15 junho 2011

"As Aventuras de Augie March", Saul Bellow, Quetzal


Augie March é um anti-herói que vive em Chicago os anos da Depressão norte-americana. É um anti-herói porque não se inibe de recorrer aos subterfúgios, às artimanhas e até à criminalidade para trepar na vida. Mas é um anti-herói porque também não faz da ascensão social uma obsessão e parece estar-se perfeitamente nas tintas para o "sonho americano". Além disso, Augie March não pertence àquelas famílias de outros romances de outros autores que caídas na miséria extrema percorrem os EUA em busca de trabalho em condições abaixo de cão; ele não vive essas dificuldades, andando sempre com dinheiro no bolso à custa da avó, do irmão, dos amigos,mulheres ricas, dos crimes que ele desvaloriza porque não os considera graves já que não pretende deles fazer a sua forma de vida, são antes uma "ajuda" em determinados momentos da vida.

"As Aventuras de Augie March", publicado em 1953, relata a história de Augie com um pormenor quase exasperante que ainda não chegamos a meio do romance e já nos parece que vivemos paredes meias com ele com uma intimidade familiar.

Saul Bellow, Prémio Nobel 1976,demonstra uma enorme capacidade/facilidade narrativa e discursiva transformando factos e acontecimentos banais no enredo de uma história ziguezagueante da qual nunca se vê (nunca se espera) o fim; o autor discorre ao longo do romance como que de improviso, como se de um filme se tratasse sem que as imagens tivessem sido editadas, as historias surgem umas a seguir (em cima) das outras, ziguezagueando o escritor/(anti-)herói/leitor através delas.

A obra é demasiado extensa dando a sensação que o próprio autor se deixou levar por Augie descrevendo situações de grande semelhança (não é assim a vida das pessoas?)que dão uma ideia de repetição ao longo da história de Augie March.

A ler, se possível em inglês, porque a recente tradução de Salvato Telles de Menezes indicia que Saul Bellow não se deixou levar por Augie March, mas pela escrita e pela língua inglesa.

Sem comentários:

Enviar um comentário