01 abril 2011

Eleições, é óbvio, meu caro Watson.

O Presidente da República marcou eleições para a Assembleia da República para 5 de Junho. Depois do ouvidos os partidos, o povo português só esperava que fosse anunciada a data. E só esperava isso, porque sabe que pouco mais poderia esperar do Prof. Cavaco Silva, por força das circunstâncias, mas muito pelas características pessoais do próprio.
O PR fez o que todos nós andamos a fazer, e cada vez mais somos instigados a fazê-lo: escolheu a fuga para a frente. O PR cingiu-se ao óbvio e ao estritamente racional (não esquecer que a razão pode ajuizar bem ou mal).Talvez nós o possamos fazer, mas o Presidente não pode.
O Presidente que declara, e com propriedade, que os poderes do cargo que exerce são limitados - legalmente limitados, diria eu - teve nesta situação a grande oportunidade, de dois mandatos, de mostrar e demonstrar a autoridade moral que lhe advém do cargo que ocupa fazendo uma tentativa,mesmo que derradeira, de entendimento nacional, não apenas apelando aos partidos, mas a outras forças vivas da sociedade, que pudesse levar a uma solução credível de esforço conjunto e concertado.
O Prof. Cavaco Silva, calculista, irá utilizar a sua influência de magistratura activa após eleições promovendo a criação de um Governo de apoio quantitativamente maioritário, e qualitativamente maioritário nas grandes linhas de resolução da crise. Só que pretende fazê-lo em torno do PSD,pois antes de eleições teria que o fazer em torno do PS (o recurso a independentes seria demasiado moroso e frágil).
A actuação do Presidente, desde o fatídico dia de declaração expressa de crise política,com o seu silêncio dizendo apenas que lhe deixaram pouca margem de manobra e a decisão de convocação de eleições antecipadas pode ser compreensível,mas deixa-nos a todos ainda mais temerosos porque ficamos com a sensação de que ninguém quer enfrentar os problemas de frente. (Numa breve nota, os portugueses não entendem que a visita de altas individualidades estrangeiras se possa sobrepor à crise, mesmo que os protocolos de Estado assim o exijam).
Daqui para a frente também não haverá grandes surpresas, todos sabemos o que nos espera, seja qual for, e por que margem for, o vencedor das próximas eleições: drásticas restrições, perda de rendimento e de qualidade de vida. Aos políticos e próximos governantes cabe apenas uma tarefa: reganhar a confiança interna e externa em Portugal.

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