16 maio 2011

"A Ponte sobre o Drina", Ivo Andric, Cavalo de Ferro


Ando atrasado nas leituras mas a pilha de livros vai-se acumulando como em construção de ziguarate de Babel na direcção o céu. Desde que escrevo também a velocidade de leitura se tornou mais lenta estudando os textos e muitas vezes mastigando-os lentamente fazendo perdurar o sabor.
Daí o meu atraso nas opiniões sobre livros, daí só agora a leitura de um livro que todos recomendavam: "A Ponte sobre o Drina".

"A Ponte sobre o Drina", romance da autoria de Ivo Andric laureado com o Nobel em 1961 conta-nos a história de um povo, da região da Sérvia e Bósnia-Herzegovnia, que congrega diversa etnias e religiões turcos - europeus, judeus,ciganos - mas que eram um único povo ao longo de vários séculos partindo de pequenas histórias (poderia até ser considerado ser um livro de contos)- passadas desde a os tempos da decisão de construção da ponte no séc. XVI - e que é o elemento catalisador e agregador - terminando em 1914. E são histórias, episódios, de gente do povo, não dos poderosos.
Ivo Andric conta as historias na linguagem simples das lendas e narrativas que poderiam ser contadas oralmente (provavelmente o autor terá até passado a escrito o que a oralidade lhe transmitiu) pelas gentes nas Portas da Ponte. Sem análise histórica, sociológica ou política (não seria provavelmente essa a pretensão de Ivo Andric)a maior virtude do livro é a sua harmonia e equilíbrio do princípio ao fim, porquanto não é fácil elaborar um romance fazendo a compilação de histórias tão distintas dando-lhe uma sequência onde parece que todas as personagens se conhecem e habitam o mesmo espaço durante todo o tempo. É daqui que resulta a ideia de povo, as histórias deixam de ser daquelas pessoas para passarem a pertencer a toda uma mole humana que é o povo daquela região dos Balcãs.

Não conheço a restante obra deste autor (em português só existem este e outro romance, "O Pátio Maldito") de modo a emitir um juízo sobre a justeza da atribuição do Nobel, no entanto este "A Ponte sobre Drina" não terá tido sido daqueles livros que mais contribuiu para o prémio. A ler, se não houver outras prioridades com melhor garantia.

Como nota: seria a todos os títulos recomendável que os textos de contracapa não fossem tão gongóricos nos termos - pertence à categoria das obras incontornáveis da literatura mundial - porque resultam bacocos e pouco correspondem à verdade.

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