13 fevereiro 2011

"O Gato", de Georges Simenon e os casos dos idosos mortos ao abandono

Os casos de três idosos sós encontrados mortos nas suas residências ao fim de bastane tempo lembrou-me um livro de Georges Simenon, "O Gato" (existe em português, possivelmente em alfarrabistas), novela que desde que a li fiquei com a firme ideia de que se debruçava sobre a solidão humana.
Trata-se da história de um casal, na casa dos 70 anos (perto da morte pois quando o livro foi escrito, 1967, a esperança de vida não é a que é hoje), partilhando a mesma habitação, deitando-se na mesma cama, apenas se comunica através de pequenas notas escritas e através das implicações mútuas contínuas. Cada membro do casal tem o seu animal de estimação, um papagaio e um GATO, e ambos se entretêm em velhacarias ao animal oposto para atingirem e magoarem o respectivo dono.
Georges Simenon descreve,com uma linearidade contundente uma relação e um ambiente em que não se troca uma palavra (falada). Por razões óbvias não desvendo o final da novela, mas digo que é uma das mais espantosas obras que li até hoje e que perante os casos citados no início deste texto me deixa na perplexidade de considerar o livro "O Gato" um livro sobre a solidão, ou se será um livro sobre dois seres humanos que, percebendo que o são, se acompanham até ao fim da vida apesar das animosidades existentes entre ambos.
"O Gato", da fase "grave" (assim denominada pelo próprio)de Georges Simenon, mostra que as sociedades modernas não podem marginalizar alguns dos seus membros (e os velhos na sociedade ocidental são cada vez mais) mesmo que os "odeiem".

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