04 julho 2011

"Há mar e mar, há ir e voltar", Alexandre O' Neill

No que à poesia diz respeito assemelho-me à minha condição de crente da religião católica: sou, mas não pratico. No entanto, de quando em vez, lá vou a uma missa e faço visitas regulares (esparsas) à Nossa Senhora do Monte; tal e qual como na visita à poesia, de vez em quando leio alguma coisa numa livraria e lá peregrino a uns livros que tenho em casa.
Eu, pecador, confesso que me penalizo mais pela segunda falha do que pela primeira.

Estando em fase de finalização do meu terceiro romance, deliberadamente pus de parte a leitura de prosa para não ser influenciado pelo estilo de qualquer autor. Incapaz de passar sem ler -leio até nos jornais o casamento do príncipe do Mónaco -, virei-me, então, para a poesia: Jorge Luís Borges e Eugénio O' Neill (esse mesmo, o do Cherne).

Não tenho para com a poesia a mesma arrogância que tenho para a prosa: sinto-me incapaz de fazer crítica literária de qualquer obra poética. O que sei de poesia é empírico e sendo a ignorância a mãe de todos os atrevimentos permito-me, então, tecer as seguintes considerações:

1 - Os poetas portugueses são na sua "arte" melhores do que os prosadores.

2 - Com o tropismo para Pessoa secámos (alguém seca) o resto da poesia e dos poetas.

3 - Sem nenhum estudo "científico" (nos Estados-Unidos já haveria uma estatística), estou em crer que a maior parte dos jovens começa por escrever em verso, porque mais curto, a sensação de menos trabalhoso, uma rimas e a "coisa" fica composta. Porque não aproveitar e desenvolver este gosto inicial?

Os livros de poemas não os leio em sequência "paginal"; folheio o livro e vou parando naqueles que me parecem mais interessantes. E depois volto atrás, para ler os mesmos (que na nova leitura já são outros), para ler os que ainda não li, para deixar inacabados os que não gosto. Assim vou percorrendo Poesias Completas Alexandre O' Neill.

Na poesia de O' Neill detecta-se o espírito rebelde, irreverente, a inteligência acutilante, mordaz, a observação para além da realidade, ou não fosse ele um poeta surrealista.

SENTENÇAS DELIRANTES DUM POETA PARA SI PRÓPRIO EM TEMPO DE CABEÇAS PENSANTES

6.
Uma palavra e, as vezes, a melhor argamassa.
Perguntas me o que deves fazer com a pedra que
Te puseram em cima da cabeça?
Não penses no que fazer com. Cuida no que fazer da.

E provável que te sintas logo muito melhor.

Sai então de baixo da pedra

7.
Onde houver obras publicas não deponhas a tua obra.
Poderias atrapalhar os trabalhos.
Os de pedra sobre pedra, entenda-se.

Mas da sempre um Bom dia! Ao pessoal do estaleiro.
Uma palavra é, às vezes,a melhor argamassa.


Definitivamente, tenho de me tornar mais praticante. Na agenda: António Pina (claro) e Pires Cabral.

1 comentário:

  1. Carlos, em cima não será Eugénio O'Neil; Poderá ser Eugénio (de Andrade) e O'Neil? Ou seria Alexandre O'Neil?

    Quanto à poesia eu adoro praticar e até comungar. E não só ao Domingo.
    Um abraço.

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