01 junho 2012

As Perturbações do Pupilo Torless

Robert Musil, escritor austríaco da primeira metade do séc. XX, é considerado um dos grandes ficcionistas do século passado. A elevação a tal patamar não será devida ao seu primeiro romance publicado em 1906, As Perturbações do Pupilo Torless.
Musil, formado em engenharia e matemática, explora nesta obra, de estrutura narrativa simples e linear, as inquietações intelectuais e emocionais do adolescente Torless, filho de boas famílias, que estuda em colégio interno. Estabelecendo um paralelismo entre o mistério dos números imaginários - de que modo essa abstracção pode ser real ou influenciar o modo como se observa a realidade - e o mundo obscuro das pulsões sentimentais e emocionais, o autor vai expondo o evoluir das dúvidas existenciais do jovem. Torless e mais dois companheiros, Beineberg e Reiting, passam uma temporada a atormentar outro aluno, Basini, humilhando-o e obrigando-o inclusivamente a práticas sexuais. Entre Torless, frequentador da prostituta Bozena, e Basini estabelece-se uma relação homossexual, ao mesmo tempo refutada e consentida pelo protagonista, o que o deixa perturbado quanto à realidade e imaginário dessa relação.
O romance, que vale mais pela temática do que pela energia e estética literária, insere-se numa corrente, o Bildungsroman, que descreve o processo de formação e preparação para a idade adulta, discutia as ciências sociais, a darem os primeiros passos, e os tormentos da mente que colocavam em confronto o Eros e o Thanatos, bem como as críticas feitas às instituições de ensino, normalmente em regime de internato que oprimem o desenvolvimento do indivíduo. Musil, contemporâneo e do mesmo país que Freud, não escapa à inclusão de acontecimento traumático na infância do jovem Torless e que irá ter repercussões tardias.
As Perturbações do Pupilo Torless, é um romance percursor, e que poderá ajudar a enquadrar a obra maior de Robert Musil, Um Homem Sem Qualidades, bem como o romance de outro autor, começado a ser escrito em 1912, A Montanha Mágica, de Thomas Mann.

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