04 janeiro 2013

Cavaco Silva vs Vitor Gaspar

Cavaco Silva sempre foi previsível - não é defeito e daí também não vem mal nenhum ao Mundo - nas suas decisões e actuações (exceptuando o caso dos Açores). E como se previa o Orçamento de 2013 foi promulgado e enviado ao Tribunal Constitucional para fiscalização sucessiva, com fortes dúvidas em algumas normas e que, porventura, nem sequer são dele porque baseadas em pareceres de reputados peritos na matéria.

E como Cavaco é previsível, sabe-se que não retirará quaisquer consequências de alguma inconstitucionalidade, como não retirou do rol de desgraças imputáveis ao governo e que elencou na mensagem de Ano Novo. Lavará daí as mãos e deixará com o Tribunal o ónus da causa de eventual chumbo com o consequente agravamento dos sacrifícios dos portugueses. Cavaco Silva espera nada ter de fazer acreditando que o Tribunal Constitucional arranjará maneira de minorar a eventual ilegalidade (a exemplo de 2012), ou caso assim não seja, dirá (se disser) que o recurso a eleições seria mergulhar o país em instabilidade - como se ela não existisse já -, com consequente perda de credibilidade junto dos credores e dos mercados, e quererá que se conclua que sempre é "melhor" ter um governo relapso, péssimo, insensível, do que fazer prevalecer o primado da política sobre a economia e fazer funcionar a democracia.

Mas se Cavaco Silva é previsível, o mesmo não se passa com a sua capacidade de previsão sobre as atitudes dos outros, que é bastante fraca. E ontem foi de certeza apanhado de surpresa com o real número 1 do governo, o ministro Vitor Gaspar, a responder à mensagem de Ano Novo, a dizer ao Presidente que ele estava errado.

Todos sabem que é ministro das Finanças quem manda no governo, mas é no mínimo deselegante que Passos Coelho tenha admitido que aquele a quem chamou número 2 tenha feito aquela cena; se Passos Coelho embarcou nesta táctica para se resguardar nas afrontas ao Presidente da República saiu-se mal porque perdeu toda a autoridade perante o país, perante as instituições e perante o parceiro de coligação (oposição parlamentar deveria exigir que no próximo debate quinzenal na Assembleia da República, fosse Vitor Gaspar o principal interveniente da bancada do governo).

Mas aqui reside, possivelmente, a faísca capaz de tornar 2013 no ano em que o Presidente despede Passos Coelho, et pour cause Vitor Gaspar. Se há coisa que Cavaco Silva não suporta é que ponham em causa a sua sabedoria e certezas económico-financeiras. Se Vitor Gaspar voltar a falhar as previsões e as receitas para a economia, Cavaco Silva poderá estar disposto a acertar contas com ele.

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