianças. Não havia crianças.

Em Portugal, o dinheiro do Orçamento de Estado para a Cultura, e nomeadamente para a Arte, é sempre visto (porventura com razão) sementeira deitada à terra sem retorno. Esta visão está muito implantada porque a produção artística não desenvolve consumidores que a paguem sem recurso a subsídios. Pudera, não existe formação, desde as mais tenras idades, de consumidores.

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