20 março 2011

"Património", de Philip Roth, D. Quixote

Propositadamente não coloquei este post ontem, Dia do Pai, dia que se quer simpático, festivo, com prendas e sorrisos.
Depois do jantar em família de ontem, ainda em evocação ao Dia do Pai recomendo hoje a leitura de "Património", de Philip Roth, livro onde o autor norte-americano rememora os últimos anos da vida do seu pai em luta com a velhice, o sofrimento e a doença. O filho acompanha de perto sofrendo com o pai.
Embora Roth não seja dos meus autores americanos preferidos, é inegável que este "Património" é uma obra poderosa. Esta definição "obra poderosa" em opinião literária tem pouco ou nenhum significado. No entanto, uso-a com sentido de que é uma obra com um poder (uma narrativa) imensa de nos fazer enfrentar questões que todos tentamos esquecer até à hora em que a realidade se apresenta na sua plenitude. Questões como:
- A relação pai/filho prolonga-se até onde? Em que medida é que a dor física reforça ou destrói os afectos. O complexo de Édipo, em que o filho "mata" o pai para se libertar, inverter-se-á no fim da vida do progenitor, na medida em que o filho não quer que o pai sofra e acabe por morrer?
- Na civilização ocidental a morte quer-se asséptica e liofilizada. Já só se vê o morto depois de arranjado pela funerária. Tendemos, no entanto, a esquecer, ou não querer lembrar que os dias, por vezes muitos, que antecedem a hora fatídica são de uma dureza atroz e que as pessoas cada vez menos estão preparadas para cuidar dos velhos. Então o que fazer com eles?

Philip Roth em "Património" revela o seu testemunho pessoal com o pai, Herman Roth, numa escrita realista e directa a que o leitor não ficará indiferente. Assim tenha entranhas suficientemente fortes para aguentar o livro até ao fim.

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