27 setembro 2012

Citar os Lusíadas pode ser perigoso

O Dr. Passos Coelho citou Luís de Camões, apoiando-se nos versos de Os Lusíadas, para garantir a nobreza e elevação das suas palavras (suas, de Passos Coelho). Longe de mim pensar que o Primeiro-Ministro não leu Os Lusíadas, pois é um livro que existe, mas mostrou que não conhece a Luís de Camões, desconhece a sua vida e índole, o que terá levado a não se rodear das necessárias cautelas para o apresentar como exemplo para os portugueses. Pode mesmo ser perigoso e nefasto, se não, vejamos:
Segundo consta, o dito Luís de Camões nunca foi dado a grandes esforços e trabalhos. Quando estudava(?) em Coimbra tornou-se no paradigma de outros tantos estudantes, séculos depois, que pouco ou nada roçaram o gibão ou as calças pelos bancos da universidade. Terá, possivelmente, numa de tráfico de influências,obtido o beneplácito e fechar de olhos de muitos professores, já que o tio Bento era Chanceler da Universidade.
Depois, alheando-se das formigas, tornou-se numa cigarra do Paço entre outras muitas cigarras, passando os dias, mesmo os de Inverno, a rimar doces seduções às meninas da nobreza e do povo; emigrou (talvez, segundo a cartilha de Passos Coelho, a única coisa que fez bem feita) dedicando-se a muita leitura de clássicos, ao mesmo tempo que dava mostras de lhe faltar aquela centelha do empreendedorismo inseriu-se naquele grupo pouco recomendável dos intelectuais e toca de escrever a obra onde o Primeiro-Ministro bebeu agora a inspiração; regressado a Portugal (o que um português verdadeiramente patriota nunca faria) por todos os meios tentou, e conseguiu, junto de D. Sebastião um subsídio do Reino, à custa de tantas loas cantar do Rei. Já no fim da vida, na miséria, queixava-se de não ter o Rendimento Social de Inserção, não deixando, contudo, de viver acima das suas possibilidades, pois não prescindia do seu criado Jao.

Estou em crer que é chegada a altura de alguém soprar ao Dr. Passos Coelho, não os versos de Camões, mas os de outro poeta português (outro que queria subsídios):

Governo não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

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