20 novembro 2012

VISAO DA ACTUALIDADE DA SEMANA

- Greve Geral 14N: Por muito que custe, a greve tem hoje em dia um efeito prático muito restrito. As greves têm efeitos quando prejudicam directamente patrões do sector privado, ou quando prolongadas afectam profundamente os cidadãos. Sendo os grevistas maioritariamente provenientes do sector público, onde não há nenhum dirigente que se sinta na obrigação de resolver os conflitos laborais, e com paralisações de um dia, como o caso do dia 14, as consequências de uma greve esbatem-se e tendem a perder o significado. Fica o protesto e a contestação ao governo - justificada e legítima - e sobretudo a união dos movimentos sindicais da Europa, nomeadamente os dos países do sul.

- Carga policial: Uma actuação policial firme impunha-se depois de desordeiros provocarem distúrbios em frente da Assembleia da República no fim da manifestação da CGTP. No entanto, o tempo que a Polícia de Intervenção aguentou uma chuva de pedras não foi um sinal de sensatez, mas sim do seu contrário, permitindo, impassíveis, que o património público fosse destruído. Se pretendiam que os desordeiros caíssem numa cilada, falharam. Pelos vistos, só "os" apanharam longe do local e sem certezas de que seriam os tais. As justificações dadas para a dispersão dos manifestantes (não estou a falar em desproporção, estou a referir-me a estratégia utilizada) e as detenções efectuadas, fazem lembrar a revolução dos pregos de Ângelo Correia (quem não tiver possibilidades de saber o que foi, diga, que eu depois conto).

- 6ª avaliação da troika: O "exame" periódico da troika foi genericamente o que se esperava: estão os indicadores fora do estabelecido, mas está tudo a correr como previsto e, conforme a perspicácia da srª Merkl na semana anterior, a fatia de empréstimo vai ser libertada. De relevar que não deixa de ser espectacular o modo "desemocionado", como o ministro Vitor Gaspar anuncia o sucesso/desastre do plano de ajustamento misturado o aumento de desemprego, e no mesmo tom de voz, na mesma cadência pausada, passa do estamos no bom caminho para o prolongamento demais anos da austeridade. Talvez não seja o ministro que esteja desfasado da realidade, talvez seja mesmo ele que não é real.

- Frase da semana: "A greve, embora seja", "apesar de ser", um direito constitucional...". Mais uma vez o discurso condescendente, disfarçadamente inócuo, com um direito dos trabalhadores, mostra a ideologia escondida, os emboras e apesares mais não significam "este ano é assim, mas quando refundarmos o estado a greve passa a ser proibida". A greve não é um direito qualquer, é um marco, é um símbolo, de que é legítimo e possível contrapor a um poder outro poder. A greve (mesmo com a ineficácia referida no início da crónica) deve ser interiorizada numa sociedade como um direito inalianável que não tem como seu contrário o direito a não fazer greve como nos querem fazer crer.

- Livro da semana: Liberdade, Jonhatan Frazer.

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