03 março 2011

"O Capital", Karl Marx

"O Capital", de Karl Marx, é um livro,como consta que era o seu autor, alheio às realidades, às da época e muito mais às actuais. É um livro que propõe a organização da sociedade baseada num determinado modelo económico que falhou onde se tentou instalar.
Mas, como a teoria marxista, que enganou gerações sucessivas ao fazer crer que a economia apertadamente regulada culminaria numa sociedade mais justa e equalitária no seu todo, temos andado a ser iludidos que o modelo político de organização da sociedade - democracia (do qual sou intransigente defensor) - por si só, tornará a economia mais justa e transparente e ao serviço de todos.
Manuela Ferreira Leite chegou a afirmar que para resolver os problemas económicos de Portugal se interrompia a democracia por seis meses. Não concordo com o método, mas entendo o alcance da afirmação.

A organização da economia global é um logro no qual todos estamos metidos. Como pode uma sociedade democrática intervir sobre organismos e instituições que não controla - as empresas, os mercados - que são tudo, menos organismos democráticos?
Como sair daqui? Para além de ser adepto do primado da política sobre o primado da economia, só me lembro dos versos de António Aleixo:
Vós, que lá do vosso império prometeis um mundo novo,
Calai-vos pois pode o povo querer um mundo novo a sério.


Quanto ao livro "O Capital", se quiserem ler, não vão além daquelas versões muito resumidas e aligeiradas.

02 março 2011

"A Contadora de Filmes", de Hernán Rivera Letelier; PRESENÇA


"A Contadora de Filmes", de Hernán Rivera Letelier, é uma das novidades da Presença do mês de Março.
Chamou-me à atenção a ligação ao cinema e mais curioso fiquei com a sinopse:
Quando María Margarita ganha aos quatro irmãos um concurso inventado pelo pai, inválido devido a um acidente, que consistia em saber quem contava melhor um filme depois de o ter visto, o que começa por ser um ritual familiar rapidamente acaba por se tornar um acontecimento em toda a povoação, à medida que os relatos da contadora de filmes ganham fama e um público cada vez maior os aguarda, impaciente. Através da história desta «fazedora de ilusões», Hernán Rivera Letelier capta a vida no deserto chileno nos tempos áureos do cinema, criando um romance encantador na sua simplicidade e contundência.
Não li o livro "A contadora de filmes", nunca li nada de Hernán Rivera Letelier, no entanto conheço a sua célebre resposta à pergunta porque tinha começado a escrever. "Por fome", disse.
Também Knut Hamsun, prémio Nobel da Literatura, escreveu um livro, "FOME", em que que a personagem principal tenta sobreviver, sofrendo as agruras da quase completa ausência de nutrição, vendendo o fruto do seu trabalho, a escrita.

O que mais me intriga é esta estreita ligação (será um mito urbano?) entre os produtores de arte e a sobrevivência e o que gostaria de perguntar a Hernán Letelier é que "fome" o faz continuar a escrever. Será o receio de voltar a ter fome real, ou a escrita passa a fazer parte do próprio alimento?

01 março 2011

"Pensamentos do escritor"

















Que deve fazer o escritor quando a complexa estrutura a que damos o nome de cérebro pura e simplesmente se recusa a dar aquilo que o escritor necessita: criatividade, inteligência, e até vontade de escrever?
Já são clichés aquelas imagens de filmes em que o escritor se senta, normalmente perante uma máquina de escrever, e vai teclando uma frase solitária em sucessivas folhas de papel que se vão espalhar ou amontoar amarrotadas pelo chão.
Hoje,com os computadores, preservo o ambiente, não gastando papel, e até guardo em ficheiros algumas escritas que considero merecerem o destino daquele ícone pequenino chamado Reciclagem, mas que guardo não vão elas mais tarde servir para algo.
Mas que deve, então, o escritor fazer, quando a escrita encalha? Dedicar-se a vários trabalhos em simultâneo e saltar de uns para os outros (a diversidade é muitas vezes boa companheira)? Batalhar infindavelmente até sair o parágrafo perfeito? Esquecer a obra por uns tempos e aguardar melhores dias? Esperar que a maré suba e que a retire das rochas?
Tenho um terceiro romance alinhavado, 100 páginas boas (avaliação do autor),200 páginas horrorosas (avaliação do autor), e não consigo sair daqui. Que fazer?
Mas, esta é afinal a pergunta de um milhão de euros, aquela que se tivesse resposta explicaria o processo criativo.

28 fevereiro 2011

"ANDREA CAVALLETTI", Professor de Estética

Ao ler o suplemento ATUAL, do Expresso deste fim-de-semana, fiquei encantado com a apresentação da profissão de um autor, Andrea Cavalletti: Professor de Estética na Universidade de Veneza. O encantamento prende-se mais com a disciplina que lecciona do que com a profissão de professor.

Ensinar Estética? Deve ser fantástico. Mas, para que serve? Tomando como referência a mais vulgar definição de estética - ramo da filosofia que se dedica ao estudo do belo - detenho-me a pensar em que saída profissional poderá ter um jovem (particularmente em Portugal) que enverede pela aprendizagem de como se aprecia a beleza (ou o seu contrário) e como se aplicam esses conhecimentos.
A maior parte dos jovens para entrarem no mercado de trabalho têm de escolher áreas mais práticas, direccionadas para a produção de bens, para as tecnologias, para os consumíveis que deixam de lado o pensamento humano na sua pura essência.

Seria a nossa sociedade diferente se outro tipo de relevo fosse dado a este tipo de matérias? O belo, o bem, o mal, etc.

(Em busca na net a disciplina de Andrea tem uma designação mais completa - Estética e Literatura . Não sei qual delas estará correcta, mas para arranjar emprego, ficar-se pela Estética parecia-me curto).