26 fevereiro 2011

"Vanessa Karenina", de Pedro Vieira, Quetzal

Um dia hei-de escrever um romance cuja acção se desenrole na actualidade. Já tentei, mas não ultrapasso as 50 páginas porque me custa estar a dar ao leitor aquilo que ele já conhece. Não estou a imaginar um leitor a embrenhar-se na descrição da sua rua como ela é hoje. Ela sabe-a (pensa que sabe) quase de cor, de todos os dias, de todas as horas. O que acrescentará isso ao seu prazer da leitura. Daí a minha admiração, por exemplo, por Ian Mcewan, capaz de nos "transportar" para o mundo actual.
Se o livro, "Próxima Estação: Massamá", de Pedro Vieira, sobre o qual opina Eduardo Pitta no Ípsilon, é capaz, de no dizer do comentador, trazer a CRIL e o IC19 à ficção portuguesa, é razão suficiente para aguçar a minha curiosidade.
Pode ser que um dia em que eu escreva um romance sobre a actualidade e em que todas as SCUTS já todas tenham portagem. Tenho de me apressar.

25 fevereiro 2011

DAVID MACHADO, um escritor português

O David Machado, meu filho, escritor, participa na Corrente d' escritas onde pré-lançou o seu novo romance "Deixem falar as pedras" e participou numa Mesa de Debate onde falou do seu início literário com um êxito, um livro infanto-juvenil, "A noite dos animais inventados", galardoado com o prémio Branquinho da Fonseca, atribuído pela Gulbenkian/Expresso.
Inspirou-se em história própria e verídica, quando, ainda criança de tenra idade, inventou como companheiro invisível uma galinha.
Talvez ele já não se lembre onde exactamente deixou a galinha e talvez o animal faça apenas parte da memória histórica. Deixou-a numa paragem de autocarro (que já não existe) na Praça da Figueira, mas eu quando lá passo ainda sorrio para o galináceo que ergue a cabeça quando me vê. Às vezes cacareja.

24 fevereiro 2011

"Um Amor Sem Tempo" II

Marc Chagall

Estado de espírito do escritor ao reflectir sobre o número de vendas, entre Outubro e Dezembro, do seu romance "Um Amor Sem Tempo", tendo em atenção que não teve a mínima promoção/divulgação. Vendeu 750 exemplares.

"Um Amor Sem Tempo" I

"O Fumador", de Paul Cézanne.

Estado de espírito do escritor ao tomar conhecimento do número de vendas, de Outubro a Dezembro, do seu romance "Um Amor Sem Tempo". Vendeu menos de 1000.

"O homem que viveu duas vezes"

"Still Life With Skull And Candlestick", Paul Cézanne.

Estado de alma do escritor depois de tomar conhecimento do número de vendas, entre Julho e Dezembro, do seu romance "O homem que viveu duas vezes".

"Dafne e fantasias", de Gonzalo Torrente Ballester, DIFEL

"...descobri por cima da minha cabeça o rasto de Dafne e compreendi então que nada acontecia ao acaso, ou que, pelo menos o Destino estava do meu lado e me ajudava."

"Dafne e Fantasias", de Torrente Ballester (1910-1999) faz parte de um "agregado" de livros em que o autor rememora ao pormenor a terra onde nasceu, a Galiza, e as suas vivências de infância e juventude.
O que torna impressionante a escrita de Ballester, nomeadamente sobre este tema, é o modo como discorre sobre o mesmo, onde as palavras fluem ao ritmo do pensamento saltando (ou saltitando)de assunto para assunto ligadas por um fio condutor invisível dando a sensação que o autor escreveu o livro de uma penada sem uma única revisão. Ballester não se limita ao factual, à história espantosa, curiosa ou picaresca, mas à descrição de vivências, de sentimentos e de fantasias dando a sensação de que só poderiam ter ocorrido naqueles lugares, naqueles tempos e nunca transpostos para outras paragens, sejam elas geográficas ou do coração.
No meio de tudo isto Dafne é uma figura especial, é uma espécie de ser que toda a criança inventa como companheiro invisível e secreto de brincadeira, só que o autor Ballester o transportou com ele até à idade adulta fantasiando no romance sobre a sua própria fantasia de criança.
Não há dúvida de que os grandes escritores não escrevem maus livros, embora possam ter ligeiras quebras. Em "Dafne e outras fantasias", de 1982, quarenta anos passados sobre a publicação do primeiro romance, Javier Mariño, Ballester parece renunciar à inovação e executa um mero exercício de estilo (ou o regresso a um estilo).
Gonzalo Torrente Ballester é um dos meus escritores preferidos e inspiradores do qual realço os "Prazeres e as Sombras", as "Crónicas do Rei Pasmado", o mirabolante "A Branca de Neve vai à escola" e "A ilha dos jacintos cortados" (que é um dos suportes da minha teoria de que o ambiente condiciona a obra do autor: à época, o autor vivia nos Estados-Unidos onde leccionava e o livro é escrito muito ao estilo americano).

