31 janeiro 2011

"O DESERTO DOS TÁRTAROS" e a Revolta de 31 de Janeiro de 1891


Passam hoje 120 anos sobre a data da primeira tentativa armada (espero que Vasco Pulido Valente esteja atento a este blogue para o zurzir caso a afirmação seja menos precisa)de implantação da República em Portugal. Também conhecido pela Revolta dos Sargentos, o acto revolucionário, que teve lugar no Porto, falhou, rezam as crónicas, devido à falta de preparação, fruto da impaciência dos adeptos da acção imediata (que os há em todo lado).

Sobre este facto histórico muitos apontamentos, sem dúvida, aparecerão hoje na net. O que 31 de Janeiro de 1891 me faz lembrar, por oposição, é o romance de Dino Buzzati, "O DESERTO DOS TÁRTAROS". Aí é contada a história do oficial Giovanni Drogo que é destacado para um posto avançado na fronteira do deserto, outrora reino dos Tártaros. O recém-oficial passa uma vida solidão com o resto da guarnição, repetindo todos os dias os mesmos passos, com o objectivo último de serem os primeiros a fazer frente a uma eventual invasão inimiga.
O oficial todos os dias vigia o deserto e vigia a sua vida à espera que aconteça o único facto que lhe dá sentido: combater o inimigo e cobrir-se de glória.
Passam-se longos anos sem que ocorra um acontecimento de relevo, a não ser uma nuvem de poeira, muito ao longe, que poderá indiciar movimentações de tropas inimigas.
Dino Buzzati tem a mestria de transmitir a paciência imensa, que chega a ser exasperante para o leitor, dos homens que esperam que o destino que procuram venha ter com eles, que levados pelo seu carácter, pela formação (neste caso militar), pelo contágio de outros homens que pensam e sentem de modo igual, ponderam as decisões em demasia.
A vida, que não é boa de se assoar, acaba por trair o oficial Giovanni Drogo, não recompensando a sua paciência.
Daí, esta minha convergência entre o romance, onde a decisão falha devido à opção pela espera, e a Revolta do 31 de Janeiro, em que a decisão apressada leva à derrota.
Quando, como, sabe um homem o que decidir?
A única certeza que tenho é que, qualquer que seja a decisão, por quantos seja suportada, um homem decide sempre sozinho.

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