12 janeiro 2012

O FORMALISMO E A ÉTICA

O formalismo é aquilo que permite fechar os olhos à ética e à moral. Cumpridos todos os preceitos, que é como quem diz todas as formas, qualquer acto de certeza é pelo menos não-ilegal. Mas a lei, bastas vezes, fica aquém da ética e da moral porque estas são umas leis mais leis que cada um adopta para si próprio. Quem se limita a cumprir a lei não é necessariamente boa pessoa, pode ser medroso, temente de punições e não ter oportunidades de cometer infracções. Quem se rege pela ética, cumpre de certeza a lei, não por medo, mas por ser o correcto e por vontade própria; e cumpre mais do que a lei porque se impôs códigos de conduta consentâneos com uma vivência exemplar em sociedade.
Quando as regras éticas e morais são vertidas em leis, as mulheres e homens de ética superam-se e descobrem formas de regras ainda mais exemplares. É o seguimento da ética e da moral que legitima a posição de cada um na sociedade, e não apenas o mero, escrupuloso e formal cumprimento da lei.

Na Caixa Geral de Depósitos, na EDP, nas Águas de Portugal foram seguidos todos os formalismos de nomeação? Foram. Mas são imorais.

É do formalismo das campanhas eleitorais fazer promessas que na governação não são cumpridas? É, não viola qualquer lei. Mas não é ético.

Preferia mil vezes que a Constituição previsse punições para declarações de um candidato a Primeiro-Ministro, tais como é mentira que vá cortar o décimo terceiro mês, não quero ser eleito para dar emprego aos amigos quando não cumpridas, do que um tecto para o déficite orçamental.

10 janeiro 2012

VISÃO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

Conselho Superior da EDP - É bem mais vergonhosa a nomeação da nova equipa de gestão da EDP do que a pretensa fuga da família Soares dos Santos para a Holanda. É-o, porque se na distribuição alimentar podemos boicotar (é um disparate) o Pingo Doce e optar por outra marca também sediada fora de Portugal, ou pelas mercearias tradicionais, na energia eléctrica somos obrigados a consumir dali, da EDP (há concorrência tímida da parte de uma empresa espanhola). Além de uma parte dos vencimentos da EDP ainda serem pagos por todos nós, é notória a maior falta de vergonha na face angelical do senhor Primeiro-Ministro.

Déficite de 2011 - Prognósticos só no fim do jogo, dizia sabiamente João Pinto, antigo capitão do F.C.Porto. Fez história com esta frase. E história fará este governo até acertar no déficite que lhe convém. Não vale a pena fazer previsões do déficite, o governo aguarda mesmo o fim do jogo e à cautela vai prometendo novas medidas de austeridade.

Frase da semana - O Presidente da EDP afirmou que a escolha dos novos administradores é da exclusiva responsabilidade dos accionistas. Não poderia ser de outro modo. Que outras engenhosas maneiras imagina ele pudessem existir? Estaria a pensar naqueles métodos que mostram as influências do poder político na determinação das escolhas? É bom não esquecer que os accionistas, especialmente os privados, estão sempre dispostos a considerarem as políticas sugestões. Depois cobram com juros.

Livro da semana - O Cemiterio de Praga, de Umberto Eco, recomendado aos não-maçons para saberem de onde vem o medo da Maçonaria.

08 janeiro 2012

O PALHAÇO

O palhaço é um ser discreto, lento, que rola nas estradas portuguesas, pelo qual não se dá conta a não ser quando ele não se desenrasca e enrasca a velocidade ou a manobra automobilística de outrem. É um ser que se encontra com frequência na faixa do meio, ou na da esquerda, das auto-estradas, que descansa nos cruzamentos enquanto houver outros veículos no horizonte longínquo. Os palhaços são seres de sangue frio, porquanto têm a tendência em sair das suas luras em dias de sol e têm um tropismo pela volta-dos-tristes.
Pela pequena descrição feita, não se pense que o palhaço não tem momentos de ousadia e de defesa do território, nomeadamente quando não deixa que outro veículo se meta à má-fila ultrapassando ufanamente uma série de papalvos, palhaços, que estão pacientemente numa fila de trânsito à espera que ela avance. A maior parte das vezes o instinto de defesa repercute-se na buzina.

Este ser, o palhaço, é apenas do sexo masculino. A palhaça não existe. Antigamente existia a dona-de-casa - devias estar em casa a coser meias, era o que se ouvia no trânsito - como simétrico feminino do palhaço, mas parece que o termo caiu um desuso, porquanto a dona-de-casa, principalmente os elementos mais jovens, desataram a chamar palhaço a torto e a direito a qualquer condutor que não lhes faculte rapidamente a pretendida passagem, mesmo que não devida.
Um palhaço para se reproduzir não acasala com um ser da própria espécie e só terá palhacinhos se estes forem do sexo masculino e fracos. Os palhacinhos, enquanto jovens condutores, terão a tentação de abandonar a espécie, mas depois vão ao sítio.

O ser-se palhaço não é inerente ao indivíduo em si, é antes resultado de uma relativização social, ou seja: o elemento mais forte tem a prorrogativa de chamar palhaço ao elemento mais fraco, e um palhaço pode momentaneamente deixar de o ser se encontrar um elemento mais fraco do que ele; assim como o elemento mais forte pode por instantes passar a ser palhaço se aparecer um ainda mais forte.
Mas existem comportamentos desviantes. Alguns palhaços, quando se acham em posição de fuga, retribuem o ápodo e, os mais ágeis, chegam mesmo a usar os dedos, o do meio ao alto, ou o indicador junto à testa. É de referir que esta prática do dedo do meio levantado ao alto, por vezes com os dois que lhe são contíguos encolhidos, e a verbalização, vai pr'ó..., está a ser muito mimetizada pelos elementos femininos da comunidade automobilística.

O palhaço tem espécies que se lhe assemelham: o ceguinho. Estudos existem que levam a crer, mas ainda sem conclusões, que o ceguinho é afinal um palhaço que não vê. O problema do ceguinho não é não ver, é estar convencido de que vê.

Os seguidores de Darwin têm em Portugal os seus Galápagos se quiserem debruçar-se sobre a evolução das espécies automobilísticas e de como os seus comportamentos mais agressivos se perpetuam, desenvolvem e se alteram.
Ao não beba, não acelere, não fale ao telemóvel, etc., deveria juntar-se no breviário das práticas de boa condução o NÃO INSULTE.