23 fevereiro 2011

Livros de papel ou livros digitais?
Podemos considerar que o papel (desde a sua versão papiro) é o mais antigo suporte tecnológico de transmissão de informação com pequenas inovações cujos ciclos de vida são os mais longos de que há memória perdurando por milénios praticamente inalterado. Escapar-me-á alguma invenção, mas todos os outros produtos que utilizamos - ex: meios de locomoção, telefone, medicina, etc...- até têm livros, em papel,dedicados às suas evoluções e transformações ao longo dos tempos. Todos citarão que a grande revolução para a difusão da mensagem escrita se deu com a impressão mecânica. E mesmo assim o que evoluiu não foi o suporte de informação, mas a tecnologia da impressão.

O objecto livro, como o conhecemos, além de veículo de transmissão de informação que se pode transformar em conhecimento e/ou prazer tomou também outro tipo de funções: peça de valor (monetário), adorno, símbolo de afecto e outros que não me ocorrem. Tais desideratos não poderão ser atingidos com os Ipad e similares, que, quando muito, conseguirão apenas ter o simbolismo adicional do status enquanto não se banalizarem.

Gosto de ler em papel, sentir o peso do livro; gosto do desenho (de alguns) das capas; gosto das estantes que tenho repletas de livros; gosto da policromia das lombadas; gosto de procurar um livro de cabeça ao lado (irrito-me quando não o encontro). Quantos, no mundo, seremos assim?

No entanto, julgo que a escolha entre o papel e o electrónico não vai ser feita pelo consumidor final. O mercado irá ditar as suas leis. Alguém fez as contas, para a língua inglesa, como é evidente (mas o que é válido para o inglês é válido para o espanhol) que os custos de produção, distribuição e venda do livro electrónico são extremamente baixos. E se hoje distribuímos magalhães nas escolas, já pensaram que, tecnologicamente falando, os alunos, de qualquer ano ou curso, podem descarregar automaticamente todos os livros que necessitam para o seu curriculum escolar no exacto momento em que o professor da disciplina decidir o livro que quer seguir?

Eu, que sou da especialidade de telecomunicações, apostei que o telemóvel levaria 25 anos a vingar. Falhei redondamente. Ao fim desse tempo já estamos em plena 3ª geração e a entrar na 4ª. Não quero fazer apostas quanto aos livros digitais, mas que eles estão à espreita, estão. Prontos a atacar. E se não os pudermos vencer...

Fica uma questão em aberto: diminuindo os custos de produção, baixando o preço dos livros, mantendo (ou até subindo) as margens dos editores, distribuidores e livreiros, poderão também aumentar substancialmente os direitos de autor? Este sim, seria o verdadeiro grande contributo da revolução tecnológica de que falamos: permitir que mais produtores (autores) tivessem como profissão exclusiva a escrita e pudessem produzir em maior quantidade e, sobretudo, em melhor qualidade.

22 fevereiro 2011

"A INVEJA"

Decorre de 23 (ou antes, de hoje à noite) até 26 de Fevereiro, na Póvoa do Varzim, um dos mais conceituados eventos literários do nosso país, Correntes d'escritas, que já se internacionalizou tornando-se num festival ibérico.
Dei uma mirada no programa e para além do aliciante de alguns participantes nas mesas de debates os títulos dos temas de algumas delas, por si só, são pequenas jóias literárias “Falta futuro a quem tem no presente as ambições/ passadas”, “Espalho sobre a página a tinta do passado”. E aí salta a inveja. A inveja de não estar presente, não como ouvinte, mas como participante. Só que a casamentos e baptizados.... (Pode ser que vá ao FELIS).
O sucesso do Correntes d'escritas faz falta a Portugal e ao nosso panorama literário e que outras iniciativas se multipliquem, pois é de ter presente que a cultura também é produto de exportação e entra nas contas do déficit.
Boa festa para todos. Sinceros votos, a inveja roi, mas não chega para matar.