23 agosto 2011

Bem-aventurados os que só têm quatro canais generalistas, pois deles será o reino dos Céus.

Passe-se uma semana em zona de veraneio em casa com televisão só com canais de sinal aberto e facilmente se intui que se Cristo voltasse à Terra o Sermão da Montanha teria de ser actualizado. No conhecido sermão Cristo oferece a todos os desafortunados e sofredores terrenos um bem maior na vida eterna do que o que à partida está reservado aqueles que nesta vida são cumulados de benesses e riquezas.

Provavelmente rezaria assim:
Bem-aventurados os que só podem ver o Goucha, a Júlia Pinheiro, o Carlos Alberto Moniz, o Jorge Gabriel, a Fátima Lopes; bem-aventurados os que só têm para ver telenovelas sempre iguais e concursos destinados a humilhar os concorrentes; bem-aventurados os que só podem escolher entre filmes do Van Damme, Vin Diesel e Steven Segal; bem-aventurados aqueles que são perseguidos por séries de desenhos animados japoneses; bem-aventurados os que levam com as séries dos C.S.I., Investigação Criminal de seasons (é assim que se diz, não é?) fora de época.
Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa na RTP2 (que já teve muito mais qualidade do que tem hoje).

Durante uma semana, em dois canais de sinal aberto públicos que merecesse ser visto, para além de poucos minutos dos noticiários, apenas se aproveitou um documentário sobre a Terra (tipo BBC)no segundo canal.Todo o resto, uma inigualável miséria franciscana, sendo certo que os Franciscanos são pobres por opção e não têm déficite (e tu, ó intelectual da treta, ó snob, está calado, se não gostas, não comas).

Dir-me-ão que as férias são os períodos que aproveitamos para fazer outras "coisas" e para deliberadamente não fazermos algumas "coisas", como ver televisão. Mas a RTP não "mete" férias, todos os meses me cobra uma taxa de difusão (na factura da EDP) tenha ou não tenha aparelhos receptores, e ao longo do ano mantém uma programação idêntica polvilhada com uns debates, e brinda-me com umas transmissões directas de touradas e do jogos de futebol que ajudo a pagar com os meus impostos. É isto serviço público? Não, e se é para continuar com esta programação, não há que hesitar, privatize-se a RTP, porque caso se privatize o canal 1, a diferença será apenas no regresso das telenovelas ao canal-mãe e aumento dos espaços publicitários.

Há apenas que definir Serviço Público de Comunicação Social. E nomeada que está uma Comissão presidida pelo Dr. João Duque (minimalista dos serviços públicos) esta tem apenas que superar as seguintes provas de redacção:
1 - Definir um Serviço Público de Televisão que encaixe na RTP e não o oposto;
2 - Ao contrário de outros serviços públicos, água, electricidade, vias rodoviárias e ferroviárias,etc, em que a exigência dos consumidores vai no sentido de uma maior qualidade, no serviço público de comunicação social as direcções da vontade da esmagadora maioria do público e do que se pretende (?) seja a nobreza (?) do serviço público, se não são opostas, são bastante divergentes.

Não me parece um trabalho de grande monta esta tarefa da Comissão, é um trabalho à partida facilitado porque não há nada para inventar que não esteja já inventado. E, para que a sua tarefa fosse verdadeiramente aligeirada falta-lhe apenas ter Jesus Cristo como membro com a incumbência de prometer uma televisão generalista melhor...no Reino dos Céus.






Sem comentários:

Enviar um comentário