09 novembro 2011

ESTAMOS TODOS A COMENTAR ACIMA DAS NOSSAS POSSIBILIDADES

É espantosa a velocidade com que comentadores e analistas políticos e económico são obrigados a fazerem piruetas analíticas, dar o dito por não dito ou a meterem a viola no saco.

Ainda há seis meses - é verdade, só seis meses - eramos bombardeados com o desfasamento da realidade do Eng.º José Sócrates, como causa de todos os males que aconteciam ao nosso país; depois de o terem derrubado, o cancro era o malvado modelo de Estado Social e a demografia; a seguir, a culpa era do despesismo não produtivo que remontava, num passado ainda não muito distante, à governação do Prof. Cavaco Silva; finalmente, atiraram-se à falta de liderança europeia que deixa países caírem, um a um, até os mercados chegarem, não às portas de Roma, que para eles já é cidade aberta, mas às portas de Brandeburgo. Dizem que aí a Alemanha vai tomar uma atitude.

Comentando apenas o passado e fazendo-o à luz do presente de hoje, porque amanhã já pode ser diferente, parece-me evidente que por falta de visão, por interesses pessoais, por mimetismo, por chantagem, por imposição, ou simplesmente porque era mais fácil, os governantes europeus hipnotizados por uma miragem de dinheiro fácil, crescimento continuando e imparável, se deixaram enredar numa teia tecida laboriosamente pelos mercados que ganharam dinheiro com dot.com's, com especulação imobiliária, com crédito a rodos a famílias, empresas e Estados, e que agora ganham mais dinheiro com dívidas soberanas, com o arrasamento do valor bolsista das empresas para puderem ser facilmente adquiridas. Os governantes viveram (fizeram-nos viver)pelas razões apontadas no logro de que a alavancagem das economias mais débeis da União Europeia era a solução para duas necessidades opostas: o escoamento de tecnologia e de excedentes de países ricos para países menos desenvolvidos prometendo-lhes que um dia chegariam a ricos. Mas, mesmo muito do dinheiro que os países ricos despejaram nos países mais pobres ou menos ricos, não lhes pertencia. Foram buscá-lo aos mercados a um juro mais baixo e emprestaram-no com um adicional de ganho. E o mal foi alguém ter dito, agora quero que me paguem, onde é que está o dinheiro real? (caso paridigmático é o sub-prime nos Estados-Unidos).

Este é o sistema em que nos enredámos. Este é O sistema. É muito difícil sair daqui e mais difícil é quando não se vê o rosto do suporte deste sistema: os mercados. Já ouvimos dizer que são pessoas. Mas, já alguém entrevistou alguma dessas pessoas para se saber o que pretendem (para além de ganhar dinheiro)? Que eu saiba, não. Os mercados são o mais antigo grupo de Anonymous que ocuparam a nossa vida.

Qualquer comentário sobre o futuro e sobre possíveis soluções pode falhar redondamente, e falhará por certo se continuarmos a utilizar os mesmos instrumentos de análise, por isso os comentadores e analistas que andaram (e que andem) armados em pitonísas são, também eles, fonte do problema. É, pois, caso para dizer: estamos todos a comentar acima das nossas possibilidades.

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