
Don DeLillo não escreveu sobre a crise actual, escreveu sobre a catástrofe do capitalismo, não sobre o fim do sistema (Isto é o mercado propriamente dito. Estas pessoas são uma fantasia gerada pelo mercado, não existem fora do seu âmbito. Mesmo que queiram recusar o mercado,pôr-se de fora, não têm para onde ir. Não há lado de fora.), mas do modo como consome e devora o que apanha pelo caminho. Em tom de parábola e de antecipação sociológica, debruça-se sobre a sociedade em que tudo tem cotação e é transaccionável em zeptasegyndos, tudo faz parte dos mercados desde que tenha tradução em linhas intermináveis de números a correr em ecrans. Tudo é transaccionável e tem um preço, à excepção dos sentimentos e emoções, pela simples razão de que já não existem. Por isso os personagens de DeLillo estão virados de dentro para fora, embora discorrendo sobre alguns factos humanos, não são intimistas, parecem não ter crises existenciais, são frios e incipientes.
Os acontecimentos de COSMOPOLIS desenrolam-se durante 24 horas e na viagem de carro, talvez com o significado da velocidade temporal que a tecnologia imprimiu aos mercados financeiros; ascensão e queda de um corretor multi-milionário, os mercados o fizeram, os mercados o destruíram; o cheiro a sexo atravessa o livro e as relações sexuais extraconjugais do protagonista acontecem ao longo do dia, talvez porque exista uma relação próxima entre a excitação sexual e a excitação dos mercados.
Sem dúvida, um livro a não perder, escrito por um dos melhores escritores da actualidade.
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