24 fevereiro 2011

"Dafne e fantasias", de Gonzalo Torrente Ballester, DIFEL

"...descobri por cima da minha cabeça o rasto de Dafne e compreendi então que nada acontecia ao acaso, ou que, pelo menos o Destino estava do meu lado e me ajudava."

"Dafne e Fantasias", de Torrente Ballester (1910-1999) faz parte de um "agregado" de livros em que o autor rememora ao pormenor a terra onde nasceu, a Galiza, e as suas vivências de infância e juventude.
O que torna impressionante a escrita de Ballester, nomeadamente sobre este tema, é o modo como discorre sobre o mesmo, onde as palavras fluem ao ritmo do pensamento saltando (ou saltitando)de assunto para assunto ligadas por um fio condutor invisível dando a sensação que o autor escreveu o livro de uma penada sem uma única revisão. Ballester não se limita ao factual, à história espantosa, curiosa ou picaresca, mas à descrição de vivências, de sentimentos e de fantasias dando a sensação de que só poderiam ter ocorrido naqueles lugares, naqueles tempos e nunca transpostos para outras paragens, sejam elas geográficas ou do coração.
No meio de tudo isto Dafne é uma figura especial, é uma espécie de ser que toda a criança inventa como companheiro invisível e secreto de brincadeira, só que o autor Ballester o transportou com ele até à idade adulta fantasiando no romance sobre a sua própria fantasia de criança.
Não há dúvida de que os grandes escritores não escrevem maus livros, embora possam ter ligeiras quebras. Em "Dafne e outras fantasias", de 1982, quarenta anos passados sobre a publicação do primeiro romance, Javier Mariño, Ballester parece renunciar à inovação e executa um mero exercício de estilo (ou o regresso a um estilo).
Gonzalo Torrente Ballester é um dos meus escritores preferidos e inspiradores do qual realço os "Prazeres e as Sombras", as "Crónicas do Rei Pasmado", o mirabolante "A Branca de Neve vai à escola" e "A ilha dos jacintos cortados" (que é um dos suportes da minha teoria de que o ambiente condiciona a obra do autor: à época, o autor vivia nos Estados-Unidos onde leccionava e o livro é escrito muito ao estilo americano).

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