29 fevereiro 2012

Este País Não É Para Velhos, Cormac MacCarthy, Relógio d Água

Um mero acaso leva um homem, ainda jovem, a encontrar mais de dois milhões de dólares, droga e uns quantos mortos numa zona fronteiriça do Texas com o México. A partir daí desenrolam-se perseguições e fugas, mais mortos, sheriffs, gente que quer fugir (interiormente) mas não têm yara onde, mais mortos.
Diz-se que Cormack MacCarthy, em "Este País Não É Para Velhos", adaptou o western aos tempos modernos. Porventura, não. O autor descreve, isso sim, o western da actualidade que está impregnado até ao tutano da matriz do Velho Oeste.
"Este País Não É Para Velhos" é um livro estranho que nos faz balançar entre a vontade de o pôr de lado, ou de o ler até ao fim porque debaixo de alguma frase, dentro de um dos capítulos que se intrometem na narrativa, pode estar a revelação. A revelação de quê?, pergunta-se. A razão pela qual a América (ou pelo menos parte dela) chegou até ali. Ali, onde a vida humana não tem valor,em que está literalmente dependente de cara ou coroa, em que o tráfico de droga e outras criminalidades são o único motivo para se estar vivo e se estar morto. A razão pela qual a América não é para velhos.
MacCarthy expõe as suas razões - longamente - através dos pensamentos e estados de alma de um sheriff, e dos diálogos, monótonos, em tom desprendido, em que as personagens quase que estão em permanente desconversação. E aflora as eventuais causas: umas gerações massacradas nas guerras travadas na Europa? No Vietnam? A mentira, a ausência de motivações, as frustrações? O autor parece esquecer, ou eventualmente pretenderá conferir outro rumo, ao que já tinha dito em "Meridiano de Sangue": o Velho Oeste sempre viveu assim, mingado de Lei e Ordem, quando muito, uma lei e uma ordem impostas por quem tomou o poder, e sempre cresceu com recurso à violência mais brutal. Nos dias que correm no outro lado da fronteira, em Juarez, no México, a coisa é ainda muito pior.
"Este País Não É Para Velhos", escrito em dois registos - o da história da perseguição e mortes, e o do pensamento filosófico do sheriff - é, em certa medida, um romance falhado, porque não consege conciliar, nem colocar nitidamente em confronto, as duas abordagens da questão: a do pragmatismo da violência, ou a desistência de uma sociedade com valores, ética e moral Um romance escrito em tintas carregadas e duras, fica-se nas meias-tintas nas respostas.

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