11 fevereiro 2011

"As Cidades invisíveis", de Italo Calvino e a moção de censura do BE

"O filósofo estava sentado na relva. Disse:-Os sinais formam uma língua, mas não a que julgas conhecer. - Compreendi que devia libertar-me das imagens que até aqui me haviam anunciado as coisas que procurava: só então conseguiria entender a linguagem de Hipácea."

"Não há linguagem sem engano."

Supra se lêem passagens do livro "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, Editorial Teorema, 1993,e com elas julgo ter entendido o anúncio da iniciativa do Bloco de Esquerda ao apresentar a apresentação pré-datada de uma moção de censura ao Governo.

Como sugere Marco Polo (aliás Calvino)só libertando-nos da formatação da nossa linguagem e percebendo que não há linguagem sem engano, será possível entender que o BE tenha anunciado que irá apresentar uma moção de censura. Em boa verdade, irá apresentar uma moção, porque se fosse pela censura, já o Governo tinha caído ao ser ferozmente zurzido (nalguns casos bem)nos debates quinzenais.
No entanto, o mecanismo que permite o derrube do Governo na Assembleia só é eficaz se tiver o número de votos necessários para tal. O que o BE sozinho não consegue. Então que desiderato busca este partido sentado à esquerda do hemiciclo, se olhado de frente? Uma coligação nacional (partidária) contra o Governo? Obrigar o PSD a insuflar mais algum oxigénio ao Governo até cair de maduro?

Parece-me que Italo Calvino nos dá a resposta:"Concentrada a acumular os seus quilates de perfeição, Bersabeia considera virtude o que já não é senão uma avara exaltação para encher um recipiente vazio de si mesma;..."

Para além da "frescura" da narrativa de Italo Calvino, num prodígio de "imaginação filosófica", que por si só justificam a fruição de uma leitura calma, degustada, encontram-se sabres e frases tão aplicáveis à realidade que a revisitação deste livro "As cidades invisíveis" é a demonstração como novas leituras nos mostram tanto do que ficou por descobrir e desbravar numa primeira passagem.

Ainda do livro:
Pensará porventura o povo português: "Suspensa sobre o abismo, a vida dos habitantes de Octávia é menos incerta que noutras cidades."
Pensarão os políticos (Governo e oposição): "Sabem que mais do que um certo ponto a rede não aguenta."

10 fevereiro 2011

AS PRAÇAS

As praças de há muito que constituem elemento funcional e arquitectónico de relevo na malha urbana das cidades, especialmente das europeias e árabes (nos Estados-Unidos as cidades desenvoveram-se a partir da rua principal, a Main Street).

Às praças confluiam todas as ruas e acessos, eram local privilegiado de comércio, de festa, de ajuntamento e de conspiração (a palavra "greve" deriva da palavra francesa que designa gravilha e que cobria o chão das praças onde se juntavam os grevistas.

Ainda hoje, com a dimensão das novas cidades, as praças multiplicaram-se e perderam o seu cariz inicial. No enatnto, muitas delas mantêm o seu carácter emblemático com grande vigor.

A PRAÇA TAHRIR, no Cairo, retomou uma das mais nobres funções da praça: o ajuntamento do povo na defesa dos seus direitos.

