29 agosto 2011

"O Cemitério de Praga", Umberto Eco, GRADIVA

Umberto Eco não é um escritor, não se confina a ser apenas um escritor. Umberto Eco é um homem de Cultura, e de certeza que o sabe melhor do que ninguém. A escrita, nomeadamente a forma romanceada, para Eco não é um fim, mas tão simplesmente um meio, como o são as conferências, as aulas, as investigações, para explanar e partilhar todo o seu profundo saber e conhecimento.

E Umberto Eco, que tem dedicado grande parte da sua vida à interpretação dos sinais, nas suas obras de ficção, ele molda a História à luz dos sinais que dos factos e documentos que são conhecidos, e deixa o leitor sempre naquela perspectiva de que a História, tal e qual a conhecemos, poderá ter advindo de outras causas para além das oficiais e que a História poderia ter sido outra, se outras "inverdades" fossem tidas em consideração. E Umberto Eco não é tido como escritor, é uma personalidade de Ciência, pelo que os seus escritos, mesmo que romanceados, são considerados obras "científicas", logo com a carga de "verdade" que se julga inerente aos factos científicos.

Em "O Cemitério de Praga", que se desenrola nos finais do séc. XIX, o autor leva-nos,mais uma vez, ao reino da "outra verdade" - um falsificador de documentos, uma personagem com dupla personalidade, duplicidades, dissimulações, mentiras, espiões, seitas -, em que a História, ou seja os grandes acontecimentos da Humanidade, estão tão à mercê das grandes figuras, como de um notário perito em falsificação de documentos e ávido por dinheiro, porque "não existe documento mais verdadeiro do que um original falso".

O personagem principal, Simonini, o falsificador, é o único personagem ficcional que se move entre todas as figuras reais da época (poder-se-á perguntar se essas personagens não passam também à ficção quando contracenam com Simonini) e que dá corpo ao desenvolvimento de uma teoria da conspiração dos judeus para controlo do Mundo e de uma luta anti-semita e anti-maçónica levada a cabo pela Igreja. Os meios próximos da Igreja criticaram com maior acuidade "O Cemitério de Praga" do que "O Código Da Vinci", de Dan Brown, porque Umberto Eco não é um ficcionista "falsário".

"O Cemitério de Praga", em termos romanescos, não atinge a maestria de "Baudolino", e se não é um romance imperdível, deve considerar-se nas prioridades de leitura.

1 comentário:

  1. Este não o adquiri ainda. Agora ando a ler um livro de um tal Carlos Machado. O Homem que morreu duas vezes. :)

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