30 janeiro 2012

O 1º de Dezembro


O governo vai acabar com o feriado do 1º de Dezembro. Das razões mais apontadas para o seu términus é a da data não ter qualquer significado porque a memória do povo já não abarca tamanha distância temporal e a Independência Nacional é um dado adquirido, e que venha de lá o mais pintado pedir meças em solidez de fronteiras (Olivença àparte).

Porventura terão razão, pois regularmente somos brindados com entrevistas que supostamente pretendem ser demonstrativas da ignorância da História Pátria, dando os inquiridos a entender que feriado é dia de descanso e não de qualquer comemoração ou rememoração de como aqui chegámos como Nação e Povo.

Relembremos alguns antecedentes da reposição da Independência Nacional.

- Discutia-se à época se Portugal tinha perdido a soberania, ou não. Diziam que não porque os Filipes eram obrigados a jurar como reis de Portugal, mantendo assim o país a sua independência, só que governado pelo mesmo monarca de Espanha que impunha a sua política de finanças.
(Talvez a situação tenha semelhanças com a actualidade, pois uma "contabilista" espanhola, a duquesa de Mântua, tomava conta "disto", acolitada por alguns nobres mais subservientes ou com olho nalguma prebenda).

- Os Filipes distribuíram benesses pela aristocracia portuguesa, especialmente pela Casa de Bragança, por ser a mais directa putativa pretendente ao trono, para manter a "paz social" e suster outras veleidades. Talvez não se devesse ao acaso o facto de D. João de Bragança (futuro D. João IV) ser o comandante do exército português e, diz-se, um dos mais ricos, senão o mais rico, nobre da Península.
(Possivelmente não terá sido muito diferente das nomeações para a CGD, EDP, Águas de Portugal, privatizações, código laboral...)

- Os Habsburgos, nomeadamente o ramo espanhol que mandava, ou pretendia mandar, em meia Europa (uma espécie de Comunidade Europeia), viram-se no período de 1600 a 1640 (para nos quedarmos no ano da nossa Independência), a braços com crises independentistas em diversos territórios sob a sua alçada e necessitavam de dinheiro e de outros meios para acorrerem a diversas lutas.
Taxaram e recrutaram os nobres portugueses. Estes recusaram-se a pagar e a integrar o exército espanhol.
(Uma crise ao contrário, hoje vários territórios não pretendem a "independência" mas a continuidade da integração na CE e hoje quem se recusa a pagar são os senhores e há um suserano que também já não consegue pagar).

- Diversas manifestações de revolta tiveram lugar antes de 1640, a mais famosa a do "Manuelinho", em Évora, em que as populações se recusaram a pagar impostos e queimaram os livros das finanças. A razão das rebeliões pouco ou nada teve a ver com grandes tiradas patrióticas, foi a mais prosaica possível: a austeridade e asfixia imposta pelo jugo estrangeiro.
(Parece que nem de propósito, a História repete-se, ou pode vir a repetir-se).

- D. João de Bragança recusou até à última hora assumir-se como chefe dos 40 conjurados. Sentiu sempre relutância em afrontar o "senhor" estrangeiro. Os próprios 40, evitaram sempre o envolvimento do povo, porque o que os movia talvez não se prendesse com grandes desígnios nacionais.
(Hoje, Portugal submete-se aos ditames do eixo Berlim-Berlim, perdão Berlim-Paris, e não há qualquer envolvimento do povo, que não seja pagar).

A melhor maneira de comemorar o próximo dia 1º de Dezembro talvez seja lembrar ao governo esta parte da História, principalmente a deposição (nada de defenestrações ou execuções) dos "contabilistas". O Povo para fazer História não precisa de feriados (embora se vote em dia de descanso semanal).

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