29 março 2012

Millôr Fernandes

Millôr Fernandes acompanhou-me na juventude no suplemento do Diário Popular, numa secção humorística. Supostamente humorística. E eu estranhava que o lápis-azul da censura não riscasse por ali e deixasse passar muitas daquelas piadas, sobretudo muitos daqueles pensamentos libertários (também ao certo, os leitores não conheciam em concreto quantas vezes o tal lápis necessitava de ser afiado).
No que há época me foi dado ler, não me lembro, porventura porque não as detectava, de muitas críticas abertas ao regime e governo brasileiro (e por maioria de razão, ao regime ditatorial português), mas não levei muito tempo a perceber que essencialmente nos denunciava a nós, que nos remetíamos ao comodismo de não nos libertarmos da nossa abulia cívica, da recusa da ideologia fácil, e da renegação da falsa moral, e que era esta apatia política e social o mais perigoso apoio de regimes autocráticos e das ideologias de pensamento unificado.
Hoje, temos uma plêiade de humoristas que desancam - com muita graça - nos governos, mas deixam-nos de fora, como espectadores que têm como única fuga a crítica ao governo. MIllôr Fernandes não era um humorista, era um cínico, um sarcástico, que nos abanava na espreguiçadeira.

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