Fiódor Dostoievski

Passaram ontem 190 anos sobre a morte de Fiódor Dostoiévski. Apraz-me mais recordar datas de nascimento do que as de desaparecimento daqueles que "se foram da lei da morte libertando".
Embora muitos académicos e estudiosos da sua obra lhe descubram lacunas e erros no modo de escrita, também é verdade que, de modo mais ou menos unânime, o incluem na galeria dos grandes escritores russos e mundiais.
Dostoiévski debruçou-se nos seus romances sobre aquilo que lhe estava mais próximo: os tormentos da alma, servindo-lhe, porventura, a escrita para a expiação e terapeutica dos males de que ele próprio padecia ("O Jogador", "Recordações da Casa dos Mortos".
Este escritor russso, talvez o primeiro, a deixar em plano secundário a história, o enrendo e a trazer a primeiro plano o perfil psicológico dos personagens tem o poder de nos fazer "sentir" o que sentem os seus p ersonagens - "Crime e Castigo", "O Idiota".
Não deixa de ser curioso que a Fiódor Dostoiévsky se aplicam duas diferentes reflexões que aqui fiz àerca de outros escritores:
1 - Ontem escrevia que Camilo teria cuidado pouco do seu modo de escrita devido à velocidade com que o fazia, não apenas devido à facilidade que tinha em fazê-lo, mas há ncessidade de vender o seu "produto" para sobreviver. Dostoiévski, segundo consta, como algumas das suas personagens viveu quase toda a vida na corda-bamba em termos económicos.

2 - A segunda reflexão referia-se, a propósito d' "O Quinto da Discórdia", ao modo como o meio ambiente pode influenciar o tipo de escrito. Estou em crer que a imensidão silenciosa das estepes e tundra nevadas da Rússia, a paz e tranquilidade das comunidades da Rússia do séc. XIX que se confunde com o isolamento e solidão, terão sido determinantes na imensidão psicológica das obras de Dostoiévski.
Muitos escritores da actualidade continuam a ir beber e a vaguear nas estepes de Fiódor Dostoiévski.

09 fevereiro 2011

"Mistérios de LIsboa", O livro ou o filme?

Estreia hoje o filme galardoado, "Mistérios de Lisboa", do chileno Raúl Ruiz, baseado na obra homónima de Camilo Caselo Branco.Camilo era um escritor compulsivo, fluente, rápido. De grande destreza com o sabre e com a pistola, tendo-se envolvido em vários duelos,
A velociade com que escrevia, muito por necessidade física, precisão de dinheiro para sobreviver, ele e a família, não lhe permitiria (julgo eu) trabalhar mais cuidadamente os seus livros de modo a vir a ser considerado um "imortal" da literatura portuguesa.Julgo até que não desdenharia (presunção e água benta, etc, etc,)em se considerar um pro(e)scrito.
Conhecido pelo seu "Amor de Perdição", e mais recentemente muito citado o seu "A queda de um Anjo", Camilo tem uma obra vastíssima, cujos livros, hoje, com uma boa promoção, seriam sem dúvida best-sellers (esta constatação poderá ter o seu lado pejorativo,que não é a intenção). Com uma diferença, Camilo Castelo Branco escreve bem, muito bem.
Se o cinema (e novela televisiva) acicata à leitura das obras literárias que lhe estão por base, espero que este "Mistérios de Lisboa" leve a que muitos espectadores comecem a desbravar a obra de Camilo Castelo Branco.
E nestas coisas de "o livro ou o filme?", a resposta é: os dois.
Um conselho (só dá conselhos quem não sabe, porque se soubesse, não os dava, vendia-os), derivado de um gosto muito próprio, não deixem de ler a "trilogia" camiliana "Eusébio Macário", "A Corja" e a "Brasileira de Prazins".
O Projecto Gutenberg tem inúmeros livros de Camilo digitalizados dos quais poderá fazer download e impressão gratuita.

08 fevereiro 2011

"O Pó do Império", de Karl Meyer, Temas e Debates

Embora o livro seja de 2003 (publicado em Portugal em 2004)e escrito na sequência dos ataques terroristas da Al-Qaed nos Estados-Unidos, Espanha e Reino-Unido e se debruce sobre os problemas geo-estratégicos, étnicos e políticos da Ásia Central e muito sobre as origens próximas dos mesmos, pode servir de manual de introdução aos actuais problemas dos países islâmicos do Norte de África e Médio Oriente.
Quando se olha para um mapa de paíes e se vêem fronteiras que são linhas rectas é de preguntar que interesses determinaram essas linhas e que visão de futuro tinha quem as traçou.