13 fevereiro 2012

O MARIQUINHAS PÉ-DE-SALSA

Mariquinhas pé-de-salsa era a nomeação mais utilizada nos meus tempos da primária (idos de 50) para achincalhar o medroso que recusava portar-se como um homem e que do queixume fazia a sua tábua de salvação em situações de aperto. Mas aos mariquinhas pé-de-salsa não se lhe exigiam actos de heroísmo e de abnegação, quando muito o cumprimento dos serviços mínimos, normalmente em matérias de virilidade e de força. No código de honra da canalha (aqui entendida como miudagem) daquele tempo era impensável apodar de mariquinhas pé-de-salsa aquele que se queixava de algum acto atentatório que lhe fosse imposto; não se usava a terminologia em vão, sob pena de retaliação feroz do visado.
O mariquinhas pé-de-salsa tinha um primo em primeiro grau: o vidrinho-de-cheiro, que largava lágrima ou choro desalmado à primeira contrariedade, que chorava quando o aborreciam, que amuava quando o criticavam. Em termos de hierarquia, o vidrinho-de-cheiro estava abaixo do mariquinhas pé-de-salsa.

Ser apelidado de piegas não aquece, nem arrefece; não se sabe se é sucedâneo do mariquinhas pé-de-salsa ou vidrinho-de-cheiro; não é insulto; tão pouco será de perder grande tempo com o assunto. O problema é que quem chamou piegas não quis apelar ao amor-próprio e auto-estima, mas dizer: não me chateiem, comam e calem; pior, não quis dizer, não se queixem com os sacrifícios já impostos, pretendeu significar que todas as imposições futuras devem ser aceites e consentidas com um cerrar de dentes, se não mesmo com um sorriso nos lábios.

Ah, é bom lembrar outra característica do mariquinhas pé-de-salsa: desenvolvia um secreto desejo de vingança, que muitas vezes era concretizado. Esperemos para ver como se comporta o piegas.

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