19 fevereiro 2011

Maigret e ...", de Georges Simenon

Prometi que um dia destes comentaria sobre o meu dilecto inspector policial da galeria dos mais conhecidos: o Comissário Maigret.

O Comissário Maigret, personagem ficcionada por Georges Simenon que aparece em cerca de 100 novelas é um daqueles filões em que autores e editoras têm a sorte de tropeçar um dia. Os leitores adoptam a personagem como membro da família, ou como vizinho que cumprimentam e com quem falam com familiariedade. Estou em crer que Simenon produziu Maigret por razões económicas e não exclusivamente por razões literárias. Nada de criticável, a não ser a destruição do nosso ideal de artista que produz arte pela arte e que despreza o dinheiro e os caros prazeres da vida .
E, Senhor, quando começa a dar dinheiro é tão fácil cair em tentação e não se mata a galinha dos ovos de ouro. Hoje a mina a explorar parece ser a dos vampiros.

A minha predilecção pelo Comissário Maigret vem da caracterização da personagem, muito mais próxima do inspector de polícia normal: funcionário de uma instituição (não que cumpra o horário das 9 às 5), lento na acção, falsamente displicente no raciocínio, que baseia na lógica, na intuição, na argúcia (e não nos novos métodos tecnológicos de investigação - ainda nem existia a identificação do ADN). Vive uma vida própria rotineira, é casado com Madame Maigret, tiveram infortúnio de filha falecida à nascença, bebedor com alguma tendência para o vício, fumador de pipe (cachimbo) que terá pedido emprestado ou mesmo surripiado ao seu criador, Simenon. Vive, ou faz transparecer que vive, num estado de abatimento, talvez depressivo, permanente.

Como outros autores de "policiais" Georges Simenon também arranja para Maigret um contaponto para que o protagonista possa expor as suas teorias e sobretudo a sua experiência e capacidade superior de raciocínio. Neste caso, ao invés dos Dr. Watson, tratam-se de figuras normais como os companheiros de trabalho (policiais menos categorizados), ou por vezes a Madame Maigret, esta batendo-o aos pontos em matéria de argúcia.
Maigret tem ainda uma propensão que convém ao leitor não descuidar enquanto lê, que é a sua "quase simpatia" para com o criminoso. analisando o móbil do crime pelo lado psicológico e tentando perceber que "desgraças da vida" terão "forçado" o culpado a cometer o delito.

O autor tem ainda o cuidado (não sei se consciente) de criar em todas os romances um ambiente cinzento, desconfortável, frio (a que não é alheio o sobretudo de Maigret, que usa mesmo em tempo quente), e de nos ser capaz de incluir na história. Não será difícil imaginarmo-nos a beber um pastis e a discutirmos pessoalmente o caso com o Comissário.

Estava tentado a não fazer uma recomendação. "Maigret e porto das brumas", um gosto muito pessoal, mais nada.

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